G20 (2025) é um daqueles filmes que mostra que chega um tempo na carreira de alguns nomes veteranos em Hollywood que a pessoa quer se divertir com seu trabalho, não só fazer filme dramático, de prestígio, com possibilidades de concorrer na temporada de premiação e aqui não é diferente. Julianne Moore fez isso quando entrou para a franquia Kingsman, Meryl Streep quando entrou para a série Only Murders In The Building e agora temos Viola Davis com G20, um filme de ação barulhento que entrega uma diversão pipoca.

Good for her. Afinal, Davis vive por se reinventar em Hollywood. A atriz já fez drama, dramão, já levou o Oscar, fez filme de super-herói, fez série novelão da TV aberta americana, foi guerreira/rainha africana, e agora interpreta a Presidente dos EUA que vê a cúpula do evento que reúne as 20 nações mais poderosas do mundo (e que curiosamente vai se reunir no Brasil no final do ano para a nova edição, na vida real) ser sequestrada por terroristas.
Chegando diretamente no streaming, G20 é parte filme de assalto, parte filme de sequestro, parte Esquecerem de Mim e com algumas boas piadas sobre Davis não usar salto alto. É o melhor filme de ação/espionagem/politicagem que já tivemos nos últimos tempos? Não é, inclusive, está longe disso, mas poxa como eu me diverti com as peripécias que a atriz faz ao liderar o elenco aqui formado por outros nomes até bem conhecidos do público. O primeiro deles é Anthony Anderson, que interpreta o marido da Presidente dos EUA de Davis, temos também Sabrina Impacciatore que ganhou fama ao participar do segundo ano de The White Lotus, de Elizabeth Marvel, figurinha carimbada em séries com viés mais político como House of Cards e Acima de Qualquer Suspeita, e claro, Anthony Starr, que interpreta o Capitão Pátria na série The Boys (um dos maiores sucessos da Amazon e que aqui estrela esse longa da Amazon, para manter tudo em casa.)
E é curioso vermos Starr estar nesse filme, afinal, de certa forma a Presidente Danielle Sutton de Davis é uma versão do Capitão América, um super-herói, igual Capitão Pátria (mesmo do mal e completamente doido varrido) tecnicamente é. E aqui, Davis lidera o elenco desse filme e faz o que diversos colegas homens já fizeram ao longo de suas carreiras. E se diversos deles têm gêneros para chamarem de seu (ou seja, são nomes que estão atrelados a ficarem presos em fórmulas que tem dado certo), seja Jason Statham, Gerard Butler e The Rock, ver Davis quebrando tudo em G20 deveria ser um gênero de filme que poderíamos esperar o próximo e o próximo, sabendo já o que esperar dele.
Davis faz com essa personagem uma coisa que já vimos diversos outros atores fazerem com personagens em filmes do gênero: aquele soldado veterano de guerra que embarca numa posição de liderança política. Em G20, a Presidente Sutton é isso e Davis acerta no tom, nas motivações e no que aflige a personagem quando a agora política está prestes a embarcar para a conferência e apresentar para os países aliados, e para o Fundo Monetário Internacional, uma nova proposta financeira que vai mudar os rumos da economia global.
Diferente de Trump e sua política de taxação que causou um fuzuê em todos os mercados, na vida real, a de Sutton seria uma coisa mais agregadora e não divisiva. Um perfeito timing para G20 eu diria. O que mesmo assim, daria um trabalho para ser aprovada, já que a política chega no encontro enfrentando a resistência dos colegas antes mesmo de ouvirem a proposta do país.
E além da parte política, Sutton precisa lidar com o relacionamento frágil que tem com os filhos adolescentes, Serena (Marsai Martin vista em Black-ish e que trabalhou com Anderson) e Demetrius (Christopher Farrar) que são aqui a parte que o roteiro escrito por pelo time formado por Caitlin Parrish, Erica Weiss, Logan Miller & Noah Miller foca no lado da Sutton mais humana, mãe, e esposa, em paralelo com a Sutton política e estrategista e que dá para Davis a chance de entregar uma personagem completa e mais facetada.
Mas também, só a personagem que é assim bem desenvolvida, e acho que é muito mais um trabalho de Davis do que do roteiro, afinal, o restante são pequenos estereótipos que o longa apresenta de uma maneira até mesmo simples para esse tipo de produção. É a Secretária do Tesouro (Marvel), é o Vice-Presidente (Clark Gregg) e tudo mais. O longa tem mais figuras que orbitam a Presidente e que estão ali apenas para estarem ali. Assim, na medida que as delegações chegam na África do Sul, o lado de terroristas também começam a se movimentar, onde o líder do grupo dos sequestradores, um ex-soldado que se tornou agente privado/mercenário chamado Rutledge (Starr, realmente numa atuação que chama atenção) começa a colocar seu plano em prática.

Por mais que seja um filme de streaming, a diretora Patricia Riggen consegue usar da melhor forma que pode as locações internas do local onde o G20 (a cúpula, não o filme) se passa. G20 (agora o filme, não a cúpula) não chega a ser nada cinematográfico, mas também faz um filme acima da média do que temos visto no streaming, no gênero, e principalmente se formos comparar o que a rival Netflix tem oferecido e que basicamente nos apresenta um filme (ruim) desses por semana.
Como eu falei, o sentimento de Esquecerem de Mim em G20 é sentido, quando Sutton, o Primeiro-Ministro inglês bonachão Everett (Douglas Hodge), a chefe do FMI, Elena (Impacciatore) e a primeira dama da Coreia (MeeWha Alana Lee) estão em fuga pelos cômodos do lugar na tentativa de escapar dos bandidos com a ajuda do chefe do serviço secreto Manny Ruiz (Ramón Rodríguez).
A missão desse grupo peculiar é deixar o perímetro do local e conseguir mandar uma mensagem para a comunidade global sobre o que está acontecendo. E claro que para Sutton é tentar também fazer com que seu marido e filhos saiam com vida do lugar. O texto não é dos melhores, chega a ser simples em diversas passagens, mas é certeiro com algumas piadas, boa parte envolvendo o fato que Sutton é uma soldado com treinamento militar e que boa parte dos outros políticos não são. Mas por outro lado, seja mesmo o texto, talvez, seja o trabalho de Riggen na direção, a história ganha um sentimento de urgência na medida que Rutledge começa colocar seu plano em prática e vê o caos se instaurar no mundo quando começa a dar cabo nos chefes de Estado enquanto suas exigências são colocadas na mesa.
No meio de perseguições, tiroteios, e, como falamos, algumas piadas, G20 (novamente, o filme, não a cúpula) vai apresentar seus conflitos, suas resoluções, e algumas reviravoltas, até uma bem óbvia que não vou contar aqui, mas foi personagem x entrar em cena e falei: é isso! e foi), de uma forma bem natural para o que podemos esperar de um filme do gênero.
No final, o que temos com G20 é uma verdadeira Torre de Babel, onde diversas nacionalidades, egos e idiomas se misturam, mas que acabam por se unirem na ameaça de um inimigo comum que ao mesmo tempo é implacável e imprevisível. Ele teria conseguido se não fosse pela Sutton de Davis e aquelas crianças enxeridas que nasceram com o telefone grudado nas mãos.
G20 chega em 10 de abril no streaming do Prime Video.