E depois de fugir de um lançamento simultâneo global no ano passado, o longa Fuja (Run, 2020) finalmente estreia no Brasil. Fuja foi mais um caso de um lançamento marcado para os cinemas que acabou parando em serviços de streaming, por exemplo, nos EUA chegou pelo Hulu, e no Brasil era uma incógnita até algumas semanas. Até que apareceu no catálogo da Netflix como não quer nada, mas deve fazer uma aquisição das mais interessantes que a plataforma fez. Fuja entrega um suspense daqueles bom demais, que vai deixar o espectador com o cabelo em pé e tenso do que pode acontecer. E estrelado pela talentosa Sarah Paulson, Fuja garante boas reviravoltas até o seu último segundo.
O final de 2020 foi bom para a atriz, ela teve uma super exposição que rendeu frutos. Ao mesmo tempo que lançava a série Ratched (curiosamente lançada globalmente na Netflix), Paulson também protagonizou Fuja que acabou por estrear alguns meses depois da série de Ryan Murphy para a plataforma ter chegado. Paulson e Murphy são figurinhas já carimbadas e quase sempre trabalham juntos, mas aqui Paulson faz dupla com outra pessoa que também marca presença no mesmo gênero de Ratched, o diretor Aneesh Chaganty. E Fuja serviu para ajudar a atriz a ser seu momento nos holofotes numa época em que ainda estávamos sem muitas produções por conta da incerteza da pandemia. E bem esse lançamento lado-a-lado de Ratched (a série protagonizada por ela) e Fuja ajudou a atriz a garantir uma indicação (pela série) ao Globo de Ouro. Deu certo!
E agora depois de ter assistido ao longa fica claro o motivo, e o tamanho burburinho que o filme teve nas redes sociais no final do ano. Fuja entrega uma história de terror compactada, tem apenas 1h30 de duração, poucos cenários, e apenas foca em duas pessoas: Diane (Paulson, ótima) e sua filha Chloe (Kiera Allen). E as duas tem uma dinâmica e uma presença em tela super contagiante e realmente sustentam o filme, e sua trama meia amalucada de uma forma super interessante. Em Fuja, vemos que a jovem de 17 anos, Chloe tem quase todos os problemas de saúde possíveis (é paralisada da cintura para baixo, diabética, asmática, e tem problemas em diversos órgãos e etc) e vive sob a responsabilidade da mãe que a trata feito uma frágil rainha numa cadeira de rodas.
Diane impõe uma série de rotinas para a filha que estuda em casa, e precisa tomar seus remédios pontualmente, e vive com uma certa dificuldade para realizar as tarefas mais básicas. Nada como o amor de uma mãe, certo? Errado. O que Fuja faz é que acaba por nos entregar um suspense daqueles que se baseia na premissa que alguma coisa está errada nessa história. Assim, vemos a jovem Chloe começar a se questionar de algumas coisas agora que já começa a atingir a vida pré-adulta. É um remédio prescrito que ela acha que não precisava tomar, a vontade de querer comer um chocolate a mais após uma refeição. São essas pequenas coisas que vão se acumulando e que Fuja consegue trabalhar bem esse sentimento de tensão que é escalonado ao longo do filme.
Na medida que Chloe começa a investigar algumas coisas sobre sua condição e seu passado, o diretor Aneesh Chaganty consegue fazer o espectador ser jogado para aquela casa escura e cheia de obstáculos que Chloe, por conta de utilizar uma cadeira de rodas, precisa enfrentar. Chaganty entrega novamente passagens de segurar a respiração, assim com foi seu outro filme, o longa Buscando…., que realmente aposta na imprevisibilidade para contar essa história, mudar as coisas de uma maneira super rápida, e nos dar uma nova visão sobre os personagens como se fosse um clique. Particularmente eu destaco duas passagens que me deixaram com o coração na boca: a cena que Chloe precisa fugir do quarto pela escada e a outra que ela precisa descer as escadas para tentar acessar a internet no computador da sala.
São esses momentos que Fuja está no auge do suspense e da tensão, não só porque consegue criar toda essa ambientação claustrofóbica, mas também de o que vai acontecer aqui. Sinto que por ser um filme curto, algumas coisas passam muito rápido e o filme não entrega muitas dessas passagens como deveria e que também aposta muito na casualidade e em algumas coincidências para fazer tudo dar certo. Talvez por ter estreado depois da minissérie The Act e ter contado uma história um pouco parecida com a de Gypsy e Dee Dee Blancharde, (sem spoilers nenhum aqui), a dupla Aneesh Chaganty e Sev Ohanian tenham olhado para o próprio roteiro e retirado algumas partes. Mas isso não tira o mérito nenhum de Fuja, que consegue entregar um intenso jogo de gato e rato entre Diane e Chloe, na medida que descobrimos o que realmente aconteceu no passado das duas personagens. Ao focar no embate entre as duas, Fuja se torna uma corrida de vida e morte e que nem todo mundo vai chegar na linha de chegada. Aqui, a trama corre e nos entrega reviravoltas atrás de revelações que nos deixa atordoados com o nível de qualidade que tudo é entregue.
No final, Fuja faz um suspense na dose certa e um filme completamente alucinado e viciante. Uma ótima adição ao catálogo da Netflix e um longa obrigatório para os fãs do gênero, sem dúvidas.
Fuja disponível na Netflix.
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