quarta-feira, 18 dezembro, 2024
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Amigos Imaginários | Crítica: Esperava rir só que saí chorando

Se a intenção de John Krasinski com Amigos Imaginários era fazer rir, por que sai chorando?

A proposta de Amigos Imaginários (IF, 2024) é uma das mais interessantes que surgiu nos últimos tempos, mas ao mesmo tempo, depois de ter visto o filme, parece que tudo de legal que poderíamos ter aqui, o filme ficou apenas no campo das ideias, ou se podemos dizer da imaginação.

Claro, existe muita coisa de positivo para tirarmos de Amigos Imaginários, sem dúvidas. A primeira é que agora já é fato que o roteirista e diretor John Krasinski se firma realmente como um nome bacana (e para ficarmos de olho mais uma vez) quando pensamos em futuros projetos originais que não são sequências, filmes baseados em quadrinhos, ou livros que ele possa fazer. Afinal, se com o terror Um Lugar Silencioso (que teve sequências e um spin-off) Krasinski já mostrou para que veio, agora com Amigos Imaginários fica claro que o ator que virou diretor e roteirista não teve um acerto único e pontual e que sim ele pode escrever para qualquer público e gênero. 

Mas também com esse novo longa temos que ir com calma. Mesmo que Amigos Imaginários entregue, pelo menos no papel, uma mistura de A Fantástica Fábrica de Chocolate, com o mais recente Wonka, com algum filme da Pixar só que em live-action nem tudo dá certo aqui. O protagonista Ryan Reynolds (em alta no chamado verão americano com esse e com Deadpool & Wolverine) já até tinha falado que era esse o tom que o longa seguiria e realmente depois de assistir o filme fiquei com essa impressão. Ao mesmo tempo também que eu achava que eu ia me divertir e gargalhar com as peripécias do personagem de Reynolds, por que então eu sai meio chorando da sessão de imprensa?  

Cailey Fleming em cena de Amigos Imaginários. Foto: Photo by Courtesy of Paramount Pictures – © 2023 PARAMOUNT PICTURES

Talvez pelo fato que o marketing do filme tenta vender o que é Amigos Imaginários de uma outra forma. O que temos aqui sem dúvidas é um filme bonito, bem feito, escrito e tudo mais. Mas Amigos Imaginários é para crianças? Infelizmente não. Não é que o texto seja impróprio, ou por alguma coisa que aconteça na história que os pequenos não possam ver, apenas que o que temos é uma trama muito mais madura do que aparenta ser.

Acho que nem vale para os pequenos por conta dos amigos imaginários das pessoas feitos por efeitos especiais que ganham vida quando a jovem Bea (Cailey Fleming) se vê num momento crucial de sua vida e precisa da ajuda desses seres, que ninguém vê, para lidar com tudo que acontece com ela e que a fazem crescer e amadurecer muito rápido. Assim, na medida que o seu excêntrico vizinho Cal (Reynolds) a leva para uma aventura pela Terra dos Amigos Imaginários, a vida de Bea toma um novo rumo. Um rumo mais colorido, cantante, dançante e tudo mais que a faz sentir ser a criança que ela é na medida que os dois personagens entram “em um mundo de pura imaginação”.

O lugar onde os Migs (os amigos imaginários) que são esquecidos é onde o longa mais ganha vida e charme, principalmente quando temos Cal e Bea recrutando os outros personagens (com vozes das figuras mais conhecidas em Hollywood no original de Phoebe Waller-Bridge, Matt Damon, Emily Blunt, Awkwafina e diversos outros mais) e depois num número musical extremamente divertido, mesmo que depois o longa vá para outros caminhos. A premissa inicial não deixa de realmente ser bacana na medida que o plano de Bea, ao lado do vizinho acelerado que Reynolds imprime, e da criatura roxa gigantesca que por acaso se chama Blue (voz de Steve Carell no original e do ator global Murilo Benício na versão dublada) querem unir os amigos imaginários esquecidos com seus respectivos humanos que agora já estão crescidos e adultos.

Assim esse trio improvável parte por andar pelas ruas de Nova York tentando conectar e reacender essas amizades adormecidas. E assim, o roteiro de Amigos Imaginários escrito por Krasinski trabalha na construção dessa mitologia toda para o filme e coloca então essa jovem garotinha no meio de altas peripécias na medida que precisa ajudar seus novos colegas imaginários a terem seus novos lugares felizes. Mas como falamos nem tudo são flores aqui.

Por mais engraçado, carismático e extremamente bom ator que Reynolds seja, parece que aqui ele foi mal escalado. Afinal, depois de anos de filmes com um humor mais adulto, é difícil ver o ator em cena, sem esperar uma piadoca com duplo sentido. Deu certo no gênero quando o ator esteve em Spirited – Um Conto Natalino (2022) com Will Ferrell, mas aqui Reynolds não combina com a premissa e nem faz uma dupla bacana ao lado de Fleming (que realmente está bem).

Ryan Reynolds e Cailey Fleming em cena de Amigos Imaginários. Foto: Photo by Courtesy of Paramount Pictures – © 2023 PARAMOUNT PICTURES

Mas isso não impede de fazer com que Amigos Imaginários termine e você saia emocionado da sessão. Pelo ao contrário o roteiro de Krasinski quando se assume ser o que é de verdade e tenta se livrar de ser apenas uma comédia simpática para crianças e vai a fundo nas complexidades, nos traumas e anseios da jovem Bea, dos amigos imaginários e o que eles representam para todos os humanos, Amigos Imaginários entrega uma boa história e uma que sabe transportar para a telona uma tonelada de emoções. 

Seja das cenas de Bea com o pai (Krasinski também na função de ator), com a avô (Fiona Shaw) ou com o jovem Benjamin (Alan Kim) que vive no hospital onde boa parte do filme se passa, o longa entrega momentos lindos de se assistir mesmo que algumas cenas antes por exemplo estávamos vendo um amigo imaginário em formato de marshmallow com o olho derretendo, um urso já velinho tipo o Ursinho Pooh, ou um rato mágico com cartola.

Talvez o humor que Krasinski queria colocar em Amigos Imaginários daria mais certo se o filme abandonasse a ideia de ser um filme para a família e fosse mais uma comédia, mais comédia mesmo. De maneira nenhuma entrega um filme ruim, apenas que desenvolve camadas, questões e sub-temas muito específicos para o tipo de filme dentro do gênero que se apresenta. Fica claro que o longa apresenta momentos um pouco mais complexos para o tipo de longa colorido, com animais fofinhos feitos por computação digital e protagonizado por um talento do time A de Hollywood.

Acaba que no final, por mais criativo e imaginativo que seja, Amigos Imaginário entrega um grande potencial desperdiçado assim como metade dos amigos imaginários que são apresentados para o longa e que desaparecem da história na medida que as crianças crescem e viram adultos.

Nota:

Amigos Imaginários chega em 16 de maio nos cinemas nacionais.

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Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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