domingo, 24 novembro, 2024
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Ferrari | Crítica: Uma mistura de Casa Gucci com Ford Vs Ferrari

A forma como Ferrari (2023)  tinha ganhado força na temporada no ano anterior mostrava que o longa parecia que iria longe na corrida pelo Oscar. Teve um lançamento de pompa no Festival de Veneza, foi um dos primeiros a ganhar licença do sindicato dos atores para o elenco promover o projeto em terras italianas e parece que tinha saído na frente dos concorrentes para a chamada awards season.

E por mais que Ferrari tenha acelerado, foi exibido também em diversos outros festivais de prestigio, viu o motor dessa máquina do caminho para o Oscar travar no meio do pista quando os outros competidores voltaram com força após a greve dos atores terminar e vimos o longa morrer antes da linha final.

Infelizmente não materializou em nenhuma grande indicação, mesmo já digo aqui que sim, Ferrarri é um bom filme e merecia mais destaque na temporada 2023-2024, uma das mais competitivas dos últimos anos.

Adam Driver em cena de Ferrari. Foto: Lorenzo Sisti/ Courtesy of Neon/Diamond Films.

Principalmente para Adam Driver que filme após filme sempre se supera e entrega bons momentos em tela. E com Ferrari não é diferente. Mas também não dá para desviar do fato que com o filme o que temos é um bom e velho novelão com carros de corrida. É como se tivéssemos o dramalhão de Casa Gucci (2021) estrelado também pelo ator, sem Lady Gaga, misturado com Ford Vs Ferrari lá de 2019 e que acompanhou os funcionários da Ford tentando derrotar a hegemonia de Enzo Ferrari nas 24 horas de Le Mans.

Ferrari se passa alguns anos mas não deixa de ter o mesmo teor e fascínio automobilístico que o filme de James McGold teve. Afinal, o roteiro de Troy Kennedy Martin, baseado no livro de Brock Yates (Enzo Ferrari: The Man, The Car, The Races, The Machine), aposta no drama familiar e pessoal ao mesmo que mostra uma corrida pelo tempo para Enzo Ferrari (Driver) tentar salvar a empresa que leva seu nome e ainda lidar com o seu casamento turbulento com a esposa Laura (Penélope Cruz, ótima).

No longa, é 1957 e Ferrari vê crise, e óleo vazar, por todo lado. O empresário precisa de um triunfo contra com os concorrentes (que estão doidos para entrarem e controlarem a Ferrari), precisa assumir o controle total da empresa, mas algumas ações estão com a esposa ressentida depois de anos de traição, onde o relacionamento dos dois sofreu também com a morte de um dos filhos deles, e precisa também de bons pilotos para dirigir seus carros numa corrida importantíssima.

E ao misturar o drama familiar com o mundo das corridas de carro, o diretor Michael Mann sabe bem usar a câmera para nos fazer cair de cabeça, e embarcar no banco do passageiro dessa história. Os aspectos técnicos, principalmente os sonoros do filme, são o que se destacam no filme, impressionam e realmente ajudam a contar essa história.

Aliado a isso, Mann se cercou de bons nomes e boa parte do elenco está bem. Do sempre excelente Driver e de Cruz (que também está ótima e realmente rouba para si boa parte do longa) que emanam uma combustão em tela sem tamanho, para um platinado Patrick Dempsey como o piloto Piero Taruffi, até o brasileiro Gabriel Leone como Alfonso de Portago que tem mais função e presença na trama do que os trailers e o material de divulgação mostra, todo mundo mostra para que veio.

Penelope Cruz em cena de Ferrari. Foto: Lorenzo Sisti/ Courtesy of Neon/Diamond Films.

A trama de Ferrari segue o protagonista enquanto ele vive por arquitetar seus planos corporativos de ganhar uma corrida importante, a Mille Miglia, que como o nome diz acompanhava os competidores por mil milhas entre as estradas da Itália, enquanto lida com a esposa ferida principalmente depois que durante uma ida ao banco, e uma das melhores cenas de Cruz no longa, onde Laura descobre sobre a amante (Shailene Woodley, num ano com dois projetos grandes e que não emplacou em nenhum) do marido, e claro, com seus pilotos (o De Portago de Leone tem um caso com a modelo Linda Christian interpretada por Sarah Gadon e que garante também das cenas mais divertidas do longa), com a imprensa que o chama de “fazedor de viúvas” e os competidores que veem “sangue na água” quando o empresário está por baixo.

E na medida que Ferrari vê todos eles na sua cola, Mann nos entrega muita rapidez e adrenalina, com vários carros, corridas e tudo mais. O filme tem ritmo, consegue passar pelos arcos narrativos como uma agilidade, e intensidade bem grande. Mas mesmo assim parece que sofre um pouco com uma certa falta de polidez. Das cenas de discussões calorosas entre Driver e Cruz, onde temos armas na mesa, e beijos no final, para as corridas, para uma em particular que um grande acidente acontece (mesmo com uns efeitos visuais meio capengas) e realmente entrega um filme que acelera bem nas partes que precisa e entrega tensão a todo momento, se você não conhece nada da história e do legado do empresário. 

Mann sabe tirar o melhor dessa história, desses personagens, e desses atores. Mas ainda o filme parece um grande episódio de TV. Mesmo um novelão em sua própria forma, talvez pelo sangue italiano que pompa no coração e no cerne de Ferrari, Ferrari acaba por entregar uma história sobre um momento bastante específico da vida desse empresário, onde tudo estava a ponto de explodir. E que no final entrega um trabalho de construção de personagem de Driver super interesse em assistir, mesmo que engasgue a marcha aqui e ali.

Nota:

Ferrari chega em 22 de fevereiro nos cinemas.

Filme visto na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2023.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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