Não vou cair nessa loucura de dizer que Evidências do Amor (2024) é ruim, hein? Mesmo que tudo que envolvia esse filme dava a entender e parecia que ia ser, vou admitir. Mas não, não dá para negar as aparências, ou disfarçar as evidências, não dá viver fingindo, ou enganar meu coração de fã de comédia romântica em admitir que sim o longa nacional acaba por ser divertidinho e fofo de se assistir.
Digo com verdade, que eu tinha saudade, e que ainda pensava muito em quando que teríamos mais uma vez comédia nacional nesse estilo. Afinal, com longa, o que temos aqui realmente é uma boa história e bons momentos, onde fica claro que Evidências do Amor apenas evidencia o talento cômico de Fabio Porchat que realmente está livre, leve e solto, e no seu melhor momento com um projeto de humor, sem dúvidas. Depois do fraquinho O Palestrante (2022), que, ao contrário desse, parecia que ia ser receita de sucesso pois reuniu o comediante com Dani Calabresa, no que eu chamo de dream team da comédia, Porchat dá a volta por cima e realmente entrega um projeto que é realmente a sua cara como comediante e que abraça o que ele tem de melhor: piadas de gosto duvidoso, mas que mesmo assim te fazem rir, um excelente humor físico e uma espontaneidade gigante para tirar o melhor de cena.
Afinal, Evidências do Amor é um show de Porchat. Não vou dizer que de um homem só, porque temos a também hilária e sensacional Evelyn Castro, que aparece pouco, mas entrega muito, como a faz tudo do prédio que o personagem de Porchat vive. Mas não é ela que tá no pôster do filme, né? É a cantora pop Sandy Leah…. E como descrever ela nesse filme? Bem, Sandy, ela canta, e canta muito bem no filme, isso é fato. Mas, para mim, ela é a Sandy, sabe? Não consegui ver na personagem da Laura, uma médica com sonho de ser cantora, nada além da Sandy, a cantora que existe na vida, ali, nem mesmo com a peruca loira. (O único spoiler desse filme, eu prometo).
E entendo o apelo dela estar no filme, por conta da música Evidências um hino nacional, que foi alçada ao sucesso pela dupla Chitãozinho & Xororó, e tudo mais, mas ao mesmo tempo sinto que ela poderia ser bem mais um easter-egg para o longa do que fazer parte estruturalmente, e narrativamente, falando da trama. Ainda mais nos momentos finais do filme e que exigem mais da Sandy atriz, bem mais do que a Sandy cantora.
Ela está ruim, a ponto de arruinar o filme? De maneira nenhuma, tem momentos e momentos, e depois de uns três, chega uma hora que você abraça o que tá rolando na história e meio que tá tudo certo? No final, não é nada de outro mundo não. E também sinto que os roteiristas Alvaro Campos, Luanna Guimarães, Pedro Antônio e também Porchat que ganha créditos, sabem bem contornar essa situação. Afinal, demora um tanto para Sandy realmente aparecer de verdade no longa, com cenas longas e diálogos cumpridos.
Já que querendo ou não, Evidências do Amor é sobre esse homem, criador de apps, e definitivamente um Faria-Limer, o certinho Marco Antônio (Porchat), que após o término com a namorada Laura (Sandy), começa a “voltar no tempo”, voltar em memórias de eventos que passou com a ex. E isso tudo engatilhado pela tal música Evidências que quando toca, seja a música em si, ou uma versão instrumental, ou cantarolada o leva para o passado. A premissa é bacana, o contexto cômico que vemos o personagem de Porchat ser inserido nas diversas situações que ele apaga quando ouve o hino da sofrência é divertido. E é aí que dá para largar a mão que a Sandy não tá tão bem, e Evidências do Amor ganha ritmo, agrada, deixa o tom de esquete de Porta dos Fundos e ganha ares de filme, filme, mesmo.
Por conta de vermos Marco Antônio em momentos dos mais doidos possíveis enquanto revista o passado com a ex, e mostra que as coisas com ela, talvez, não fossem tão idílicas e perfeitas como ele, homem, heterosexual, lembrava e achava. E isso, é também um problema estrutural de Evidências do Amor hein? Ao assistir o filme, fica claro que as coisas são um pouco higienizadas, limpinhas demais e cenográficas demais. Mesmo para um filme que brinca com o fato que o cara fica preso no looping de Evidências faltou aproximar o filme de uma certa realidade, sem dúvidas. Da obra que não tem sujeira, o escritório de coworking super clean, do almoços perfeitos em restaurantes perfeitos, das viagens perfeitas. Claro, isso não chega a atrapalhar a experiência do longa, mas também não ajuda.
Mas de certa forma, tudo é recompensado quando Porchat faz suas cenas sem amarras nenhuma, realmente dá o melhor e nos entrega o melhor. E o diretor Pedro Antônio Paes (que veio das comédias mais populares como os filmes de 2016, To Rycah e Um Tio Quase Perfeito que surpreendentemente tiverem ambos sequências em 2021) sabe disso, e aproveita para focar a câmera para tirar o melhor, e nos dar, o melhor assento da casa no show de Porchat em Evidências do Amor. Seja nos apagões que o personagem tem, nas cenas dele dentro das memórias, nas cenas dançando no balcão da cozinha, ou até mesmo, na cena que ele encara o sogro e faz um discurso sem roupa. São os melhores momentos que Paes tira de Porchat e que só deixam o longa mais bacana de se ver.
Aliado a isso, a reviravolta na narrativa (e não é a participação da Fe Paes Leme que trabalhou com Sandy no seriado da Globo), dá a chance para Evidências do Amor caminhar a trama da melhor forma possível para essa comédia, um pouco fantasiosa, um pouco amalucada, mas extremamente divertida. Com jeitão de sessão da tarde, ou como falamos agora, jeitão de streaming, Evidências do Amor acaba por fazer uma aposta divertida nesse gênero, e que tem se mostrado ser uma certa ultimamente.
Principalmente agora, nesse momento, vindo na cola de Todos Menos Você, que dominou o começo do ano nos cinemas, o longa definitivamente vai conseguir suprir a vontade do público e do mercado para produções rom-com. Chega de mentiras, de negar o desejo do público, que quer mais que tudo passar bons momentos no cinema com um bom filminho.
Evidências do Amor chega em 11 de abril nos cinemas.