Conhecido por seus trabalhos atrás das câmeras em produções como Garota, Interrompida (1999), Os Indomáveis (2007), Logan (2017), Ford Vs Ferrari (2019), o último Indiana Jones (2023) e também Johnny & June (2005), dá para dizer que James Mangold é um dos diretores com um dos currículos mais interessantes que temos em Hollywood.
E aqui, Mangold comanda Um Completo Desconhecido um filme sobre o cantor Bob Dylan que para o diretor era interessante contar a história do cantor durante um período especifico da vida, e da carreira. Ele queria contar como o talento vem de forma natural para certos artistas, e mostrar também as alegrias e os desafios que esse talento podem trazer para essa pessoa e que, às vezes, você pode ser extremamente popular, mas ao mesmo tempo muito sozinho.
“Essa é a história de um momento especifico na vida de uma pessoa, não é a vida inteira dela. É sobre um mundo onde muita coisa é comunicada com música.” afirma Mangold.
Participamos da coletiva de imprensa do longa que chega nos cinemas nacionais no próximo dia 27 e está indicado ao Oscar nas principais categorias, inclusive Mangold foi indicado em Melhor Direção pelo longa.
Confira os principais destaques:

O que de especial Bob Dylan tem e que o fez se destacar dos outros artistas icônicos para convencê-lo de você que queria fazer um filme sobre ele?
James Mangold: Eu não acho que a decisão de fazer um filme baseado na grandeza de Bob Dylan. Não foi uma coisa de: eu quero fazer um filme sobre um dos maiores cantores que existe, e como ele é um dos maiores, é quem eu vou fazer. Não foi por isso que eu me senti atraído pelo projeto. Eu sempre amei Bob Dylan, suas músicas e o quão descolado ele é. Mas foi algumas coisas em particular dessa história que Elijah Wald contou no seu livro [lançado em 2015 com o título Dylan Goes Electric!: Newport, Seeger, Dylan, and the Night That Split the Sixties] que meio que foca nesse período que levou para os eventos de um show dele em Newport nos anos 1965 que me fez entender como poderíamos ter um filme.
Não é uma história contada do nascimento até a morte dele. Eu acho que isso é um dos grandes perigos dos filmes biográficos, sejam eles musicais ou não, onde você começa a fazer filmes que começam com o nascimento e que terminam, ou com a pessoa levando um Prêmio Nobel, ou um Oscar, ou morte, ou seja o que for, e o filme falta um foco, da mesma forma que um filme ficcional tem um grande foco. Sabe? Eu faço muitos filmes com histórias ficcionais, e eles acabam por ser sobre um dia na vida daquele personagem, uma semana na vida daquele personagem, um mês, onde tudo muda. Existe uma certa concentração para uma mudança e tem drama. E quando você faz um filme biográfico, é atrativo ver que existe tanto material histórico interessante que você acaba fazendo alguma coisa muito extensa. Não tem foco.
Então, o que me atraiu foi: “A) Eu adoro Bob Dylan. Acho que ele é um personagem interessante, curioso e fascinante e B) Uma história que o acompanha desde seu primeiro dia em Nova York. No sentido do nascimento de Bob Dylan, não de Robert Zimmerman,
mas Bob Dylan nasceu em seu primeiro dia em Nova York. Ele veio para Nova
Nova York, deu a si mesmo um novo nome e se tornou, de certa forma, o Dylan que conhecemos. E o acompanha desde aquele desconhecido, aquele mendigo com alguns
alguns centavos no bolso e um violão nas costas, que veio para a cidade para cantar para seu herói em um hospital de veteranos onde ele está morrendo. (…) até vermos Dylan se tornar uma das figuras mais importante’ de todos os tempos e uma das figuras artísticas mais importantes do século.”
Quais foram os fatores que levaram vocês a decidirem fazer com o que filme seja um recorde da vida de Bob Dylan entre os anos 1961 e 1965?
James Mangold: O que me interessou mesmo foi que foram momentos turbulentos e interessantes. De certa forma, quando eu falei com Bob Dylan antes de fazer esse filme, uma das coisas que ele me disse quando sentamos para conversas a respeito foi que os anos 60 não foram bem os anos 60. Os anos 60, pelo menos de 61 para 65, foram uma continuação dos anos 50 e depois de 65 para frente tudo já foi anos 70. Aquela década realmente mudou no meio, onde o movimento folk tinha acabado de sair dos anos 50, e foi uma reação de um pós-guerra, o retorno de uma música mais popular, com a chegada do Rock and Roll que realmente ganhou força nos anos 50, mas também com um novo senso de música mais pop explodindo quando os Beatles e os Stones chegaram. Mas tudo mudou realmente lá por volta dos anos 64-65 com Hendrix, Woodstock, a guerra do Vietnã.
Tudo isso foi no final dos anos 60 e no começo dos anos 70. Foi uma época interessante, obviamente cheia de ideias politicas, o medo da aniquilação nuclear, a guerra Fria, o Vietnã, os assassinatos, os Movimento dos direitos humanos em todo mundo. E foi um momento que a música tinha alguma coisa para dizer sobre onde nós estávamos e quem nós éramos. E sobre política, sobre moralidade, sobre ética, sobre filosofia. (…) Eu acho que eram tempos interessantes. E Dylan estava inegavelmente no centro disso tudo, no meio de uma tenta de ativíssimo musical e de música folk daquele período, o que é por isso que foi tão traumático para outros membros da comunidade folk quando ele decidiu sair.
Quais foram os motivos que o levaram a escolher Timothée Chalamet para o papel? Principalmente se levarmos em consideração a parte musical que é exigida para o filme?
James Mangold: Bem, tenho uma habilidade estranha que me faz pensar se eu não tivesse conseguido me tornar um diretor de cinema, eu seria um apostador. A realidade é que fazer filmes é seguir palpites, seguir seu instinto e, de palpites, de certa forma, não prestar atenção aos riscos envolvidos, às grandes somas de dinheiro do projeto, uh, reputação, a maneira como as pessoas podem aniquilá-lo se você errar.
Você precisa se tornar cego ou burro em relação às ramificações de suas ações e apenas ouvir seus instintos ou tentar descobri-los puros. Esse é um longo prólogo para dizer que eu sabia, meu instinto me dizia, que ele seria bom. Eu não sabia que ele seria bom, mas eu sabia em meu instinto, eu achava que ele, acho que é a maneira certa de dizer isso, que ele poderia poderia ser ótimo nesse papel.
Eu não sabia até onde ele poderia chegar com seus vocais. Eu não sabia até onde ele chegaria com seus vocais e não sabia não sabia até que ponto sua caracterização transcenderia até mesmo minhas próprias expectativas ambiciosas, mas também é um fator de que Timothée é um dos grandes atores de sua geração. E ele também é, nesse nesse projeto em particular, teve a bênção e a maldição de vários atrasos nesse filme.
A primeira foi causada em 2019, 2020 pela Covid chegando e nos colocando
em lockdown. E então Timothy e eu também tínhamos outros compromissos que tínhamos que cumprir. E então voltamos para fazer o filme novamente em 2023. E, mais uma vez, fomos atingidos por atrasos por conta das greves na indústria e não pudemos filmar.
Finalmente, o filme ficou pronto em 2024. A bênção foi que Timothée acabou tendo literalmente cinco anos, um pouco mais, para se preparar para esse papel no qual ele tinha a dedicação e a visão de levar o violão, a gaita, o e o livro de músicas, as fitas e os vídeos do YouTube para estudar em cada viagem que fazia, fosse para a terra do chocolate ou para a terra das especiarias.
Um Completo Desconhecido chega em 27 de fevereiro nos cinemas.