Uau! Como Esquadrão Trovão (Thunder Force, 2021) é ruim! Dito isso, acabou esse texto, podem pular para a próxima matéria aqui no site. Brincadeiras à parte, minhas expectativas com Esquadrão Trovão, claro, não eram das maiores e já não esperava que seria um longa do nível de Project Power (2020), mas achava que pelo menos daria para me divertir, afinal, o trailer montado pela Netflix para divulgação do filme conseguiu passar uma certa esperança. Fui tapeado pelo time de marketing da plataforma!
E para ser sincero também, eu gosto da Melissa McCarthy, acho ela uma boa comediante, e quando ela é engraçada ela é muito engraçada (vide ela em Missão Madrinha de Casamento (2011) e no seu melhor filme A Espiã Que Sabia de Menos lá de 2015) mas quando não (por exemplo em A Chefa (2016) e Crimes em Happytime o seu pior lá de 2018), não existe fórmula mágica, super-poderes, ou efeitos especiais que dão conta.
Se me falassem qual super poder eu gostaria de ter, eu falaria o de invisibilidade, para sumir durante as duas horas que passei vendo o filme. O roteiro de Esquadrão Trovão faz o genérico do genérico para um filme de super-heróis, e Ben Falcone (marido de McCarthy que repetem a parceria depois de filmes como A Chefa e o inédito no Brasil, Superinteligência (2020)), pega só o pó do gênero e entrega não só uma comédia sem pé nem cabeça, mas como um filme ruim, e quase impossível de se ver. Eu particularmente pausei umas 4 vezes, pois não estava acreditando que gastei meu tempo vendo aquilo.
Esquadrão Trovão entrega um apanhado de cenas embaraçosas e que não fazem sentido nenhum de estarem juntas, e estão ali uma colada na outra apenas por estarem. Ao mesmo tempo que entrega uma história simples de origem de super-herói, aqui no caso duas super-heroínas, Esquadrão Trovão abraça o lado galhofa que sempre foi a marca registrada de McCarthy e Falcone (alguém em Hollywood precisa falar que eles não combinam para trabalharem juntos!) e parece que vai além e pior.
Esquadrão Trovão é a dupla solta da coleira, afinal, estão no streaming pela primeira vez, então parece que aqui é “vamos pirar mais que mais que piramos nos últimos filmes”. É uma cena atrás da outra cercada de piadas completamente sem graça, momentos surreais de ruins e tudo isso com outros nomes conhecidos em Hollywood como Jason Bateman e Octavia Spencer. Falando nela acho que Octavia Spencer aceitou entrar na dança de Hollywood e tem pego os papéis mais absurdos e em filmes tão fracos. Primeiro foi no novo Convenção das Bruxas (2020) e agora em Esquadrão Trovão. Mas ei, os boletos precisam ser pagos, né?
Uma das coisas que mais me deixou feliz (talvez uma, de duas coisas, durante o filme todo) foi ver que Hollywood deu espaço para atrizes de 50 anos (ambas têm a mesma idade) de A) serem protagonistas de um filme de super-herói e B) serem elas mesmas super-heroínas que salvam a cidade que o filme se passa. Com uma química nada boa em tela, Spencer parece que tá o filme todo mentalmente pensando: O que diabos eu to fazendo aqui?, e ela e McCarthy tem uma ou duas cenas boas juntas.
No longa, elas interpretam Emily Stanton (Spencer) e Lydia Berman (McCarthy), duas melhores amigas de infância, completamente opostas uma das outras, que se reencontram depois de adultas e de terem brigado há muito tempo. Lydia é mais descolada, relaxada e nunca leva suas responsabilidades a sério, já Emily é a certinha e estudiosa da dupla (Nerd não, apenas inteligente) e que passa sua vida toda na busca de uma fórmula secreta para criar super-heróis para combaterem os vilões que a Terra ganhou depois que uma coisa vinda do espaço deu super-poderes para algumas pessoas. Do mal claro.
E no meio dessa história todo o filme sofre para encontrar seu ritmo e como falei tem poucas cenas que valem a pena. Em uma delas e em dos momentos mais bacanas, a avó de Emily, Norma (Marcella Lowery) recebe as protagonistas já adultas e depois de terem feito as pazes e faz uma brincadeira sobre a possibilidade das duas serem um casal e que é de longe a melhor cena do filme todo. E nem envolve super poderes e ou lutas com efeitos especiais, apenas três atrizes sentadas numa mesa de jantar de conversa.
É essa a grande falha de Esquadrão Trovão, onde na pira de realmente fazer um filme de super-herói, Falcone tenta fazer mais do mesmo ao colocar as duas amigas para serem heroínas das mais desajustadas possíveis e apenas brinca com as possibilidades que esse mundo criado por ela apresenta. Com vilões caricatos, e com tramas dignas dos desenhos Scooby-Doo, Esquadrão Trovão fica até aceitável quando não conhecemos o time do mal e estamos apenas na parte dos mocinhos e como Emily e Lydia ganham seus poderes, a primeira invisibilidade e a segunda super-força.
Por que na hora que Falcone nos apresenta os vilões e suas motivações, o filme embarca numa piração tão grande que pelo santo algoritmo, parece que o longa não passou pela aprovação de ninguém na Netflix e apenas terminou sua pós-produção e foi parar dentro dos servidores da plataforma sorrateiramente. O trio de vilões formado por Bobby Cannavale, o chefão do submundo do crime/político que concorre à prefeitura de Chicago chamado The King, a atriz Pom Klementieff como a vilã Laser que solta raios pelas mãos e tem um olhar ameaçador, e Jason Bateman como o Sr. Crab, um cara com braços de caranguejo que é faz parte da gangue, são os piores vilões já criados nos últimos tempos. E nem me fale de Batman nesse filme que eu lembro das cenas vergonhosas que ele e McCarthy tem no filme que envolvem molhos e flertes num restaurante. Bateman ganha destaque no longa quando seu personagem tem uma quedinha pela personagem de McCarthy depois que o Esquadrão Trovão impede um assalto em uma loja.
Ao dar carta branca para Falcone e McCarthy piram em Esquadrão Trovão, a Netflix não só faz um de seus piores filmes originais (original mesmo que não foi comprado de outro estúdio e que recebeu o selo A Netfilx Film) como faz um o ponto mais baixo da carreira da atriz e de basicamente todo mundo envolvido. Querendo ou não os dois parecem que vão sobreviver, estão com um projeto de série juntos já anunciado e McCarthy tem o live-action de A Pequena Sereia em andamento e outros dois projetos já gravados (uma série no Hulu e um outro filme de comédia).
No final, Esquadrão Trovão só mostra que mesmo depois de Crimes de Happytime, McCarthy foi lá e falou: segura minha cerveja que temos espaço para piorar. Esquadrão Trovão deveria se chamar Esquadrão Pavoroso, afinal, Hollywood não via um filme tão ruim com Esquadrão no título desde de 2016. E isso que eu gostei de Esquadrão Suicida de David Ayer lançado naquele ano, quem me segue nas redes sociais sabe o quão vocal para defender o filme da DC eu fui.
Esquadrão Trovão disponível na Netflix.