A jornada de Maria e o Cangaço da fase de desenvolvimento para enfim chegar no Disney+ é uma que levou um tempo. É o que afirmam, os diretores Sérgio Machado e Thalita Rubio em entrevista para o ArrobaNerd.
Livremente inspirada no livro de Adriana Negreiros, Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço, a atração mostra e foca no papel das mulheres no cangaço, principalmente de Maria de Déa, também conhecida como Maria Bonita.
Machado que cuidou da direção geral da atração e Rubio que também cuidou da direção de episódios comentam então algumas curiosidades do desenvolvimento da atração, os bastidores do projeto e realmente falam sobre esse seriado que enfim chega no streaming.
E eu comecei a escrever o roteiro e mais um menos levou um ano. Foi um ano de trabalho intenso e de pesquisa. Então aí já vai ter 4, 5 anos de envolvimento. E desde do primeiro momento eu me encantei com a ideia. Quem me trouxe livro foi o Wagner Moura [o ator] e a príncipe queriámos dirigir juntos. Mas ele foi tendo outros compromissos, e eu acabei desenvolvendo mais a escrita sozinho e com outros roteiristas.” afirma Sérgio Machado.
Assim, com 6 episódios o seriado conta um pouco sobre desse mundo, desde Brasil dos anos 1930, antes retratado sobre a visão masculina liderados pela figura de Lampião e tem no elenco nomes como Isis Valverde e Júlio Andrade.
“Nós batalhamos bastante para fazer o melhor sempre, para não abrir mão [de nada], das locações que queríamos filmar, de cada pequena ceninha [….]” afirma a diretora.
Confira:
ArrobaNerd: Logo no primeiro episódio nós vemos os cangaceiros conseguirem invadir a cidade por que a Maria lê no jornal que numa das noites iriamos ter um eclipse e assim eles conseguiriam ir até lá no escuro sem serem notados.
Quais outros fatos curiosos sobre a trajetória de Maria Bonita e Lampião vocês mais se surpreenderam durante as pesquisas para a série?
Sérgio Machado: Nós [quando trabalhamos] no roteiro, partimos de um aspecto bastante específico e pouco abordado no cangaço, que é olhar essa estrutura a partir de um viés feminino, né? Que a partir do livro da Adriana Negreiros fomos falar sobre essas mulheres e do tanto de violência que elas sofriam, da capacidade também de se rebelar contra essa essa violência. Mulheres como Maria Bonita, Dadá, Sila. Então esse já tem esse viés bastante distinto assim foi esse o ponto principal que a gente pensou em focar.
Já a história do eclipse é uma história totalmente ficcional foi inventada por mim a partir de uma situação que eu vivi e tudo mais. Então 90% da história da série é baseado em fatos históricos e pelo viés feminino.
Thalita Rubio: A série é o olhar sobre a história da Maria e a questão da maternidade, não que não existam as outras [mulheres] e não que não tenhamos batalhas, que não tenhamos [cenas de ação], acho que temos tudo, mas, pela primeira vez, estamos contando também a história das mulheres dentro desse movimento, diríamos que tão complexo e tão importante que é o cangaço, né?
Sérgio Machado: Isso é uma coisa importante, né, da gente ressaltar, né? Estamos falando das mulheres desse grupo, mas também para os homens, né, que curtem batalha, tiroteio, tem bastante disso também.
Thalita Rubio: Tem, tem bastante. [risos].
ArrobaNerd: Eu lembro que eu vi o primeiro trailer de Maria e o Cangaço em junho do ano passado num evento da Disney no Rio de Janeiro e agora que a série chega efetivamente no Disney+.
Queria saber um pouco da trajetória de vocês com o projeto. Quanto tempo vocês já estão trabalhando nele? E como foi o início da pré-produção em decidir qual o tom que vocês queriam para a série e tudo mais ?
Sérgio Machado: Olha te falar que eu sou bem ruim de lembrar datas. [risos].
Thalita Rubio: Terminamos as filmagens em Outubro de 2023. Então de lá para cá já tem bem mais de um ano até estrear de fato. E a primeira pesquisa de locação foi um ano antes isso. Foi final de 2022. Então pelo menos aí já tem uns 3 anos.
Sérgio Machado: E eu comecei a escrever o roteiro e mais um menos levou um ano. Foi um ano de trabalho intenso e de pesquisa. Então aí já vai ter 4, 5 anos de envolvimento. E desde do primeiro momento eu me encantei com a ideia. Quem me trouxe livro foi o Wagner Moura [o ator] e a príncipe queriámos dirigir juntos. Mas ele foi tendo outros compromissos, e eu acabei desenvolvendo mais a escrita sozinho e com outros roteiristas.
Enfim, desde o primeiro momento me encantou, que eu acho que tava eu tava comentando aqui antes, assim, acho que tem uma coisa que de alguma forma permeia tudo o que eu já fiz no cinema, é uma uma grande admiração pelo feminino, assim, eu fui criado por mulheres fortes. Num matriacado baiano, em volta do Candomblé, onde tem a figura das mães de santo poderosas. Então, eu sempre tive uma uma admiração grande pelo feminino e sempre tive uma paixão enorme pelo western clássico. Talvez, o western e os filme de samurai são os meus gêneros favoritos que eu vejo e revejo, eu conheço demais os filmes de western.
Então, para mim foi um primeiro momento que essa oportunidade me apareceu, eu fiquei absolutamente encantado com a possibilidade de fazer essa essa história. Foi uma experiência incrível.
Thalita Rubio: A pré-produção foi um tempo longo eu acho. Se desenvolvimento de roteiro, até tudo ser apurado, em paralelo com entender onde é que iríamos filmar isso. É, nós acabamos encontrando em Cabaceiras, um lugar super legal assim, que abraçou e que abraça as filmagens, acha uma coisa legal de falar, de se falar também. É, a Hollywood Nordestina, acho que tem várias produções que estão acontecendo lá.
E optamos por filmar grande parte da série lá e um pedaço em Piranhas. Mas até chegar nessa conclusão, a gente fez uma pesquisa de locação grande e isso junto com o elenco também.
Sérgio Machado: Um elenco, que eu acho assim, tem a gente tem uma [direção de] arte impressionante, temos locações [belíssimas]. Mas se tivesse um ponto só para destacar, é a potência do elenco, né? São 56 personagens, 52 grandes atores nordestinos. […] chegamos de viagem por Recife, Salvador, Fortaleza e João Pessoa, onde fizemos teste de elenco e os testes que recebemos eram dignos de Oscar. Era cada ator [bom]. [A região] nordeste tem a tradição fortíssima e os testes foram espectaculares. Foi como dirigir um bando de gênios. Ops, não pode falar bando é grupo. Lampião não gostava que falasse nunca palavra banda para ele, era um palavrão. [risos].
Thalita Rubio: E até mesmo as participações menores também né? As pessoas lá da própria cidade, as crianças, a Maria Rita, aquela menininha que faz a sobrinha de Maria. Eu acho que fomos muito felizes, assim, no elenco como um todo, é, desde as participações menores até nossas estrelas que protagonizam a série, eu acho que foi um um grande acerto e um grande prazer. E um privilégio, né? Dividir tanta gente talentosa.
ArrobaNerd: A Isis e o Júlio tão ótimos! A caraterização deles tá impressionante e o Júlio também é uma figurinha bem carimbada aí no Emmy Internacional, né?
E ainda mais depois de Ainda Estou Aqui, acho que vamos ficar meio mal acostumados né? Vamos querer emplacar em todas as premiações? Tem já planos para alguma coisa de campanha para a série nesse sentido?
Sérgio Machado: Eu imagino que sim! Tomara que tenha! [risos]
Thalita Rubio: Tomara que tenha! [risos]
Sérgio Machado: Vamos ver o que vai acontecer! [risos]
Thalita Rubio: Eu acho que é uma série que foi feita com muita vontade, com muito amor, com muito tudo para para ficar o mais linda possível e acho que ficou sim! Nós batalhamos bastante para fazer o melhor sempre, para não abrir mão [de nada], das locações que queriamos filmar, das cada pequenas ceninhas, que nós ficávamos: Ih, será que vai dar tempo de fazer? Não vai dar tempo de fazer,? Lutavámos até ao fim para conseguir fazer!
Sérgio Machado: E a equipe comprou essa proposta, né? Às vezes de fazer o impossível para ficar melhor, né? As pessoas deram, acho que todo mundo deu um pouquinho a mais assim para conseguir chegar num lugar o mais longe que dava, né? Então acho que a gente, eu tenho muito, tô com muita expectativa do que que vai acontecer, mas tenho muito orgulho desse trabalho.
Thalita Rubio: Eu também.
ArrobaNerd: Achei a abertura belíssima. Hoje poucas séries têm o luxo de ter uma abertura. Como foi para vocês chegarem na abertura final, escolher a música e tudo mais. E também queria saber quem canta a música tema?
Sérgio Machado: Nossa abertura é desenhada pelo Gorô, um artista, um criador visual bacana. E para mim, além de elenco, um outro ponto altíssimo para mim da série é a trilha sonora. Foi feita pelo meu parceiro já de não sei nem quantos projetos que já fizemos juntos, que é o Beto Vilares e pela Karina Bu, que compôs e canta. Ela compôs umas 10 canções para a série.
Thalita Rubio: Inclusive ela seria uma cangaceira maravilhosa. [risos]
Sérgio Machado: A nossa cangaceira cantora pernambucana Karina Bu, genial! E que compôs umas 10, 12 músicas que tão no na série e outras mais que nem couberam, mas são músicas realmente lindas assim. Era muito lindo o material que ela e o Beto ofereciam e a cada episódio eu tentava colocar um música nova e que narram um pouco do ponto de vista da Maria.
ArrobaNerd: E para finalizar quais figuras histórias vocês gostariam de contar suas histórias num futuro projeto?
Thalita Rubio: O Sérgio tem alguns sim! [risos]
Sérgio Machado: Eu tenho! Eu exatamente nesse momento mergulhado em um sim. Eu tô já há bastante tempo trabalhando na vida do Chico Mendes, é um próximo projeto, um projeto gigante então não tem data ainda para nada porque é uma história realmente grandiosa, não tem nada ainda.
E eu tô começando a fuçar um pouco na vida do Anísio Teixeira, o educador baiano, que foi assassinado um mês antes do Ruben Paixa, e também de uma maneira misteriosa, assim, é um grande educador que foi assassinado também pela ditadura militar. E outras coisas que eu to transitando.
Thalita Rubio: Sem fugir um pouco do tema cangaço, eu acho que a Maria é a protagonista dessa temporada, mas eu tenho eu fiquei muito apaixonada pela história da Dadá também. Acho que Dadá e Corisco, quem sabe uma segunda temporada hein?
ArrobaNerd: Ai vira uma série antológica.
Sérgio Machado: É, eu ia eu ia adorar. Já tô me escalando aqui. Vamos? [risos]
Thalita Rubio: Vamos! [risos]
Morhana [Uchô] e Jorge [Paz], acho que e dois atores espetaculares. E Dadá tem uma história lindíssima também.
Sérgio Machado: Lindíssima.
Thalita Rubio: Ela entrou para o cangaço com 12, 13 anos e é a cangaceira que foi a cangaceira guerreira, né, nesse ideal que a gente tem aí.
Sérgio Machado: Ela tem duas coisas, né? Quer dizer, ela é importante, talvez, tanto quanto a Maria, no sentido de que ela ela é a cangaceira que foi a primeira que pegou em armas, né? E ela também é muito responsável pela estética do cangaço. Do visual e tals. Existe uma controvérsia sobre isso mas ela foi muito importante na construção dessa identidade visual do cangaço.
No elenco de Maria e o Cangaço temos ainda os atores Rômulo Braga, Clebia Sousa, Thainá Duarte, Geyson Luiz, Dan Ferreira, Chandelly Braz, entre outros talentos.
A atração apresenta Maria Bonita sob uma nova perspectiva, focando em sua jornada como mulher e mãe. Maria de Déa (Isis Valverde) era uma jovem destemida que ousou impor sua voz em um mundo em que as mulheres viviam submetidas à vontade dos homens e a violência imperava.
Companheira de Lampião (Júlio Andrade), o famoso líder cangaceiro, Maria passa a viver dividida entre a vida fora da lei e o desejo impossível de viver em família. Os últimos anos do grupo de Lampião narrados pela perspectiva humana e visceral da mais célebre cangaceira, cuja vida se tornou uma lenda.
Maria e o Cangaço disponível no Disney+.
