quinta-feira, 14 novembro, 2024
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Entre Mulheres | Crítica: Texto carregado e fortes atuações propõem discussões calorosas

Ficar ou partir? É com essa questão que o longa Entre Mulheres (Women Talking, 2022) se depara e incrivelmente propõe discussões, mesmo que das mais pesadas e dolorosas, das mais interessantes.

E por conta desses debates calorosos que um grupo de mulheres de uma comunidade rural nos EUA fazem, Entre Mulheres entrega na sua maior parte bons diálogos para esse elenco de atrizes que têm a oportunidade de defenderem com unhas e dentes os pontos de vista dessas personagens e essas situações extremamente pessoais que elas vivem.

Rooney Mara, Clare Foy, Judith Ivey, Sheila McCarthy, Michelle McLeod e Jessie Buckley em cena de Entre Mulheres.
Foto: Credit: Michael Gibson/Orion Pictures/Universal Pictures.

E a diretora Sarah Polley usa o espaço fechado, as cores neutras puxadas para o cinza e o azul melancólico, e o sentimento de urgência para nos mostrar o processo de decisão dessa questão de uma forma como se parecesse que Entre Mulheres como se fosse um rolo compressor ao nos jogar de cabeça nessa história.

Entre Mulheres acompanha os moradores de uma vila que veem parcela da população masculina ser presa por conta de ataques contra as mulheres do local. E o mais interessante aqui, é que não há lados, essas mulheres não tentam fazer alguém acreditar nelas, e se o que aconteceu com elas é real ou não, e sim, existem os fatos: essas mulheres passaram por anos de ataques, abusos e decidiram dar um basta nisso, principalmente agora com a possibilidade do retorno de seus agressores para a vila. Assim, elas resolvem se mobilizarem na tentativa de seguirem com suas vidas depois de anos de explicações das mais malucas possíveis sobre o que rolou por parte dos homens dessa comunidade religiosa: foram aparições do além, vocês querem atenção, vocês estão imaginando coisas.  

O choque das descrições das ações contra elas, das promessas de que elas não vão entrar no Reino dos Céus, os planos que foram feitos pelos os homens para conseguirem o que queriam dessas mulheres, e a forma como os eventos são explicados, tudo é de impactar e são contados aos poucos, na medida que um grupo, na calada da noite, se reúne depois que todas as mulheres se reuniram e votaram o destino delas.

Cabe à elas, esse grupo de pouco mais de 8 mulheres, e unicamente à elas, decidir, se ficam na comunidade, se lutam para impedir esses ciclos de abuso de continuarem ou se partem para uma nova vida, e criam uma nova comunidade. Polley apresenta logo de cara esse grupo de mulheres tão diferentes entre si, e suas participantes mais vocais, na medida que Entre Mulheres nos conta mais sobre as situações que elas debatem e os detalhes dos eventos que muitas delas ali viveram e presenciaram elas mesmas.

Na esperança de darem um futuro melhor para suas filhas, sobrinhas e netas, esse grupo se debruça em todos os ângulos possíveis das questões que geram uma profunda e devastadora reunião de ideias a serem discutidas e debatidas.Com o elenco composto por três atrizes das mais talentosas em Hollywood, Entre Mulheres garante no poder do diálogo que tenhamos atuações poderosas e são das mais impactantes possíveis.

Claire Foy como Salome, a mais vocal e radical do grupo, Jessie Buckley como Mariache uma mãe de família em um relacionamento conturbado, e Rooney Mara como Ona, uma jovem que recém sofreu os abusos que assolam a comunidade são os nomes que chamam atenção no longa e realmente formam um conjunto espectacular de calibre para tratarem desse assunto delicado e extremamente espinhoso.

Judith Ivey e Claire Foy em cena de Entre Mulheres
Foto: Credit: Michael Gibson/Orion Pictures/Universal Pictures.

E se é incômodo porque é a verdade nua e crua que elas debatem ferozmente entre si e Polley sabe disso e não deixa a câmera fugir dos rostos dessas personagens em nenhum momento. Vemos as dores serem transmitidas na medida que elas discutem sobre o que fazer sem glamorizar ou se aproveitar da situação, e sim mostrar como elas se comportam durante esse debates.

Os destaques ficam também com as personagens da jovem Michelle McLeod como Mejal e Sheila McCarthy como Greta que realmente apresentam momentos e passagens extremamente cruciais e importantes na apresentação dos prós e contras que esse grupo começa a elaborar com a ajuda do professor local August (Ben Whishaw), afinal, nessa comunidade religiosa e isolada, mulheres não sabem ler e escrever.

A presença desse homem, um dos poucos que aparecem no longa com rosto e voz, mostra que ele está aí como um mero ouvinte, e mesmo que Whishaw esteja muito bem, o longa tem a sensibilidade de mostrar que a história não é sobre ele e mesmo que o personagem não deixe de ter uma opinião sobre o assunto, muito das suas interações com o grupo só acontecem quando elas pedem o envolvimento do personagem na questão.

O mais interessante é que Entre Mulheres consegue formar um grupo cheio de diversas personalidades diferentes, que demoram um tempo, para perceberem que estão ali contra o mesmo “inimigo” e que querem o mesmo objetivo: que o amanhã possa ser melhor do que o hoje.

Calejadas, e quase sem esperanças, essas personagens precisam tomar consciência do ambiente que vivem e como elas farão para mudar seu status quo quando elas tomam consciência que podem mudar essa situação. É no poder na discussão, da compreensão e no entendimento do que elas vivem, e como elas vão fazer para mudar suas vidas, que o texto Sarah Polley e Miriam Toews (que escreveu o livro na qual o longa é baseado) triunfa ao contar essa história. O elenco escolhido dá mais do que conta do recado, na medida que vamos a descobrir mais sobre o passado dessas mulheres, na medida que elas discutem seus futuros. 

O sentimento assombrado e de terror que essas mulheres retratam mostram que seus atacantes estão por todo lado, e que não tem rosto, são retratados como um coletivo feito unicamente para atacar.

Na medida que Entre Mulheres coloca suas cartas na mesa, e essas mulheres chegam em suas conclusões, o tom do filme muda para nos entregar uma dose de esperança para esse grupo na medida que a decisão, feita, por essas mulheres, e entre essas mulheres, é tomada e que mudará o destino de suas vidas para sempre, e daquelas que viverão no futuro.

No final, em toda sua intensidade narrativa, Entre Mulheres nos entrega uma forte mensagem contada de uma forma de dar um nó na garganta. 

Avaliação: 4 de 5.

Onde assistir Entre Mulheres?

Entre Mulheres está disponível nos cinemas nacionais.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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