sábado, 05 outubro, 2024
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Festival Do Rio 2024 | Emilia Pérez | Crítica: Aventura criminal musical impacta

Zoe Saldaña, Selena Gomez e Karla Sofía Gascón dão show na impactante aventura criminal musical Emilia Pérez. Nossa crítica.

Quem é Emília Pérez? Durante boa parte do novo longa do diretor Jacques Audiard, a questão da identidade e descobrir quem você é, é jogada em tela na medida que o texto tenta por costurar a relação dessas personagens em torno da pessoa, e do nome, que dá título para essa aventura criminal musical ao contar uma história que realmente impacta e ficará passado e repassando na sua cabeça depois que você assistir.

E boa parte disso, se dá por conta dos nomes escolhidos por Audiard para compôr o elenco de Emilia Pérez (2024). Foram atrizes escolhidas a dedo e realmente fazem toda a diferença na experiência que é assistir o longa. E não à toa, o quarteto principal de Emilia Perez levou, e dividiu, o prêmio de Melhor Atriz no super prestigiado festival francês de Cannes no começo do ano e que agora mira a temporada de premiações.

Zoe Saldaña e Karla Sofía Gascón em cena de Emilia Pérez. Foto: Cortesia do Festival do Rio 2024. Todos os direitos reservados.

E sem dúvidas, foi uma escolha acertada a divisão desse prêmio. Afinal, essas mulheres, principalmente o trio principal formado por Zoe Saldana, Selena Gomez e Karla Sofía Gascón compartilham, e estão intrinsecamente envolvidas, nessa trama em que acompanhamos a decisão de um traficante mexicano (Gascón) em abraçar quem ele é de verdade: uma mulher. 

E isso gera consequências explosivas não só para ele, agora ela, mas para todos os envolvidos. Afinal, mesmo que Emília Pérez seja o título do longa, e o nome que Manitas Del Monte resolve abraçar pós transição, a história também é sobre essas duas outras mulheres tão presentes na vida do rei do crime com a boca cheia de metal, joias nos dedos, e uma quantidade ilimitada de dinheiro graças a uma nova droga sintética lançada pelo seu cartel que dominou o mercado. 

Emilia Pérez é sobre Emilia Pérez, mas também sobre todas as outras mulheres que cercam essa personagem que nasce ao longo do filme. Audiard então conta essas histórias de uma forma bem interessante mesmo que também seja, de certa forma, um pouco prejudicial para o filme.

Afinal, o longa precisa contextualizar e preparar a chegada de Emilia Pérez e começa a contar como a advogada Rita Moro Castro, interpretada por Saldana, e em um trabalho  fenomenal de atuação depois de anos atrás de tinta verde e efeitos visuais na Marvel Studios, azul nos filmes de Avatar e estrelar uma série de ação que ninguém viu em um serviço de streaming que ninguém assim, se envolveu com tudo isso.

Logo nos primeiros minutos de Emília Pérez, Audiard já estabelece o tom para o longa com as músicas “Alegato”e “Todo Y Nada” e que de certa forma nos explicam a personagem de Saldana e os motivos que a levaram a aceitar a proposta do traficante. E sim, o longa é um musical, sim, tem músicas, e sim, tem elementos de fantasia entre as cenas de dança e canto.

Diferente de outros filmes do ano que também utilizam o formato musical para contar sua história, as músicas e as cenas em Emilia Pérez fazem a trama andar e o tom mais fabulesco e surreal ajudam a amenizar a porrada que a história entrega. E é o que acaba por ser o grande trunfo e que diferencia o longa, sem dúvidas. Afinal, seria muito cômodo para Audiarc contar essa história sobre um cartel mexicano e seu líder e ser mais um filme sobre um cartel mexicano e seu líder.

E na medida que vemos Rita ser recrutada por Manitas para o ajudar em sua transição, Emília Pérez brinca de forma de músicas e cenas estridentes com essa história, onde fica claro que para Manitas dinheiro não é problema e ele quer resolver essa situação o mais rápido possível.

E isso nós vemos em uma sequência musical em uma clínica em Bangkok com a personagem de Saldana cantando enquanto coleta informações médicas e está em busca de um profissional para realizar a operação. E nesse começo, Emilia Pérez é sobre Rita, onde realmente Saldana domina com maestria esse papel e essas passagens, principalmente em uma outra cena lá mais para frente no longa onde performa El Mal (o melhor solo da atriz no longa) durante uma gala beneficente.

Selena Gomez em cena de Emilia Pérez. Foto: Cortesia do Festival do Rio 2024. Todos os direitos reservados.

Assim, Emilia Pérez se divide no antes e depois que Emilia Pérez nasce. E Gascón está excelente em ambas as fases num papel difícil mas executado de uma forma impressionante por essa atriz, relativamente novata. Afinal, ao escolher fazer a transição, o traficante precisa deixar sua persona masculina morrer. E isso significa deixar a esposa Jessi (Gomez) e os filhos também.

Então, a trama meio que parte em continuar a contar a história desses personagens e como eles são afetados pela decisão dele. Mas claro, que por termos um diretor francês em um filme com contexto latino, o melodrama e tom noveslesco dominam a história. Anos depois, e já “uma nova mulher” Emília dá as caras e retorna para a vida de todos, seja Rita, seja Jessi, seja os filhos que teve.

O longa deixa um pouco seu lado musical espalhafatoso e foca em músicas com um tom mais sério e mais tristes. É o caso de um excelente solo que Gomez faz e que realmente a atriz mostra para que veio aqui. E mesmo muito bem em uma série do streaming de sucesso, Gomez claramente é eclipsada pelos colegas extremamente carismáticos Martin Short e Steve Martin, mas em Emilia Pérez fica claro que é a hora e a vez da cantora pop em mostrar seus talentos mais dramáticos e aqui realmente Gomez agarra com unhas e dentes esse momento. É um papel coadjuvante sim, mas de suma importância para a história e para o desenrolar da trama, principalmente quando Jessi e os filhos vão morar com a “Tia” Emília em casarão no México depois de anos morando na Europa.

Assim, Emília Perez sofre com a necessidade de sempre precisar escalonar sua trama, e seus endoidar seus acontecimentos e precisa sempre ser mais e mais. Isso é bom, e ruim para o longa. Afinal, a história, mesmo com 3 personagens já bem estabelecidas, precisa criar e apresentar diversos novos outros arcos narrativos que só inflam a história e introduzem mais  personagens de apoio, como é caso de Epifanía interpretada por Adriana Paz e Gustavo interpretado por Edgar Ramirez. 

Assim, a segunda metade não é mais sobre a transição física e sim sobre o que Emilia faz com essa nova vida que escolheu para si. O foco muda então para uma instituição de caridade sendo apresentada e a forma como a personagem título acaba por quer se redimir com a sociedade. Sem deixar de apresentar mais uma camada na descoberta na identidade dessa mulher trans que compreende ainda mais coisas sobre ela e sua sexualidade, onde tudo isso volta a bater na pergunta principal que Audierd quer responder. É uma trama meio cíclica e cai sempre nos mesmos questionamentos, mas é muito boa de se assistir.

No meio de acontecimentos dramáticos, algumas tragédias, revelações, e tiroteios, Emilia Pérez faz um espetáculo musical e visual regrado de excelentes atuações de suas protagonistas e que entrega uma história sobre a busca de identidade, pertencimento e qual marca você quer deixar no mundo. No final, o que temos é um filme que vem como uma porrada de coisas para serem discutidas envelopado em um musical que chama atenção ao ver, se emocionar e notar a pluralidade de gêneros, de corpos, e tudo mais.   

Nota:

Filme visto na Sessão de Abertura Do Festival do Rio em Outubro de 2024.

Emilia Pérez chega em Fevereiro de 2025 nos cinemas nacionais.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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