Em ritmo de eleição aqui no Brasil, e inspirada nos eventos mais surreais que já aconteceram na política nacional, a série Eleita se apresenta como uma história fictícia muito perto da realidade. Liderada pela frenética e ligada nos 220 v comediante Clarice Falcão, a nova atração nacional do Prime Video conta a história de uma jovem que resolve, de brincadeira, se candidatar ao governo do Rio de Janeiro, e ganha.
Assim, Fefê precisa assumir as funções de um dos maiores Estados do Brasil, sem nem ao menos saber como lidar com seus próprios problemas e sua própria vida. No mesmo estilo da comédia non-sense Veep e em partes das comédias de escritório como The Office e Brooklyn Nine Nine, Eleita se apoia na presença de um elenco entrosado e carismático para contar uma história caótica, pirada e que poderia ser bastante real se não fosse tão mais pirada do que a realidade é, e um dia poderá ser.
E para dar certo, Eleita tem um triunfo que os concorrentes não tem: Clarice Falcão que é o grande destaque, sem dúvidas. Como influenciadora, geração millennial que assume a função de chefe maior do Rio de Janeiro, Falcão é uma metralhadora de piadas, situações embaraçosas e momentos divertidos.
Não tem como não rir, por mais surreal que seja os acontecimentos que se desenrolam depois que Fefê assume o cargo. Dos momentos mais pirados como chegar atrasada na sua própria pose, criar um conflito diplomático com os países do Oriente Médio em relação à venda de petróleo e do pré-sal, ou até mesmo a venda de uma cidade para uma grande multinacional, Falcão arrebenta com um humor afiado e que combina com a forma frenética que essa história é contada e ambientada.
E para isso acontecer, o time de roteiristas encabeçado por Célio Porto, se baseia muitas das situações em eventos que realmente aconteceram na política brasileira. Mas o engraçado que até mesmo muitas das coisas que pareciam ser ficção, realmente aconteceram e deram as caras nos jornais nacionais ao longo dos anos. A série até tem um jornal televisivo próprio que garante divertidos momentos ao saber brincar com essas notícias. Assim, o texto de Eleita acaba por entregar uma mistura de sátira, com esquetes de humor (como as de Porta dos Fundos que Falcão fez parte), mas com uma história roteirizada que acaba por dar certo… em boa parte de sua primeira temporada.
Algumas das tramas paralelas, alguns personagens que surgem no meio do caminho não ajudam o seriado a ser ótimo, mas também não é nada que prejudique a atração. Os episódios, são 7 no primeiro ano, são curtinhos, de quase 30 minutos e que navegam pelas maluquices e politicagens que Fefê, e seu time de gabinete, precisam lidar ao longo dos primeiros dias de mandato. E para isso, temos a presença de Diogo Vilela como o deputado Netinho, muito bem na atração, quase como se fosse a voz da consciência, e a mão responsável que vai guiar Fefê no mundo da política, a hilária Polly Marinho como a política Teresa (seu arco de investigação de contrabando de doces no Palácio é ótimo), o assessor de imprensa medroso Giovanni (interpretado por Gillray Coutinho), Felipe Velozo como o chefe de segurança Marlon e ainda Pablo Pêgas como o descolado assistente da Governadora.
Eleita estão brinca com as situações que Fefê, e seu time, são colocados. Algumas delas dão certo, tem um texto incrível, outras nem tanto, e parece que as gravações em tempos pandêmicos não ajudaram muito algumas coisas a deslanchar. Mas funcionam. Seja na formação do gabinete, a relação com a Câmara dos deputados, os projetos de lei sem pé nem cabeça, as declarações via redes sociais, as maluquices que dão na telha da jovem e tudo mais, deixam a atração com um ar divertido e pirado que é bacana de se acompanhar.
A piada do casinho de Fefê com o jovem estudante André (Rafael Delgado), que o faz ser o Primeira Dama do Estado, é muito divertida, talvez uma das melhores do primeiro ano, e se estende ao longo dos episódios ainda bem. O arco serve para mostrar também um pouco da personalidade que Falcão imprime para a protagonista, uma personagem perdida, sem muito norte, e extremamente auto centrada. Isso fica claro no relacionamento com o seu Primeira Dama, e com a melhor amiga, Nanda (Bella Carneiro) e seu arco narrativo de mudança para São Paulo, e que acabam por ser um dos poucos resquícios que deixam Fefê um pouco mais humanizada e não só uma caricatura unidimensional como outros personagens que apenas tem funções específicas narrativas para orbitar ao redor da protagonista, como por exemplo, como o da ótima Luciana Paes que interpreta uma deputada da bancada evangélica, a Pastora Hosana, que sempre parece arquitetar um tipo de plano mega evil.
Os destaques do primeiro ano de Eleita ficam com os episódios, o 1×01 – Condução Coercitiva, o episódio 3 – A Coisa Pública, o episódio 4 – Relações Públicas e o final da temporada 1×07 – O Princípio do Contraditório com uma excelente participação de Ingrid Guimarães.
No final, Eleita brinca com a loucura que pode ser a política com um tom divertido e que garante uma boa maratona.
Eleita disponível no Prime Video.