domingo, 22 dezembro, 2024
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É Assim Que Acaba | Crítica: Trama espinhosa, excelente Blake Lively

É Assim Que Acaba entrega uma trama espinhosa de fato, mas com uma excelente Blake Lively. Nossa crítica do longa baseado no livro de Colleen Hoover.

É importante notar que logo no começo de É Assim Que Acaba (It Ends With Us, 2024) a protagonista interpretada por Blake Lively, a florista Lily Bloom diz, enquanto flerta com o neurocirurgião sarado e de olhar penetrante Ryle (Justin Baldoni que também assume também a função de direção), que ela é uma narradora não confiável. 

Blake Lively em cena de É Assim Que Acaba. Foto: Photo by Jojo Whilden/Jojo Whilden – © 2023 CTMG, Inc. All Rights Reserved. **ALL IMAGES ARE PROPERTY OF SONY PICTURES ENTERTAINMENT INC. FOR PROMOTIONAL USE ONLY.

Mas no meio dos flertes, das provocações, dos olhares e mãos que rolam na famosa “cena do terraço”, talvez, essa informação possa passar despercebida. Afinal, esse conceito é muito mais aplicado nos livros e até mesmo na obra na qual o filme é baseado, no sucesso de Colleen Hoover, mas que em outra mídia é um recurso que precisa ser explorado de uma outra forma. Já que são plataformas diferentes.

E É Assim Que Acaba consegue fazer o seu melhor aqui, na medida do possível. Afinal, o longa precisa ser visual o suficiente para conseguir preencher as lacunas do que parece querer chegar na grande reviravolta, se é que podemos chamar isso de reviravolta nessa trama: que Lily viveu durante alguns anos um relacionamento abusivo. A direção de Baldoni, então, precisa sempre dar pistas visuais do que vai acontecer com a protagonista e plantar algumas coisas para mostrar que muita coisa já estava ali antes. 

Como vemos na história que É Assim Que Acaba se apresenta como filme, é fácil se deixar “seduzir” por tudo isso, já que aqui o filme precisa nos mostrar os acontecimentos que levaram Lily a se apaixonar por Ryle, diferente disso tudo ser apresentado narrativamente no formato de livro em que precisamos imaginar o que acontece e que não sabermos bem ao certo o que acontece na história como um todo se a protagonista não nos contar. 

E como falamos, Lily é uma narradora não confiável. E isso é bem estabelecido no filme, afinal, nós espectadores, também demoramos para ver o que acontece quando os ciclos de abuso que a jovem vive começam. Da cena da frigideira quente, para a discussão no pé da escada, para a fatídica noite depois que a floricultura da jovem sai na famosa lista dos Lugares em Boston para se visitar, tudo é construído narrativamente e visualmente para pegar, quem caiu na sessão do filme sem saber da trama, de surpresa. 

E, talvez, esse seja o grande acerto do filme de certa forma. E é um pouco conta do trabalho de Lively, que depois de A Incrível História de Adaline (2015) e esticar as pernas, e sair do lugar comum, em Um Pequeno Favor (2018), acabou por fazer uma pausa na carreira, e aqui com É Assim Que Acaba está de volta com tudo e está excelente. Talvez, seja o melhor trabalho dela até então. Afinal, ela é a figura que todos os outros personagens orbitam, que realmente dita o filme, seja nos momentos mais dramáticos, seja nos momentos um pouco mais travados que claramente precisam ser copiar e colar do livro para agradar o fandom gigante formado ao longo dos anos.

E realmente, em É Assim Que Acaba é notável ver que conseguiram fazer com que nós, espectadores (não li o livro, por exemplo), comprássemos esse relacionamento, onde Baldoni e Lively realmente conseguem entregar, no momento do flerta, boas cenas. Mas por outro lado, o filme acaba por ser, e entregar, uma coisa muito 8 ou 80 nesse sentido, afinal, Baldoni também consegue entregar um bom personagem, e acerta em apresentar as oscilações de humor que precisavam ser plantadas aos poucos para darem o contexto para o personagem que foge totalmente do estereótipo de um homem abusador. 

Dito isso, fica claro, que longa por ora soa muito sutil em algumas partes e muito didático em outras. A introdução da versão mais velha do cozinheiro Atlas (um bom Brandon Sklenar vindo da série 1923) pode soar um pouco mais dura e corrida, mas, talvez, venha para mostrar o turbilhão de emoções que chegam para a Lily quando eles se reencontrar, unidas com as lembranças dolorosas do seu passado. Afinal, mesmo focado na personagem, o filme parece estabelecer que sua vida é rodeada por essas figuras masculinas. 

Blake Lively e Justin Baldoni em cena de É Assim Que Acaba. Photo by Courtesy Sony Pictures Ent. – © 2024 CTMG, Inc. All Rights Reserved. **ALL IMAGES ARE PROPERTY OF SONY PICTURES ENTERTAINMENT INC. FOR PROMOTIONAL USE ONLY. SALE, DUPLICATION OR TRANSFER OF THIS MATERIAL IS STRICTLY PROHIBITED.**

É Assim Que Acaba então intercala cenas flashbacks, onde Lily (na versão jovem interpretada por Isabela Ferrer) conheceu Atlas (na versão jovem Alex Neustaedter) quando adolescente no colégio, com as cenas no presente, onde o roteiro de Christy Hall consegue mostrar aos poucos mais da história de vida da protagonista enquanto vivia nos subúrbios, via o relacionamento abusivo que seus próprios seus pais viviam, e encontra em Atlas uma figura de apoio, ao mesmo tempo que ele também encontra na jovem as mesmas coisas.

Assim, a cada ida ao passado conseguimos ver, e entender, mais as questões que envolvem as atitudes que os personagens tomam no presente ao longo do filme que remetem aos acontecimentos do passado, principalmente quando o destino cruza novamente os caminhos de Atlas e Lily. O trabalho pesado é feito por trio principal, afinal, os outros personagens só estão ali por conveniência narrativa e de história. Os atores, tradicionalmente vistos em filmes de comédia, como Jenny Slate e Hasan Minhaj estão ali realmente para serem um alívio um pouco mais cômicos como dois ricaços, onde ela interpreta a melhor amiga que se torna cunhada de Lily e ele o marido dela. O mesmo vale para Amy Morton como a mãe da protagonista que passa o filme todo como uma personagem batida, e nem mesmo quando vê a filha passar por tudo que ela passou consegue ter boas cenas. 

Baldoni volta a trabalhar com história difíceis, e adaptadas de livros, como É Assim Que Acaba depois de ter comandado o teen A Cinco Passos de Você. É uma progressão na carreira de diretor, onde melhora o que vimos lá em 2019. Assim, no final, de uma ótica masculina, sinto que É Assim Que Acaba consegue trabalhar esse assunto espinhoso de uma forma que realmente coloca uma luz nessa questão e serve inclusive até de alerta sobre o quão sutil essas pequenas agressões podem soar mesmo que no final são agressões de qualquer forma. 

Em vez de ser gráfico e focar em desnecessárias cenas de agressão (e talvez também por conta de querer fugir de uma classificação etária mais elevada), o longa acerta em construir essa história, aos poucos, e com algumas cenas picotadas aqui e ali, a forma como o relacionamentos podem se tornarem abusivos mesmo tendo começado de uma forma ok, normal e saudável. 

Mesmo sutil boa parte do tempo, no final, roteiro não fica em cima do muro, e a atuação dos atores, principalmente nas cenas finais de É Assim Que Acaba, soa firme na mensagem e na exposição que o longa dá para o tema. Surpreendentemente entrega uma coisa interessante de se assistir por mais complexa que seja tudo que é apresentado. 

Nota:

É Assim Que Acaba está em cartaz nos cinemas nacionais.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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