Donzela | Crítica: Millie Bobby Brown vs dragão é o suficiente?

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Desde do começo, lá quando projeto de Donzela (Damsel, 2024) foi anunciado, para depois quando tivemos os nomes no elenco divulgado e até mesmo com a narração em off que temos nos minutos iniciais, estava na cara que esse filme não seria um conto de fadas tradicional. E realmente não é. Mas também, ao mesmo tempo, acaba por não revigorar o tema e muito menos entregar um filme bom.

É assistível, não ofende ninguém, mas aqui nem o carisma de Millie Bobby Brown segura o tranco que é Donzela. Nem o dragão falante debochado. Nem Robin Wright como uma caricata Rainha Má nos moldes de Charlize Theron em Branca de Neve e o Caçador (2012). Claro, tudo isso nem é o que mais me incomodou no longa, onde acho que o principal problema fica mesmo com o roteiro de Dan Mazeau que navega por um labirinto de tramas fácies, pistas óbvias que demoram para engrenar efetivamente e resoluções preguiçosas.

Millie Bobby Brown em cena de Donzela. Cr. John Wilson/Netflix ©2023

A tentativa de fazer um certo suspense com a história, apresentar seus personagens, e o que vai acontecer com a jovem Elodie (Brown) ao longo do filme é o que deixa a trama se arrastar mais do que devia. Arrastada igual a nossa jovem protagonista que precisa se empurrar, engatilhar e realmente se arrastar pelo chão de pedras da caverna em que é jogada pelo futuro noivo, o Príncipe Henry (Nick Robinson), e pela mãe dele, a Rainha Isabelle (Wright) para cumprir uma maldição que aterroriza o reino de Aurea, governado por eles, há séculos. 

Assim, a jovem Elodie vai precisar usar sua inteligência e astúcia para se livrar desse grande problema que ela acabou se metendo na tentativa de ajudar seu pai (Ray Winstone), sua madrasta (Angela Bassett, totalmente desperdiçada aqui) e irmã Floria (Brooke Carter) a salvarem a vila que eles moram tomada pelo frio e pela escassez de comida quando a jovem aceita se casar com o Príncipe das terras do sul.

E o que Elodie faz? Luta como uma garota. E por mais que os desafios que Elodie precisa enfrentar do momento que cai caverna a dentro, cruza com a figura do dragão (voz de Shohreh Aghdashloo no original) que cospe fogo e quer coletar a dívida que a família real tem com a criatura, e precisa bolar um plano para sair de lá com vida, até deixam o ritmo do filme com uma sensação aventuresca, Donzela sofre em querer construir essa trama que se conecta com os eventos do passado e o que acontece no presente. 

O longa tenta criar esse quebra-cabeça (muito melhor trabalhado, por exemplo, em Enola Holmes e estrelado pela própria Brown) no meio desse labirinto onde o dragão mora para discutir alguns temas interessantes mesmo que tudo fica muito claro (igual os vermes azuis iluminados encontrados por lá) do que como a história vai se desenrolar. 

De costas Millie Bobby Brown e ainda Nick Robinson, Robin Wright e Milo Twomey em cena de Donzela. Cr. Netflix ©2023

E Donzela se segura muito em Brown, não dá para dizer que isso tudo são flores e mil maravilhas, afinal, a queridinha da Netflix, que foi alçada ao sucesso por Stranger Things, passa boa parte do filme por fazer caras e bocas adoidadas enquanto bola sua saída da caverna com a ajuda das lembranças de diversas outras jovens mulheres que passaram pela mesma situação de serem enganadas, jogadas na caverna, para serem churrasquinho de dragão.

É um filme “girl power”, “unidas venceremos”, “ela não está sozinha”, sim, mas que não sabe como inserir essa temática em sua história sem soar previsível ou como se o Chat GPT tivesse escrito a história. Afinal, quando Elodie finalmente consegue ver o sol novamente, ela tem um outro desafio para ser enfrentado que é desvendar a farsa do ritual que ela se viu metida, continuar a desviar do dragão raivoso que voa por aí, claro, da Rainha Má que fica ainda mais pistola quando encontra uma oponente à altura. 

Acho que o longa, e Brown, trabalham com o que tem em mãos, e Donzela usa e abusa do gigantesco dragão feito por efeitos visuais para esconder um pouco os problemas narrativos que tem. Por outro lado, o diretor Juan Carlos Fresnadillo consegue usar do jogo de sombras para criar boas cenas com o animal voador, desde de vermos algumas cenas pela visão do monstro, ou até mesmo, a forma como o dragão brinca com suas presas nesse jogo de caça.

E isso faz com que a figura do dragão seja bastante presente em Donzela coisa de fazer a HBO com Game Of Thrones sofrer um pouco para as próximas séries derivadas da atração, mas nem isso é capaz de fazer o longa realmente empolgar. E quando Elodie vê que a única pessoa que vai tirar ela dessa situação é ela mesma, a jovem corta os cabelos, suas saias, e empunha uma espada encontrada na caverna para se tornar ela mesma a senhora do seu destino. 

Afinal, no combate Millie Bobby Brown vs dragão o lado certo de estar é da jovem estrela em ascensão em Hollywood, mesmo que, no final, fica claro que Donzela acaba por ser apenas uma cópia, só que com mais efeitos visuais, de outro filme para streaming, o A Princesa (2022), estrelado pela outra queridinha da plataforma, a atriz Joey King. 

Entre altos e baixos, o dragão espirituoso, um noivo banana e uma sogra ardilosa, o caminho de Donzela parece ter sido traçado desde do seu começo em ser mais um filme Netflix que daqui a duas semanas ninguém vai mais lembrar que existiu na medida que uma nova produção chega na plataforma para ser a produção da vez. Pelo menos *essa* história a gente sabe que não é um conto de fadas tradicional, afinal, acontece quase toda semana, certo?

Nota:

Donzela disponível na Netflix.

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