Logo no começo de Deadpool & Wolverine (2024), o Wade Wilson de Ryan Reynolds já nos apresenta com uma piada sobre estar de volta em um novo filme, depois de um bom tempo, por conta da fusão da antiga 20th Century FOX com a Disney alguns anos atrás. E é isso o que você, espectador, pode esperar basicamente desse novo filme como um todo. E de certa forma, talvez, seja isso também, o que realmente faça a diferença nesse novo da Marvel, o único do ano para o estúdio comandado por Kevin Feige.
Afinal, boa parte do texto desse retorno do Mercenário Tagarela tem isso: piadas que se auto referenciam, brincam com os eventos da vida aqui fora, e ainda servem como uma auto provocação para como está o MCU (o Universo Cinematográfico da Marvel) depois de tantos anos, projetos, personagens, linhas do tempo, e cenas pós-créditos.
Deadpool & Wolverine não é só um novo começo para o MCU, mas também serve como um adeus para personagens e Universos que a antiga FOX tinha apresentado lá na época que esse antigo estúdio tinha os direitos de alguns dos personagens dos quadrinhos da Marvel. E que eram personagens importantes do Universo da Marvel como X-Men, Quarteto Fantástico e também Deadpool que ganhou popularidade por conta da versão nos cinemas. Época inclusive que o MCU nem existia, e que os tempos eram outros, uniformes que eram amarelos nos quadrinhos eram pretos e feitos de couro nos cinemas e tudo mais. Foi a época também que os filmes de heróis ainda engatinham em ser o que são hoje em dia (bilhões em bilheteria, contrato para diversos outros filmes e tudo mais) e que nos deu Hugh Jackman como Logan, o Wolverine, personagem que continua extremamente popular, mesmo anos depois de ser introduzido nos cinemas.
E aqui em Deadpool & Wolverine, o mutante, está de volta (com as garras e mau humor) depois de sua trajetória ter sido encerrada lá em Logan (2017) do diretor James Mangold. E o personagem retorna bem nessa fase do MCU que lida com o multiverso e com diversas realidades, então, fica claro que o time de roteiristas formado por Reynolds, Shawn Levi (que comanda o filme), e também por Zeb Wells, Rhett Reese, Paul Wernick (que trabalharam nos primeiros filmes da franquia) não deixam nem o personagem de Jackman, nem o Deadpool, descansarem e aproveitam a questão multiversal para continuarem a história ao longo das linhas temporais que o MCU pode agora visitar com a ajuda da TVA (a organização Autoridade de Variância Temporal que apareceu na série Loki).
Assim, nesse começo, vemos que em Deadpool & Wolverine, a trama vai tirar novas versões (variantes, conceito também introduzidos na série Loki) desses personagens de diferentes cantos desse vasto multiverso. E juntarem em um só deles, e em um novo filme. A ideia é curiosa e levou anos para acontecer. E aqui meio que dá certo? Afinal, é o que o agora com maquiagem, peruca, e que vende carros Wade Wilson (Reynolds no melhor que esteve com o personagem) faz quando é recrutado por um agente da organização que controla o espaço e tempo chamado Sr. Paradox (um excelente Matthew Macfadyen, recém saído das suas vitórias no Emmy por Succession) e que explica para ele o que vai acontecer com a linha do tempo que ele vive e que vai ser apagada da existência.
A missão que Wade Wilson recebe é clara para o que o filme se propõe, mas, sim, é preciso ter feito uma lição de casa prévia e estar por dentro do que rolou no MCU nos últimos tempos e principalmente com a série Loki. Deadpool & Wolverine consegue a proeza de mesclar ser “um filme como uma aventura isolada no MCU” com um “que você precisa ter visto algumas coisas antes para não pegar o trem andando”. Assim, a cada cena ou explicação de o que está rolando, fica claro que Deadpool & Wolverine é um filme que foi feito para o fã hard-core, que sabe tudo sobre o MCU, onde, e em qual cena aparece o quê, quem e em qual filme e não poupa esforços para agradar e rir junto, e de, esse tipo público.
E ao olhar para si, Deadpool & Wolverine entrega uma aventura dentro do MCU que tem como função primordial fazer rir e divertir. Não esperem nada mais que isso. O filme é marcado então pelo espírito bonachão e debochado que sempre foi a marca registrada do personagem e dos filmes do Deadpool, pelas inúmeras cameos, as tão debatidas e teorizadas participações especiais, feitas tão melhor aqui do que foram em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022), por exemplo. Particularmente eu acho que poderíamos ter mais delas, mas lembram quando vimos Andrew Garfield e Tobey Maguire de volta em Homem-Aranha Sem Volta Para Casa (2021)? Então, é basicamente nessa pegada que Deadpool & Wolverine entrega diversas participações especiais (algumas guardadas sete chaves que realmente me pegaram de surpresa!) e que sim, até tem um propósito para a trama, e para onde a história quer levar tanto Deadpool, quanto Wolverine que acabam quem são o foco principal aqui do longa.
E ainda sobre as participações, o diretor Shawn Levi (que melhora na direção depois de ter trabalhado com Reynolds em Free Guy e Projeto Adam) já tinha dado entrevista, onde comentava que o público não deveria pensar 100% nelas e que elas não deviam ser o foco do filme, e, agora, depois de ter visto Deadpool & Wolverine eu concordo 100% com ele. No meio do carrossel de rostos conhecidos em Hollywood e inúmeras piadas que o longa apresenta, o que temos com o filme, então, não mais que dois personagens completamente diferentes com uma missão única de salvar o universo que eles conhecem.
Deadpool & Wolverine bebe da fonte de ser um grande road trip movie com enemy to lovers friends e realmente coloca 100% das suas energias para fazer isso acontecer. Com sangue jorrando adoidado, e umas cenas de porradaria bem bacanas, vemos como Deadpool e Wolverine faz para contar essa história, oras engraçada, oras dramática, sobre esses dois personagens completamente opostos e que precisam se unir para tentarem saírem do chamado Vazio (lugar apresentado também na série Loki) e não serem pegos pela prefeita da região, a vilanesca Cassandra Nova (Emma Corrin, fenomenal aqui), a irmã de Charlie Xavier que garante que no meio dessa diversão toda tenhamos momentos alguém para se temer.
E se Reynolds e Jackman voltaram tipo 100% afiados e como se não tivessem partido, são as participações de Macfadyen e Corrin que mostram para o que vieram e realmente se destacam no filme com esses personagens. A dupla contrasta tão perfeitamente com os protagonistas que realmente são a liga que precisava para o filme. E no meio de participações, piadas, e tudo mais que Deadpool & Wolverine oferece, a Saga do Multiverso ganha mais um capítulo e segue o que foi apresentado no MCU até o momento: novos personagens que não sabemos se vão voltar, ou se iremos ver, novamente, num futuro tão próximo.
Mas Deadpool & Wolverine não deixa de ser uma aventura do personagem daquelas que sabe muito bem brincar com o que tem disponível e que agora consegue colocar esse bonequinho desbocado, acelerado e frenático junto com outros personagens dos quadrinhos da Marvel que desde que a possibilidade de estarem juntos abriu, os fãs não paravam de pedir que isso acontecesse.
No final, Deadpool & Wolverine marca esse retorno de Deadpool para as telonas depois de muito tempo e meio que pavimenta a trama para os próximos capítulos dessa jornada que até então tem sido mais agridoce e mais fragmentada do que foi o começo da Saga Do Infinito. Quem sabe, um dia não veremos Deadpool gritar: Vingadores, Avante! e lutar ao lado desses personagens na Linha do Tempo Sagrada contra alguma ameaça ainda não apresentada. Até lá, teremos Deadpool & Wolverine com sua enxurrada de piadas e referências para nos fazer companhia. E por enquanto está mais do que bom.
Ps: O filme tem cena 1 pós-crédito.
Deadpool & Wolverine chega em 24 de julho nos cinemas nacionais com sessões de pré-estreias pagas.
