domingo, 22 dezembro, 2024
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Da 5 Bloods | Crítica

O timing do lançamento de Da 5 Bloods (2020) – disponível na Netflix com o título nacional de Destacamento Blood – não poderia ser mais propício que nunca. Claro, não podemos assumir que os eventos que vemos atualmente são fruto de ações do agora, pois não são, já acontecem há anos, e são decorrentes de uma visão arcaica e que estão enraizados em nossa sociedade há muito tempo.

A diferença é que nos dias atuais, as vozes que lutam contra tudo isso estão mais amplificadas, sabem o poder do seu local de fala, e tentam não ser mais suprimidas como antes. E assim, a poderosa narrativa que Spike Lee apresenta no seu novo filme serve para honrar as lutas do passado, e ainda deve incitar as futuras gerações nessa jornada para não repetir os erros de antes. Da 5 Bloods conta a história dos 5 soldados que retornam para o Vietnã depois de anos da guerra que assolou o país, mas o filme entrega personagens tão reais que poderia ser a história de muitos outros milhares de jovens negros que foram lutar pelos EUA do outro lado do planeta.

Spike Lee com o elenco de Da 5 Bloods
Foto: Netflix

Depois que Infiltrado na Klan fez sucesso no Festival de Cannes em 2018, Lee retornaria para o mesmo festival, agora como Presidente do Júri, e com um novo filme, se não fosse por conta do surto de coronavírus. Em parceria com a Netflix, o diretor consegue fazer com que sua voz seja ouvida para uma audiência global, e ainda muito maior, onde com Da 5 Bloods ele novamente escancarou verdades e apresentou um filme intenso e caloroso em contar sua história da forma que apenas Spike Lee sabe contar.

Um dos maiores destaques de Da 5 Bloods fica com o elenco e suas atuações impressionantes que conseguem capturar a atenção do espectador e nos faz sentir dentro do filme ao acompanhar junto com os personagens – e não no lugar deles – a jornada deste grupo de amigos de longa data que estão numa viagem rumo a revisitar o passado que se apresenta doloroso para muitos deles.

Lee e os outros 3 roteiristas Danny Bilson, Paul de Meo e Kevin Willmott apresentam logo de cara esse grupo de pessoas rapidamente, e não nos entregam quase sem nenhum contexto sobre quem eles são ou suas trajetórias, e para onde eles vão. Mas ao longo do filme, o roteiro abre diversas portinhas que nos entregam arcos narrativos que contam como eles foram parar lá, suas motivações, e seus todos os problemas que servir no exército americano, na época da guerra do Vietnã, trouxeram para suas vidas.

Quem rouba as cenas é o ator Delroy Lindo, um dos nomes mais conhecidos do grupo, e que realmente se destaca aqui, onde temos os monólogos mais sinceros e emocionantes do filme, principalmente nos momentos finais de Da 5 Bloods. Realmente Lindo está incrível e já se posiciona para galgar uma chance na próxima edição do Oscar, que assim como Cannes foi, será afetado pelo vírus que assola o mundo. E não se engane, todos os outros atores também estão muito bem, em Da 5 Bloods os atores Clarke Peters, Norm Lewis, e  Isiah Whitlock Jr., juntamente com Lindo, possuem uma química incrivelmente bem construída, e realmente se entregam em seus papéis, seja nos momentos de amizade e descontração enquanto seus personagens visitam as cidades do Vietnã e relembram as aventuras do passado de uma forma bem nostálgica, quanto quando, lá na frente, o filme realmente começa a mostrar o motivo da viagem depois de tantos anos. 

O começo de Da 5 Bloods é bem dinâmico e Lee reúne recortes de imagens e acontecimentos reais que marcaram a história da comunidade negra nos EUA com cenas fictícias dos personagens e realmente deixa o filme com um ar mais documentário, igual foi o final de Infiltrado na Klan, e que aqui novamente faz toda a diferença na estética que a produção se apresenta e na forma como a história é contada.

A forma como o longa mescla as histórias do passado, via flashbacks, da primeira vez que o grupo de amigos esteve na guerra, em que tela tem um ratio diferente de como vemos as cenas no presente são muito bem trabalhadas e dão um certo charme para o longa que deveria ser incrivelmente interessante de se acompanhar em uma gigante tela de cinema.

E mesmo com um ótimo começo, Da 5 Bloods parece que perde um pouco seu ritmo quando vemos efetivamente o grupo adentrar na floresta em busca dos restos do antigo capitão Stormin’ Norman (Chadwick Boseman muito bem) que morreu em combate, e claro, das barras de ouro que deveriam ter sido pagas para os vietnamitas na época e que agora dão sopa por aqui escondidas todos esses anos.

Aqui, Lee e o time de roteiristas percebem que nesse miolo é que precisam colocar mais ação em Da 5 Bloods para não perder o espectador durante as 2 horas e 35 minutos que o filme tem, e é isso que acontece mesmo que muitas das opções que a história do filme entrega acabe por ser bem previsíveis para o desenrolar da trama. Violento e cheio de questionamentos morais, Da 5 Bloods mostra essa amizade rachar por conta de desavenças esquecidas e deixadas de lado por anos, e claro, sobre como a grande fortuna que eles carregam muda as relações do grupo.

Da 5 Bloods | Crítica
Foto: Netflix

O roteiro, nessa sua parte central, consegue criar tensão e trabalhar os personagens e seus relacionamentos de uma forma bastante interessante. Da 5 Bloods também mostra a vastidão de sentimentos humanos, sejam eles bons ou ruins, que se afloram nesses amigos durante a viagem e que conseguem fazer com que cada um deles, de sua maneira, confronte o passado e algumas de suas escolhas. Paul (Lindo) precisa se reconciliar com o filho David (Jonathan Majors), Otis (Peters) com uma amante de longa data, e ainda todos eles com as consequências que a guerra trouxe para suas saúdes físicas e mentais. 

Da 5 Bloods poderia ter alguns bons 20 minutos a menos, mas isso não tira o mérito, e a importância, da história que Lee que contar e passar. O drama faz uma longa reflexão sobre a posição dos EUA com seus soldados, e nas guerras que o país se envolveu, sendo que para a população negra diversas outras batalhas eram enfrentadas diariamente, e ainda são, basta acompanhar os noticiários.

No final, Da 5 Bloods entrega uma história cheia de simbolismos e que gera um sentimento inquietante contra as injustiças cometidas num filme imensamente relevante para os dias atuais. A voz de Lee continua uma das mais relevantes e únicas hoje em Hollywood, onde com Da 5 Blood, o diretor nos entrega um filme marcante e extremamente relevante para os momentos atuais e que dá uma aula de como não repetirmos os erros do passado.

Avaliação: 4 de 5.

Destacamento Blood (Da 5 Bloods) disponível na Netflix.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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