quinta-feira, 03 outubro, 2024
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Coringa: Delírio a Dois | Crítica: Quem que faz o palhaço dar risada?

Temos o retorno de Joaquin Phoenix. temos Lady Gaga, temos músicas, mas será que isso é o bastante para fazer palhaço dar risada? Nossa crítica de Coringa: Delírio A Dois.

Dá para dizer, sem sombras de dúvida, que a atuação de Joaquin Phoenix como Arthur Fleck é um dos pilares que ajudaram a fazer Coringa ser o mega filme que foi, quando foi lançado lá em 2019. Era a história do azarão, a revolta dos 99% contra os 1%, a mobilização das massas, e mais que isso, foi um retrato intrigante, sombrio e também convidativo de um dos personagens dos quadrinhos mais interessantes e complexos que já tivemos. 

Joaquin Phoenix em cena de Coringa: Delírio a Dois. Foto: Warner Bros. Pictures. All Rights Reserved.

Se o Batman, o Superman e o Homem-Aranha já tiveram diversas encarnações, o mesmo dá para dizer da figura do Coringa que talvez seja um dos vilões mais populares que existem por aí. E a pergunta que ficava era um mix de “Precisamos sim de mais coisas com esse personagem, nesse Universo e etc” com “Como seria uma continuação dessa história?” e até mesmo “Será que precisamos de uma continuação?”.

E para uma sequência dessa história, e que deu o Oscar para Phoenix na temporada de premiação daquele ano, nada mais justo que trazer para esse Universo sujo, extremamente brutal e realista que diretor Todd Phillips criou, uma personagem que sempre cercou o mundinho Coringa nos quadrinhos, mas que nos últimos anos ganhou uma imensa popularidade: Arlequina, a Harley Quinn.

E claro que para Coringa: Delírio a Dois (Joker: Folie à Deux, 2024) a ideia era muito mais do que apenas abordar o relacionamento dos dois personagens. Até mesmo porque estamos em 2024 e o relacionamento entre esses dois palhaços nunca foi o dos melhores e mais saudáveis, seja nos quadrinhos, na TV, ou nos cinemas. Era uma tarefa interessante e mais do que isso, uma tarefa que seria curiosa para vermos como Phillips iria executar, e de que forma, iria abordar o encontro dos dois.

Afinal, o retorno de Phoenix era certo, mas a escolha de uma atriz que aguentasse o rojão de atuar com o ator recém saído de levar o Oscar pelo papel seria peça fundamental para a sequência dar certo. E o nome cotado (e eventualmente escolhido) foi o de Lady Gaga que veio de outros dois projetos que chamaram atenção nas épocas de seus lançamentos no cinema como Nasce Uma Estrela e Casa Gucci.

Logo depois, tivemos matérias na imprensa americana que diziam que o filme teria uma pegada mais musical e, então, começou a fazer sentido um pouco mais de sentido a escolha da cantora e atriz para o papel. Afinal, mesmo preso, por que não Arthur compartilhar seus delírios com outra pessoa, certo? E até um determinado momento Coringa: Delírio a Dois parecia que ia responder a pergunta: Quem que faz o palhaço dar risada?

E mesmo com o retorno de Phoenix, e basicamente todo mundo da equipe da produção do primeiro filme, a adição de Lady Gaga no elenco, a pergunta que ficava era: será que aguardada continuação da história que pegou o mundo feito um furação e arrecadou mais de 1 bilhão de dólares iria dar bom?

As chances de Coringa: Delírio a Dois dar errado ainda eram grandes. Mas e se desse certo? Afinal, realmente, apostar nessa continuação foi uma aposta arriscada, sem dúvidas, ainda mais numa DC fracionada e com novos comandos criativos na época que o projeto foi aprovado. E depois de vermos o filme, me pergunto, será que foi uma que valeu a pena apostar?

Digamos isso, porque por mais que Phillips volta, e continue, a explorar a cidade de Gotham que nos foi apresentada e fazer novas conexões com o universo do Batman (aqui agora com a presença do Promotor Harvey Dent, por exemplo), parece que Coringa: Delírio a Dois nunca sabe onde quer chegar com essa nova história, em como vai contar essa história, e por que está contando essa história.

Narrativamente falando, é notável, que ao longo de 2h20min de duração, o filme não consegue contar essa história, e ainda parece que falta coisa para ser contada, mostrada e esmiuçada. Afinal, demora muito para o filme mostrar para que veio e por que estamos acompanhando novamente Arthur Fleck (Phoenix, novamente muito bem, mas que não entrega nada a mais do que vimos lá em 2019) e seus devaneios mentais que o levam a assumir essa persona rebelde chamada de Coringa.

Claro, o trabalho de produção, de recriação dessa Gotham, de maquiagem, de figurino, de composição, tudo é, mais uma vez, impecável. Mais alguma coisa parece soar meio estranho nessa segunda revisitada. Já que passamos um bom tempo vendo a vida que Arthur leva preso depois de ter se tornado uma espécie de mártir para o povo de Gotham quando matou um apresentador em rede nacional, entre outros crimes.

E claro, é interessante também vermos a estratégia da advogada de defesa Maryanne Stewart (Catherine Keener) em alegar que o personagem sofre de transtorno dissociativo de personalidade que o “O Coringa” é apenas uma das personalidades que vivem dentro da mente de Arthur. Afinal, é o que a advogada vai propor durante o julgamento de Arthur na corte de Gotham que será televisionado pela primeira vez, onde aqui não é se Arthur cometeu esses crimes e sim como se livraria da prisão se alegasse insanidade.

E no meio da melancolia, dos cigarros dados pelo chefe dos carcereiros interpretado pelo ótimo Brendan Gleeson, e do mundinho cinzento e chuvoso, Arthur cruza caminho com uma outra detenta que ele conhece chamada Lee (Gaga, num trabalho primoroso aqui) e que durante as sessões de musicoterapia, bem, fica claro que esse palhaço finalmente dá suas risadas com alguém parecido com ele. 

Joaquin Phoenix e Lady Gaga em cena de Coringa: Delírio a Dois. Foto: Warner Bros. Pictures. All Rights Reserved.

Entre delírios de uma dança à luz do luar numa cena realmente muito bonita entre os dois personagens, apresentações de talk shows no melhor estilo dos anos 60, e uma sequência de diversos outros números musicais, Arthur e Lee parecem terem se encontrado. Mas…. o filme pouco se aproveita disso para realmente chacoalhar a história. E deixamos claro aqui, que o longa já apela para o romance, a musicalidade e para músicas desde do começo, não é por que Lady Gaga está no filme que isso acontece, ok?

A imaginação fértil de Arthur só ganha novas camadas, cores e notas quando ele começa a fantasiar uma relação com Lee. E meio que é o que peca em Coringa: Delírio a Dois é isso, conseguir sair da sombra do primeiro filme. Ao tentar criar uma coisa nova, extremamente inovadora e se reinventar, Coringa: Delírio a Dois parece que atira para todos os lados, entrega cenas gigantes, momentos musicais confusos, e que realmente não segura a onda de ter, e precisar, levar a história de Arthur, e que tudo que ele aprontou no primeiro filme, para outro patamar.

As partes musicais são muito bem feitas, claro, e até ajudam ajudam a contar essa história, só que temos muitas delas. Dá para ver que estão ali por puro capricho, sim. É o que mais atrapalha no filme? Não. O problema é a forma e o como o filme conta tudo isso e inclui essas passagens. Temos reviravoltas na trama igual no primeiro filme? Sim. Mas no meio de tanta cantoria, confabulações musicais, e de termos uma desconstrução do que é mais uma vez a figura do Coringa, que faz o Coringa ser o Coringa, no final das contas Coringa: Delírio a Dois acaba por ser apenas um surto coletivo mesmo.

Um filme que esperamos, e torcemos que desse certo, e que possivelmente vai fazer muita gente coringar ao sair da sessão. Afinal, são quase 2h20 de filme. O problema não é a duração e sim que estamos na segunda hora do filme e as decisões narrativas parecem que invalidam tudo o que vimos até então. E na medida que o julgamento de Arthur começa e se desenrola, a trama vai para um outro lado e que realmente as coisas começam a fazer sentido de alguma forma.

Ao estabelecer e bater o martelo sobre quem é o Coringa, quem é Arthur, e o que Arthur representa para a população de Gotham e o que o Coringa representa em contra-partida, Coringa: Delírio a Dois apenas tenta amarrar tudo de uma forma meio apressada, confusa, e mesmo com um final explosivo, embaralha todas as cartas que tem na mesa, onde os coringas do baralho ficam jogados e espalhados por aí em puro e total caos.

É o espetáculo, pelo espetáculo, mesmo que a figura do palhaço do crime seja deixada de lado, onde a realidade chocante e cruel cai feito uma bola de aço na cabeça de todos os envolvidos. É o que, talvez, esse mundo, essa Gotham, criada por Phillips e Phoenix precise, o que esses personagens baseados na figuras arquetípicas dos quadrinhos precisam, nesse Universo. E no final, o que temos de certa forma em Coringa: Delírio a Dois, é estar no carro em movimento e termos o freio de mão puxado rapidamente, o que nada mais só impede esse trem do surto que foi, essa versão do Coringa de Phoenix, de continuar. 

Nota:

Coringa: Delírio a Dois chega nos cinemas em 3 de outubro.






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Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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