Rio de Janeiro. 1959. Coisa Mais Linda tem cara de novela das 6h, mas só a cara mesmo. A produção chega na Netflix com um visual caprichado, uma fotografia bem chamativa e bonita como se tivessem aplicado um desses filtros do Instagram, sabe? Fora isso, o texto de Heather Ruth parece saber bem como andavam as coisas no Brasil naquela época e as complexas relações sociais que eram impostas para as mulheres na sociedade.
Coisa Mais Linda, ou A Maravilhosa Sra. Coisa Mais Linda, onde Netflix, agora tem uma A Maravilhosa Sra. Maisel para chamar de tua, é um dos acertos da expansão nacional do serviço de streaming aqui no Brasil. A série lembra uma dessas produções da HBO Latin America, e claramente isso é reflexo da contratação de um dos maiores talentos da concorrência que foi para o serviço de streaming há pouco tempo. Coisa Mais Linda tem uma sofisticação enorme e vai além, muito além, das outras produções nacionais já lançadas aqui. Coisa Mais Linda, comprova o ditado, com dinheiro pode se tudo, só olhar o elenco com rostos conhecidos do público brasileiro, que aqui, se aventuram nos prazeres dessa nova era que as produções nacionais se encontram, a era do streaming.
Coisa Mais Linda fala sobre recomeços e novos começos, encarrar o mundo de frente e com a cabeça erguida. Isso fica claro, ao vermos as coisas ao pegarem fogo, brilhar em tela, quando já no episódio piloto “1×01 – Bem-Vindo Ao Rio” a jovem Maria Luiza (a ótima Maria Casadevall) chega no Rio de Janeiro sozinha para encontrar o marido Pedro, para logo em seguida, descobrir que o rapaz sumiu e levou todo seu dinheiro.
Assim, junto com o fogo, o copo quebrado e as cinzas das coisas no chão do hotelzinho que ela vai parar, vemos o renascer da jovem, agora Malu, que inicia uma nova vida, e começa uma nova jornada cercada de muita música nacional, principalmente de um novo ritmo contagiante, a Bossa Nova. E isso, tudo com a ajuda de algumas amizades que florescem ao decorrer da temporada, graças à uma festa em um barco.
Assim, os primeiros episódios de Coisa Mais Linda introduz o espectador e a própria jovem, a classuda Maria Luíza, para um Brasil popular, do samba, das bebidas diferentes, e do jeitinho carioca. A amizade entre a jovem rica de São Paulo, e a batalhadora, mãe solo e negra Adélia (Pathy de Jesus, talentosa) é o começo dessa história que celebra a união feminina com uma véia musical gigante e deliciosa.
Em Coisa Mais Linda,pode ser 1959, mas na série, as mulheres são unidas, empoderadas e independentes, como estivéssemos em pleno 2019 e isso fica muito claro nos episódios seguintes 1×02 – Garotas Não São Bem-Vindas e 1×03 – Águas de Agosto, onde vemos o quarteto principal, cada uma a sua maneira, descobrir novas coisas, novos talentos e batalharem para mudarem suas vidas.
Em Coisa Mais Linda vemos grupo formado por Malu, Adélia e mais as amigas Lígia (Fernanda Vasconcellos) e Thereza (Mel Lisboa) tomarem as rédeas de suas vidas e lutarem com unhas e dentes para um espaço na sociedade, coisa que a mulher naquela época não tinha, seja ao abrir um próprio negócio, por mais diversidade no local de trabalho e até mesmo nas questões das relações familiares. Numa época, onde os homens sempre tiveram o destaque, aqui na série, eles ficam em segundo plano, mas ajudam a contar essa história, como é o caso dos músicos Chico Carvalho (Leandro Lima) e o Capitão (Ícaro Silva, numa ótima escalação).
Nesse começo de temporada, Coisa Mais Linda faz uma celebração de uma das coisas lindas que o Brasil tem, seu povo e sua garra, numa série que deverá trazer uma reflexão sobre a forma que a sociedade coloca as personagens em caixas, onde torcemos que a produção, ao longo da temporada, inicie um debate saudável sobre assuntos ainda presente no cotidiano do brasileiro, seja nas mesas de bares, nas salas de casa ou nos escritórios e salinhas de café.
Coisa Mais Linda chega com 7 episódios na Netflix dia 22 de março.
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