O amor teórico não está morto. Esse é o título de um dos episódios de uma série que não tem nada haver com Chemical Hearts (2020), mas acho que é a melhor frase que pode definir o que eu senti ao assistir o filme. O longa da Prime Video, que chega na próxima sexta (21), mostra que o amor pode ser confuso em sua própria maneira e é bem mais do que apenas uma combinação de fatores, é uma química entre duas pessoas que inunda nosso sistema nervoso e provoca diversas reações.
Hollywood vem numa crescente de produções ultimamente que conseguem trazer um olhar mais íntimo e realista sobre o que é ser adolescente e transmitir isso sem soar forçado ou caricato. E aqui, Chemical Hearts faz um longa genuinamente bonito e sensível em sua proposta, e que consegue capturar a essência, e provocar reflexões, sobre o que é, e como é ser adolescente com todo aquele turbilhão de emoções envolvido.
Tivemos a série Skins, e mais recentemente, em suas próprias maneiras, as séries Euphoria, Sex Education e até mesmo o filme Booksmart – Fora de Série (2019) que conseguiram mostrar, e retratar em tela, como os personagens adolescentes pensam e como que lidam com essa transição para o mundo adulto. E Chemical Hearts vem embalado numa história extremamente melancólica para contar tudo isso e mostrar que realmente em uma certa idade está tudo a flor da pele, está ok termos diversas dúvidas e questionamentos sobre tudo mesmo, e que também está tudo bem em sentir tudo isso.
Aqui, fica claro a intenção dos produtores em conseguir transportar esse sentimento nesse longa baseado no livro A Química Que Há entre Nós da autora Krystal Sutherland. Não li o livro, então meu único comparativo é com outras experiências, com o próprio filme que acerta a forma que os personagens, e a história, são introduzidos para nós, o público.
Claro, Chemical Hearts não foge de alguns clichês de produções do gênero, e acaba por tratar tudo de uma forma super intensa, mas realmente sabe encaixar cada peça da história (como o vaso de Henry!) para formar essa trama que no final acaba por ser bem bonita. Existe uma curiosidade por trás de queremos saber o que aconteceu com a jovem Grace Town (Lili Reinhart) – a garota tem uma aura de mistério que permeia boa parte do filme – mas assim como, Henry (Austin Abrams), só vamos descobrir mais sobre ela, aos poucos. Grace e Henry se conhecem quando os dois se encontram pela primeira vez, no primeiro dia, do último ano no colégio. Ela foi transferida, é nova no colégio, e anda cabisbaixa por aí por conta de um problema na perna, já o garoto tem uma certa empolgação ao se aproximar dela ao descobrir que ganhou o cargo de editor-chefe no jornal da escola.
Assim, os vão trabalhar juntos, e descobrir mais sobre o outro. E a geração A Culpa das Estrelas (2014) e Cidades de Papel (2015), e até mesmo o recente A Cinco Passos de Você (2019) já conhecem esse história de longe, e Chemical Hearts realmente faz o típico filme garoto conhece garota, mas entrega isso com um tom diferente do que estamos acompanhando, sabe? É um longa adolescente moderno que abusa de um filtro de instagram sépia bem forte, mas ao mesmo tempo também se apresenta com uma forte estética do final dos anos 80 e começo dos anos 90, e utiliza tecnologias atuais como celulares, redes sociais e internet.
Ao assistir o longa, é como ser inundado pela atmosfera do filme que nos deixa intrigado para saber o que vai acontecer com esses dois adolescentes que compartilham experiências e vivem momentos tristes e felizes juntos. A direção de Richard Tanne consegue capturar bem todas as emoções que a dupla – e os outros personagens, como a irmã mais velha do protagonista (Sarah Jones), os pais com um relacionamento aparentemente perfeito, ou a amiga lésbica descolada (Kara Young) – querem passar enquanto lidam com novos amores, amores não correspondidos, e términos. Chemical Hearts tem umas cenas muito bem feitas visualmente, e umas jogadas de câmera que uau….
Mas realmente quem consegue se destacar é Lili Reinhart (também produtora do filme) que parece se doar e entregar para compor essa personagem complexa e cheia de pequenas camadas que são desenvolvidas e apresentadas para Henry, e o espectador, aos poucos, como falamos. Já o colega de cena de Reinhart, o jovem ator Austin Abrams até que segura as pontas também, mas não é nada demais, muitas vezes é apático em tela, e realmente fica aquém do que outros atores com o mesmo molde que poderiam entregar algo a mais para o personagem como, por exemplo, o queridinho das cinéfilas Timothée Chalamet, ou até mesmo o colega de seriado Riverdale de Reinhart, o ator Cole Sprouse. Para o papel, ambos poderiam ser uma melhor opção, e no final, o filme é de Reinhart que o domina do começo ao fim.
O roteiro de Chemical Hearts, adaptado por Tanne, tanta abordar alguns assuntos um pouco mais espinhosos mas não se aprofunda necessariamente neles para não ficar ainda mais intenso que já é… talvez o livro tenha uma outra abordagem. Mas acho que a trama evolui de uma maneira natural com alguns altos e baixos, e como falei, nos atiça para querer saber mais da história, deste mundo, e do relacionamento de Grace e Henry, por mais que ao longo do filme entendemos as escolhas feitas para o destino dos personagens.
No final, Chemical Hearts mostra que às vezes não precisamos de milhares de cartas dizendo ps: eu te amo, e uma barraca de beijo para contar uma bonita história de amor. O drama teen da Prime Video deve conseguir despertar sentimentos variados em muitos corações de pedra, assim como esse de quem os escreve. Recomendo separar umas caixinhas de lenço.
Chemical Hearts chega em 21 de agosto na Prime Video.