Sinto que desde do lançamento de Guardiões da Galáxia, lá em 2014, Hollywood tenta replicar o sucesso do longa de James Gunn. O próprio James Gunn tenta. Tentou na Marvel Studios e na DC. A Sony tenta reviver a franquia Resident Evil, a Netflix entregou uma nota para Zack Snyder construir um Universo chamado de Rebel Moon, e diversos outros também foram por esse caminho desde de Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (2017) até Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes no ano passado. E com Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo (Borderlands, 2024) não é diferente.
O que temos aqui é mais um longa de equipe de desajustados que precisam se unir para salvar o mundo e o universo. Por isso o subtítulo nacional gigantesco. Mas nem mesmo duas vencedoras do Oscar, Cate Blanchett e Jamie Lee Curtis conseguem dar um UP para essa adaptação dos jogos Borderlands. O que temos em tela, é um filme frustrante de se assistir, igual quando jogamos alguma coisa horas a fio e por algum motivo o progresso não é salvo, sabe?
São poucas coisas, foco no pouca, que salvam o longa de entregar uma colcha de retalhos de tudo que andamos vendo no cinema nesse gênero ao longo dos anos. Personagens nem um pouco bem trabalhados, que não são do bem, mas também não são do mal, vilões genéricos, organizações megaevil que dominam boa parte do Universo, profecias e escolhidos (aqui no caso escolhida, a Filha de Pandora), um planeta distante que se torna a morada de diversos desajustados, cenas de ação frenéticas e uma explosão de cores. Borderlands tem tudo isso, tem um robô simpático e espirituoso voz de Jack Black e que talvez seja realmente a única coisa que funcione no filme, e que no final acaba por ser mais do mesmo.
Digo, Blanchett não está ruim, afinal, sua presença ali é basicamente o que chama atenção nesse filme, mas também Lilith, sua personagem, uma mercenária que acaba por aceitar (ela é obrigada, ameaçada e ludibriado) uma missão de resgatar a filha, a jovem Tiny Tina (Ariana Greenblatt que tem embarcado numa onda crescente de projetos), do líder de uma grande organização chamada Atlas (Edgar Ramírez na busca por um grande projeto) que foi sequestrada.
Blanchett entrega uma personagem no estilo do próprio Star Lord de Chris Pratt com um toque de Indiana Jones de Harrison Ford e chama atenção pelo cabelo colorido, pelas tiradas bem dadas e sua voz marcante. Mas também é isso, a vencedora do Oscar faz muito com o pouco que recebe do roteiro, e da tela verde que cerca os personagens nesse longa.
O diretor Eli Roth parece também que deixou tudo que deu certo no contido e atmosférico Feriado Sangrento de lado, onde os rumores que não voltou para as regravações de Borderlands necessárias para melhorarem o longa parecem serem a versão oficial para o rocambole que filme se tornou. Segundo informações, Tim Miller cuidou das regravações.
E isso é sentido, afinal, boa parte das cenas tem cara que foram dirigidas por outra pessoa mesmo. Kevin Hart segue num ano ruim depois de lançar dois filmes diretamente para streaming, destino onde Borderlands deveria ter ido. Hart não se destaca, mas não está horrível, apenas não entrega também o seu melhor e apenas está ali para tentar ser uma figura paterna para a jovem Tiny Tina, na medida que seu personagem o soldado Roland acaba por ser os músculos da operação ao lado de Krieg (Florian Munteanu) um mascarado que só sabe repetir frases feitas, prontas e que parece terem saído dos jogos (não joguei os jogos!).
Assim, a aventura segue esses personagens ao longo de evitar serem pegos por diversas forças que os perseguem e ainda descobrirem como lidarem uns aos outros, onde principalmente a casca grossa de Lilith começa a gostar de Tiny Tina. É como se tivéssemos o Mandalorian de Pedro Pascal e o Baby Yoda, só que depois que o trem do hype desses personagens tivesse passado. É um clássico filme de ação, onde os “anti-heróis” descobrem que tem mais partes de heróis do que de vilões. A mitologia apresentada, talvez, faça sentido para quem jogou os jogos, mas narrativamente falando, Borderlands apenas soa como uma grande adaptação de alguma coisa que seria um sucesso nos anos 2000. No início da década, onde as adaptações de quadrinhos ainda estavam no começo e os Universos compartilhados não tinham tomado conta dos cinemas.
No final das contas, tirando o robô Claptrap, e algumas cenas ali e ali, Borderlands poderia ficar no longínquo planeta de Pandora e não ter saído do papel. É mais um caso do que não fazer nessa busca por um novo IP (propriedade intelectual) para chamar de franquia.