A grande questão que envolve a popularização e a proliferação de filmes de terror ultimamente é que normalmente são produções de baixo orçamento, que se bem feitas, e lançadas no cinema, podem garantir um bom dinheiro para o estúdio.
E Hollywood tem capitalizado no susto para fazer a máquina de dinheiro rodar nessa pós-pandemia. E agora com Boogeyman: Seu Medo é Real (The Boogeyman, 2023) fica claro que o medo é uma coisa bem real de se apostar, onde o longa consegue entregar uma experiência de terror extremamente válida de se assistir nos cinemas para levar bons sustos ao longo da sessão.
É o segundo filme que vemos em 2023 que foi planejado para um lançamento no streaming, mas em alguma sala, algum executivo falou: e se lançássemos esse aqui nos cinemas? Assim, Boogeyman: Seu Medo é Real é a tentativa da 20th Century Studios de tentar replicar o sucesso de Noites Brutais (Barbarian lançado pelo mesmo estúdios nos cinemas dos EUA, onde aqui chegou diretamente no Star+) no ano passado com um novo hit de terror.
Se Boogeyman: Seu Medo é Real tem o mesmo apelo e “carisma” para isso? Não, mas isso não quer dizer que não é preciso tomar cuidado com esse bicho-papão, onde fica claro com o longa que esse bicho-papão vai te pegar, te pegar daqui e te pegar de lá.
O diretor Rob Savage vem de bons trabalhos no gênero como Cuidado Com Quem Chama (2020) e DashCam (2021) onde tem a oportunidade de embarcar numa produção maior e consegue ampliar o que já vinha apresentado em trabalhos anteriores. Com Boogeyman: Seu Medo é Real, Savage consegue criar um longa bem atmosférico, sufocante o bastante para nos fazer ficar preso nessa história e que principalmente sabe construir bem a antecipação ao susto.
Boogeyman: Seu Medo é Real trabalha em diversas frentes do gênero para criar essa história sobre o bicho-papão que aterroriza uma família de luto. Não é só um filme de monstro, e sim, um longa que trabalha por diversas vertentes que servem para contar essa história da maneira mais interessante possível para o que a trama quer contar.
Temos toda a questão que envolve o luto desses personagens, a forma como duas jovens processam a morte da mãe, como o marido dessa mulher processa seu luto, e como isso afeta as dinâmicas entre eles, e com as outras pessoas. Assim, o longa trabalha com o suspense psicológico que a “possível” presença do tal bicho-papão causa para esse grupo, que começa com a mais jovem, e depois com a mais velha, e claro, efetivamente lá mais para frente na trama com o combate deles essa criatura do mal, com toda a mitologia envolvida nessa história e todas as vítimas que o monstro já fez.
Em Boogeyman: Seu Medo é Real, a forma como esse ser do mal vem para gerar situações em que o medo é tão profundo e real para esses personagens é quando o filme realmente mostra para que veio, empolga e assusta na medida certa. E bem mais do que apenas depender da figura monstruosa para assustar, Boogeyman: Seu Medo é Real segue a mesma linha do já icônico Um Lugar Silencioso, e se apoia num primeiro momento no conceito do medo que essa criatura causa, antes de efetivamente vermos esse demônio em sua total glória assustadora.
É uma figura que alimenta angústias, conflitos e dos medos das pessoas, que vaga pelo escuro e que efetivamente brinca com suas vítimas antes de atacar. E esse trabalho de criar esses momentos são realmente o que chamam a atenção, onde que teve pelo menos umas duas cenas que eu literalmente cobri o rosto para não ver o que iria acontecer em cena.
E essa qualidade de produção, seja pelo roteiro do trio Scott Beck, Bryan Woods e Mark Heyman adaptado do conto de Stephen King, seja pela direção de Savage, é amplificada no longa também por conta do bom trabalho do elenco formado pela atriz mirim Vivien Lyra Blair (de Obi-Wan Kenobi) como a jovem Sawyer, Chris Messina (visto em Air – A História Por Trás do Logo) como o pai Will, e Sophie Thatcher (da série Yellowjackets) como Sadie, onde, principalmente elas, precisam enfrentar a figura onipresente desse demônio que chega nesta casa para se alimentar do luto dos Harper.
O mais interessante de assistir em Boogeyman: Seu Medo é Real o processo que essas irmãs levam para efetivamente entenderem o que está acontecendo nesta casa na medida que as situações criadas pela presença do monstro afetam seu dia-a-dia depois que um dos pacientes do pai, um perturbado David Dastmalchian, é encontrado morto em um quarto da casa que ele compartilha com sua clínica.
Assim, o longa abusa de intensas cenas para criar essa narrativa de terror. Boogeyman: Seu Medo é Real mostra desde de Sawyer que anda pela casa com sua bola de luz, até mesmo Sadie quando recebe a vista de “suas amigas” em uma noite das garotas que dá absolutamente errado por conta da presença dessa figura maligna já dentro da residência.
O trabalho tanto de Blair quanto de Thatcher é fundamental para deixar a ambientação do longa ajudar a contar essa história e os pedaços desse quebra-cabeça.
Boogeyman: Seu Medo é Real então, coloca esses atores para trabalharem com o escuro e a ajuda de jogos de luzes que variam entre verdes, azuis, e vermelhas, suas atuações, e ambientação da produção, nos faz cair de cabeça no que o longa quer contar e no que esses personagens passam.
Da cena onde estamos no consultório da terapeuta (LisaGay Hamilton) das jovens, em que as luzes se apagam e que Sawyer precisa enfrentar seu medo do escuro com a luz vermelha e que dá a oportunidade para o demônio aparecer mais uma vez, até mesmo para a cena onde vemos a família lutar contra essa figura do mal no porão da casa, o longa vai por desmembrar esse medo do escuro e deixar bem claro a ameaça que essas pessoas enfrentam.
Ao seguir a cartilha clássica dos longas de terror, Boogeyman: Seu Medo é Real se apoia no tom mais intimista, nas as ameaças que são extremamente pessoais para os personagens, em uma mitologia para ser entendida, decifrada, e usada para acabar com a figura maligna, e claro, o uso da figura da final girl para fazer tudo isso acontecer.
E principalmente, o longa se apoia no susto, e no jumpscare, para entregar uma experiência de terror para ser vivenciada no coletivo, dentro da sala de cinema. Afinal, é um dos motivos que também fazem os filmes de terror terem tido essa ressurreição nos últimos anos e terem saído da obscuridade e indo para a luz, onde o que temos aqui é o estúdio contar as notas de dinheiro que entram quando se aposta num bom longa de terror.
No final, no escuro, o espectador se apavora com Boogeyman: Seu Medo é Real, e na luz, o estúdio coleta o dinheiro, em mais um caso de uma receita que tem dado certo, até agora.
Onde assistir Boogeyman: Seu Medo é Real?
Boogeyman: Seu Medo é Real chega nos cinemas em 1º de junho.