Bom dia, Verônica, boa tarde, Netflix. O seriado nacional Bom Dia, Verônica chega no catálogo do serviço de streaming dando um bom dia para o mês de Outubro, período onde as principais produções no mundinho das séries chegam para começar um novo ciclo, chamado de Fall Season.
E aqui, Bom Dia, Verônica não faz feio, entrega uma das produções mais adultas e intensas que a Netflix já lançou no catálogo com o selo nacional e que mostra que o Brasil pode sim fazer bonito em séries de gênero.
Bom Dia, Verônica une uma trama investigativa, a busca por um serial killer, com questões femininas, e faz um bom começo para uma temporada que promete muito mais reviravoltas lá para frente. Nos três episódios disponibilizados para o ArrobaNerd, vimos que Bom Dia, Verônica consegue criar personagens completamente bem trabalhados e cheio de camadas que são desenroladas aos poucos durante a trama do primeiro ano. Bom Dia, Verônica acerta também em criar uma atmosfera convidativa para contar sua história. Assim, cabe a nós, como espectadores, desvendar os pedaços desse quebra-cabeça interessante e mórbido e que se apresenta logo de cara: a busca por um cara/golpista/maníaco que além de aplicar um golpe de Boa Noite, Cinderela (em um trocadilho com o título da série) em suas vítimas, as rouba, tira fotos delas dopadas, e ainda as marca com um tipo de ácido.
E para isso, somos apresentados para a escrivã Verônica (Tainá Müller) que se vê no meio desse caso quando a delegacia de polícia onde ela trabalha, recebe uma das vítimas do tal cara, que sofre a pressão do acontecido e se mata na frente da jovem no meio do seu expediente. A trama desse caso, leva Verônica e o time de outros detetives a cairem em um outro caso, o de um outro cara/serial maluco muito mais esperto e sádico do que o caso que a delegacia investiga nesse primeiro momento.
Bom Dia, Verônica tem um quê da (ótima!) série britânica The Fall, onde Verônica parece se conectar profundamente com a mente das pessoas que a investiga e isso a ajuda encontrar as pistas e mapear o modo que essas pessoas atuam. E Tainá Müller faz um bom papel aqui na série, afinal sua Verônica é muito mais que isso, ela é uma mulher com um próprio passado perturbador, tem um senso de justiça enorme, e que não quer desapontar as vítimas de abuso que vê passar na delegacia. Müller entrega uma ótima atuação, bem precisa e interessante, afinal, a cada momento uma nova faceta de sua Verônica surge, onde temos um pouco de sua história mostrada para o público, como os acontecimentos que a levaram a trabalhar na delegacia, seu relacionamento com o marido, seus filhos, e o delegado chefe de polícia Carvana (Antônio Grassi).
E ao mesmo tempo que conhecemos mais sobre a nossa protagonista, a vemos também investigar seus casos por fora, afinal, Verônica não é uma detetive, e sim como diz uma colega delegada que ela não se dá bem, a jovem Anita (Elisa Volpatto), ela é “apenas uma escrivã”. E ao colocar Verônica nessa trama de investigação complicada, Bom Dia, Verônica fala sobre o machismo no ambiente de trabalho, competição feminina, e ainda faz um olhar sobre toda a cultura do assédio, e como é difícil (aqui deixando claro não ser meu local de fala) para uma mulher ir a frente e denunciar seu abusador, relembrar os acontecimentos, e o que os eventos fazem com o seu psicológico.
E Bom Dia, Verônica parece preparar o terreno para o embate entre Verônica e os dois responsáveis pelos casos que ela investiga. Enquanto a série os trabalha de forma paralela, ficamos curioso em palpitar se os casos não estão interligados entre si. Deixamos aí o questionamento para o leitor.
Enquanto isso, do outro lado, temos uma das tais pessoas que Verônica passa a investigar que também ganham destaque no começo da temporada. É o caso do policial Brandão (Eduardo Moscovis, incrível no papel e bastante ameaçador) e sua esposa Janete (Camila Morgado dando novamente uma aula de atuação) como um casal simples, que luta para tentar engravidar, mas que também escondem um segredo que parece ser o centro da trama. Brandão e Janete fazem uma dupla como outras já retratadas em produções que falam sobre o tema, mas tem uma certa diferença que deixa a história ainda mais alarmante e curiosa de vermos como ela vai se desenrolar.
Bom Dia, Verônica usa essa parte da trama para falar de relacionamentos abusivos e da toxicalidade que eles se apresentam em sua complexidade e intensidade. Janete ao mesmo tempo que parece ter consciência dos abusos psicológicos do marido, também se sente tão presa na gaiola que está, com a auto-estima tão abalada, que não tem forças para tentar se libertar das amarras que vive. Os poucos lampejos que ela tem para tentar fazer a coisa certa são minados por ela mesma e que mostram o poder do fascínio que seu marido tem sobre ela.
E ao mesmo tempo que Bom Dia, Verônica segura informações cruciais sobre a trama, e sobre como Brandão age – afinal o pouco que sabemos é que ele sequestra suas vítimas e as deixa presas em um porão e pratica atos sexuais e de tortura – também vemos pouco de suas motivações e como isso tudo funciona. Bom Dia, Verônica constrói uma narrativa empolgante de se acompanhar nesse começo, afinal, queremos saber mais sobre a jovem escrivã, seus casos, e claro, aguardar para ver se ela vai conseguir capturar as pessoas que investiga. O mesmo vale para a personagem de Morgado que se mostra muito mais complexa do que parece ser, e ainda como Brandão vai passar para atrás (ou não!) Verônica e outros policiais.
Assim, Bom Dia, Verônica entrega um robusto e incrível começo de temporada em uma produção que promete dar o que falar no serviço de streaming. No final, Bom Dia, Verônica faz uma série nacional com jeitão de série hollywoodiana e uma maratona que não pode deixar de ser vista dentre as diversas opções do mês no serviço de streaming.
Bom Dia, Verônica chega em 1º de outubro.
A Netflix enviou para o site os primeiros episódios para fazermos esse texto de primeiras impressões.
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