Atualmente, parece, que o nome do jogo no streaming, pelo menos aqui na América Latina, é apostar em um gênero extremamente popular na região: as novelas. São elas, com suas tramas fantabulosas, personagens caricatos, vilões inescrupulosos e finais felizes que quase sempre terminam em casamento que são a nova arma das plataformas de streaming.
A Netflix lançou a sua, uma brasileira, a Max tem duas encaminhadas, o Disney+ também retorna com novos episódios de uma produção novelesca de sucesso, e o Prime Video entra nessa jogada com novos episódios de Betty La Fea a primeira versão do sucesso colombiano que ganhou diversas versões ao redor do mundo, inclusive no Brasil e nos EUA ao longo dos anos.
E assim Betty, a Feia: A História Continua agora 20 anos depois dos eventos da novela, onde a desajeitada, mas de bom coração, Betty (Ana María Orozco) está de volta para novas aventuras com par romântico que terminou casada na novela, o empresário Armando (Jorge Enrique Abello) e na EcoModas, a empresa do ramo da moda que foi palco da trama no passado. E não é só Betty que está de volta, atrapalhada como nunca, mas sua a risada chamativa de sempre, as roupas chamativas e o olhar tristonho, que também retornam juntamente com algumas outras novidades que prometem responder as perguntas dos fãs depois de tantos anos, principalmente um: O que aconteceu depois do felizes para sempre de Betty?
A principal resposta, talvez, fique com a introdução da filha adolescente de Betty e Armando, Mia (Juanita Molina) que agora faz parte dessa nova história que como um bom novelão promete diversas confusões familiares nessa nova dinâmica para a atração que por mais que mantenha o ar e o espírito do passado, claramente se nota a mão mais serializada desses novos episódios, assim como foi a versão americana Ugly Betty estrelada pela agora indicada ao Oscar America Ferrera.
Mas não se enganem, os arcos narrativos, as reviravoltas, e as tramas paralelas, fazem com o que o público que for dar play consiga revisitar esses personagens e esse ambiente corporativo da EcoModas tão familiar para quem acompanhou a novela, seja na época que foi ao ar na TV brasileira, seja quando entrou no Prime Video algum tempo atrás em aquecimento para o lançamento desses novos episódios de Betty, A Feia.
E basicamente, é a mesma história da novela, afinal, narrativamente os primeiros episódios bebem da fonte da atração original. Aqui temos os mesmos questionamentos de Betty em relação aos sentimentos de Armando por ela (só que agora eles estão separados), sobre o seu visual (os óculos retornam), e também sobre ela assumir (novamente!) a Presidência da empresa. Assim, logo de cara, Betty, A Feia começa a tecer a trama para esses novos capítulos que começam com um funeral (alguém bateu as botas!) e para mostraram que Betty deixou a Presidência da empresa, decisão que causou um atrito entre ela, Armando, e claro, a filha, que retorna para casa depois de uma temporada fora do país.
Filha que Betty não se dá bem, e isso, fica claro pela disparidade do tratamento da “influenciadora” com a mãe e com o pai, que irritantemente o chama de Armandaddy. Retornam também nos novos episódios de Betty, A Feia, os conflitos no Conselho da Empresa (toda novela, novela mesmo tem um né?), o Esquadrão das Feias com o retorno das fofoqueiras Bertha (Luces Velásquez) e Sandra (Marcela Posada), e também de Patrícia (Lorna Cepeda), agora gerente de pessoal na EcoModas, finalmente, casada com um cara mais velho, mas ainda de olho em Nicolás (Mario Duarte) e sua Mercedes conversível e do estilista temperamental Hugo (Julián Arango) que vai bater de frente com a nova geração e ter um arco próprio na medida que tanto Mia quanto Jeff (Jéronimo Cantillo), o neto de Inesita, dividem a bancada com ele.
O retorno desse grupo de coadjuvantes e que fazem das picuinhas de escritório momentos mais cômicos na medida que o drama fica com o casal principal e a filha. Assim, os novos episódios de Betty, A Feia exploram essa dinâmica que mistura vida pessoal, vida pessoal, e dá para a atração, claramente uma série, e não mais uma novela, uma nova camada. É interessante ver como a série mescla os eventos da novela, quando temos momentos do passado em um ratio diferente do largo e widescreen de hoje, ou para explicar alguma decisão do presente desses personagens anos depois dos eventos que vimos quando a produção acabou.
É nessa nova disputa pela Presidência da EcoModas que a série tem seu arco principal, na medida que Marcela Valencia (Natalia Ramírez) traz um consultor de fora, um suspeito, e jovem, Ignacio Ortiz, o Nacho (Sebastian Osorio) e tenta assumir a empresa, mesmo com o restante das ações da companhia ainda estando com a família Mendoza. Se é novela, tem empresa grande e brigas por ela. É o que uma produção precisa dar a trama ganhar fôlego, e aqui mesmo que o gênero serializado também tem apostado, e muito bem, como vimos em Succession, por exemplo.
Acho que os atores estão bem, principalmente Orozco e Abello, mas sinto que a atração tenta ao máximo forçar situações e pequenas narrativas somente para lembrar o público da novela original, do que realmente continuar a história. Será que realmente queriámos ver “A História Continua”?
No final, fica claro que esse retorno de Betty, a Feia, definitivamente foi feito para agradar mais os fãs do que qualquer outra coisa. Os curiosos para saberem o que aconteceu depois dos felizes para sempre de Betty e Armando no casamento deles no final da novela, como falamos. Se Betty, A Feia, agora como série vai conseguir fazer quem não acompanhava a novela, voltar a maratonar a atração, para assistir os novos, talvez, só vamos saber se algum dia a plataforma liberar algum tipo de métrica. De resto, para quem for acompanhar a nova atração, assistir com o radar da nostalgia ligado, e não esperando alguma coisa que vá superar a novela original. [risada da Betty de fundo]
Betty, A Feia estreia com 2 episódios iniciais e depois com capítulos semanais.