Vamos ser sinceros aqui, essas adaptações de filmes para o público teen só se preocupam em trazer para as telonas as cenas mais picantes dessas quase fanfic que os autores dessas chamadas “obras” colocam no texto. É o que os fãs querem ver, os seus momentos favoritos retratados nos cinemas. E se tiver um mínimo de história, de estrutura narrativa, entre eles já é uma vitória.
Essas produções foram muito impulsionadas pelo fenômeno que foi 50 Tons de Cinza, com a popularização de Crepúsculo, e outros mais, onde vimos esses filmes ganharam seus espaços e criarem um sub-gênero bem particular dentro da vertente de que podemos chamar de romances, e comédias românticas.
Algumas são produções mais bombinhas como a franquia After, outras mais picantes como 365 dias e por aí vai. Em comum, fica claro que todas têm basicamente os mesmos problemas, desde de problemas nas narrativas que apresentam, nas atuações de seus protagonistas, das locações, no elenco de apoio, e tudo mais.
E com um orçamento pequeno, afinal, qual ator de prestígio vai querer se envolver nessas pataquadas né?, esses longas se viram para os fãs para tentar faturar uma graninha. E boa parte deles até chega a faturar um trocado. Vide a franquia After que está aí no 5º filme.
E não é diferente aqui com Belo Desastre (Beautiful Disaster, 2023). Baseado no livro de Jamie McGuire (que também adaptou o roteiro), o longa conta a história da jovem certinha Abby (Virginia Gardner), uma garota que entra numa faculdade para ter novos ares (mais sobre isso em breve) e percorrer novos caminhos.
E entre uma aula e outra, e se adaptar com sua amiga Libe (American Madson) na instituição, Abby já é jogada na dinâmica do local, onde lutas (é um Clube da Luta!) são práticas comuns (por que não né?) entre os alunos, e claro, lá ela conhece um garoto bad-boy chamado Travis Maddox (Dylan Sprouse) que vai chamar a atenção da jovem.
No meio de apostas malucas, dividir a cama por alguns meses, e por mais clichê que a história possa apresentar aqui, Belo Desastre até tenta sair do lugar comum para o gênero e promete umas reviravoltas aqui e ali na trama que sacodem esse longa no estilo garota-conhece-garoto com os dois personagens em uma relação mais carnal do que outro tipo de conexão.
A direção do veterano Roger Kumble (dos filmes dos anos 90 e 2000, Segundas Intenções e Quem Vai Ficar Com Mary?) consegue entregar uma montanha russa cinematográfica que vai de boas cenas, por exemplo, quando Abby conhece Travis (com o apelido de Cachorro Louco!!!) e o sangue voa no seu suéter, o que imaginamos que deve ter sido uma cena bem importante no livro, para cenas das mais bizarras e ruins que já foram feitas no ano, quando a jovem acorda do lado do rapaz e pensa que uma parte do corpo dele é um controle de videogame. (Sim, essa parte que você está pensando).
Assim, Belo Desastre pode ser resumido pelo seu título, é um desastre sem tamanho, que apenas levanta diversas perguntas: como alguém, algum produtor conseguiu convencer algum executivo de um estúdio em fazer esse filme?, Um filme com essas cenas, com esse texto, e como esses atores estavam posicionados em um set de filmagem para falar essas falas da forma mais séria possível?
Mas tirando esse nonsense, e as bobagens que o filme entrega, e se você está ali para assistir Belo Desastre, por que não embarcar nessas maluquices, não é mesmo? Afinal, aqui acabamos por sermos levados pela forma como a história se desenvolve, como falamos, com as reviravoltas, a trama que envolve o vício do pai de Abby (Brian Austin Green) na jogatina, e que a fez ser uma gênia em contar cartas ao longo de sua infância, toda a parte da dívida do personagem com um chefão (Rob Estes) do crime de Las Vegas e a parte que Travis se envolve em uma disputa de luta livre para ganhar um dinheiro fácil e ajuda Abby que claramente consegue se virar sozinha e levantar a quantia ela mesma em um cassino, mesmo sendo menor de idade.
O longa apenas escalona a loucura do roteiro, misturadas com cenas tórridas de Abby e Travis se pegando loucamente, com as situações sem pé nem cabeça que esse casal vive, quando descobrimos que a jovem Abby não é a figura santinha que pareceu ser e tem um passado bem curioso. É aí que Belo Desastre mal e mal engrena e fica moderadamente interessante. É na forma como o roteiro, que não leva nada a sério, diz: Não tenho nada a perder, então por que não?
Gardner só lembra de longe, em pequenos momentos, uma jovem Reese Witherspoon, mas está longe de fazer com que Belo Desastre seja o veículo para a fazer emplacar como a nova cara do romance teen. Já Sprouse convence pouco como o tipo de personagem que o filme quer vender que ele seja, mas compensa no timing cômico que aqui está no ponto, claro, para o tipo de produção que Belo Desastre é, e entrega.
O resto dos personagens são completamente descartáveis, dos irmãos do protagonista, para os colegas de quarto, até mesmo o casinho mais sério que Abby, um estudante de medicina (Neil Bishop), nutre durante um tempo ao longo do filme para tentar esquecer o lutador improvisado.
No final, no meio do caos narrativo que Belo Desastre entrega, fica claro que o longa não é pior que nenhuma dessas comédias românticas de gosto duvidoso que assolam os serviços de streaming de tempos em tempos. É ruim? Sim. Garante embaraçosos momentos? Também. Mas tem alguma coisa que nos faz ficar vidrado em querer assistir e saber o que vai acontecer com esses personagens. Esse sentimento perdura até os momentos finais, quando tudo dá certo para os pombinhos e você sente um alívio ao notar que ufa ainda bem o filme acabou.
Mas nem tudo termina as mil maravilhas, afinal, no seu final, que Belo Desastre te ameaça ao dar uma dica que uma sequência vem aí e faz você considerar realmente suas escolhas, em como gastou seu tempo com esse filme e se questionar se vai dar a chance para um segundo (Já avisamos: vamos sim!)
Onde assistir Belo Desastre?
Belo Desastre está em cartaz nos cinemas nacionais.