sexta-feira, 15 novembro, 2024
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Baseado em Fatos Reais | Crítica

Polêmicas de lado, o diretor Roman Polanski consegue entregar um suspense psicológico instigante e bastante inquietante em Baseado em Fatos Reais (D’après une histoire vraie, 2017) onde suas duas protagonistas acabam passando uma atuação bem sincronizada em um jogo de gato e rato, perigoso, cheio de dualidades e que exige do espectador um pouco de atenção e uma preocupação com os detalhes.

Foto: Paris Filmes

Na trama temos a escritora de sucesso Delphine Dayrieux, uma boa Emmanuelle Seigner que depois de lançar um livro sucesso de vendas atravessa uma fase de bloqueio criativo para escrever o seu próximo título.  Num mix de pressão e vulnerabilidade ela acaba se envolvendo com Elle, a magnética Eva Green, uma mulher fã de sua obra. Assim, uma série de eventos que vão desde um encontro em um café até encontros em festas fazem com que a dupla acabe desenvolvendo uma amizade para lá de estranha, um pouco obsessiva e até mesmo doentia.

Vamos deixar claro uma coisa aqui, Baseado em Fatos Reais tem um gancho que permeia todo o filme, não vamos contar aqui para não estragar a surpresa e nem a experiência de quem assiste, mas sim, o filme como um todo gira em torno desse evento, desse momento onde a chavinha é virada e vemos o filme de uma outra maneira. Alguns podem descobrir logo de cara e ver o filme com certos olhos e outros podem ficar o tempo todo sem reparar.

Mesmo com detalhes rápidos mas importantes para o desenvolvimento da trama passando em vários momentos durante o filme, essa questão é muito importante para o entendimento da produção. Algumas cenas foram filmadas para realmente deixar sua história rolar de uma forma natural mesmo que em algumas partes isso não deixe o longa soar de forma natural e nem sua trama desenrolar de uma forma orgânica, pois a sensação que passa é que sempre alguma coisa prende o filme de decolar.

Foto: Paris Filmes

Baseado em Fatos Reais é puramente dúbio e um filme de observação. Sutil, a produção entrega em suas cenas uma história bastante discreta para quem assiste. Liga na primeira vista, a produção parece mais um drama francês excêntrico mas aqui cabe a quem assistir notar as pequenas dicas, os diálogos e a postura dos personagens para acabar percebendo a mensagem o que o filme quer transmitir. Nada nele é óbvio, mesmo com algumas cenas feitas realmente para parecer assim, seja no foco numa bota, num cachecol ou até mesmo numa queda na escada, o filme tem em sua dualidade um dos seus acertos.

O filme tem o jogo de troca entre suas protagonistas seu maior triunfo. Seigner não é nenhuma Marion Cotillard ou uma Isabelle Rupert mas entrega o necessário em cena e faz de sua personagem um papel estranho, meio off, desconexo da realidade e que passa um sentimento de nervosismo bastante grande. Já Eva Green é extremamente cativante e faz uma personagem misteriosa, cheia de segundas e terceiras intenções e que engole todos a sua volta. Na medida que o roteiro avança, a atriz faz com que a cada cena sua personagem fique mais transtornada e completamente fora dos eixos num ótimo trabalho.

O filme tem uma história simples, sem muitas reviravoltas (tirando aquela citada logo acima) e acaba sendo mais uma experiência de troca entre as atrizes. Baseado Em Fatos Reais acaba deixando o elefante branco tomar conta da loja de porcelana e o desconforto das interações entre as personagens é gigante mas completamente justificável com a história a ser contada.

O filme não chega a ser uma surpresa se você pode já sacar sua trama logo no começo coisa que o longa erra ao fazer quem percebe isso logo de cara ficar esperando uma certa confirmação, onde a expectativa e validação de teoria nunca chega mas acerta em colocar boas atrizes em cenas que flertam com o suspense e com o sentimento gritante de loucura e obsessão. No final, Baseado Em Fatos Reais acaba sendo filme perturbador mas que se atrapalha um pouco na sua execução.

Nota:

Baseado em Fatos Reais chega ao Brasil 12 de abril, depois de estrear no Festival de Cannes e no Festival do Rio de 2017.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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