Desde do início dos tempos haviam bonecas, mas nenhuma que particularmente se destacasse. Até que no final dos anos 50, um novo brinquedo surgiu. A boneca Barbie foi lançada, e ficou claro que ela era bem mais que apenas uma boneca comum, afinal, mudou a forma como crianças brincavam para sempre. E agora, mais de 60 anos depois, essa que veio se tornar uma das bonecas mais conhecidas do mundo, ganha seu primeiro filme em live-action pelas mãos da diretora Greta Gerwig e a produtora Margot Robbie.
E ao trazer a vida de plástico para a telona, Gerwig (responsável por produções como Lady Bird e a mais recente adaptação de Adoráveis Mulheres) entrega um longa fantástico de se assistir, e definitivamente, um dos mais engraçados, interessantes e divertidos filmes do ano.
E com mais de 60 anos, Barbie (2023) realmente se mostra um longa moderno e que rejuvenesce a história da boneca que faz parte da cultura popular e que já passou por diversas polêmicas ao longo de todos esses anos.
E Gerwig sabe disso. Ao lado do marido, Noah Baumbach, a diretora e roteirista entrega um roteiro extremamente afiado, inteligente, e cheio de comentários sociais só que disfarçado de um grande, espalhafatoso, colorido, e às vezes, musical, blockbuster.
E assim, de forma resumida, dá para dizer que Barbie realmente é tudo. É tudo que você espera sobre um novo longa comandado por Gerwig, com produção da Margot Robbie, e sobre a boneca mais famosa de todos os tempos. Tem músicas, tem personagens cantando e dançando (mas não durante o filme todo!), tem personagens em roupas coloridas, e ao mesmo tempo, nada disso é só o que faz Barbie ser um bom filme.
Barbie é um bom filme por que entrega uma explosão cômica de cores que diverte sim, mas que sabe acerta também em ter uma história com uma carga dramática bastante impressionante. O longa da Barbie não é apenas “Ai o longa da Barbie”, igual os filmes animados, ou “uma comédia pastelona sobre as aventuras da boneca loira no mundo real cheia de diversão e confusões!” e sim, um verdadeiro olhar minucioso, provocador, e realmente muito bem inspirado, sobre a nossa cultura dentro do contexto em que a boneca Barbie se faz presente, como um verdadeiro produto de consumo, e também uma ideia, um conceito, e o que ela representa no nosso mundo. Seja pelo lado positivo quanto negativo.
Assim, Barbie é realmente tudo, e o hype em torno do filme é real. É um longa para crianças? As crianças podem até se divertir, mas definitivamente Barbie faz um longa mais para os adultos e para ser apreciado, em sua totalidade, por adultos. Afinal, é por conta do texto de Gerwig e Baumbach e dos questionamentos que propõe que realmente o longa se firma como um filme para um público mais velho, afinal, o texto realmente aperta, e coloca o dedo (de plástico) em diversas feridas sobre a forma como estruturalmente a nossa sociedade vive em contraste com a forma que a sociedade das Barbies vive na Barbielândia.
E também pelo elenco escolhido e que realmente faz toda a diferença para não deixar o longa cair no estereótipo de ser “apenas uma comédiazinha bobinha sobre a boneca Barbie”, coisa que definitivamente essa Barbie não é.
E para conseguirmos chegar no tipo de filme, e a mensagem que Barbie passa, e é, tivemos que ter diversos desses longas, e até mesmo, outros um pouco mais fora da curva como Legalmente Loira lá nos anos 2001. Assim, quase 20 anos depois, Gerwig faz um longa que consegue dialogar com diversos lados, ideias e conceitos do que é a Barbie e o que a boneca representa em dois mundos completamente distintos.
Gerwig deslumbra ao nos apresentar para a Barbielândia nos minutos iniciais (que devem agradar as crianças… mas depois boa sorte em segurar elas pelas outras 1h30 na sessão), onde as Barbies comandam o lugar, e são tudo que quiserem ser. Advogadas, médicas, vencedoras do Prêmio Nobel, Presidentes e CEOs. E os Ken, bem, eles são apenas Ken. E Allan (Michael Cera).
Tudo é perfeito, tudo é colorido e uma grande festa, todos os dias. Mas tudo muda quando a Barbie (Robbie, ótima), a Barbie-estereotipada (ou seja, aquela versão da Barbie que temos quando pensamos na Barbie) começa a ter ideias diferentes das outras Barbies.
Assim que essa Barbie começa a se questionar, o longa começa a explicar a jornada que a boneca precisa enfrentar para tentar descobrir o que realmente acontece com ela, quando vemos a boneca perfeita começar a cair de sua casa, seus pés ficarem retos, e a vida perfeita de plástico dela, não é mais tão perfeita assim.
E termos de construção de mitologia, e estruturas narrativas, Gerwig acerta em não se preocupar com muita coisa, principalmente como as coisas funcionam, a não ser, de mostrar visualmente algumas delas, e realmente deixar os personagens explicarem para o espectador as questões que envolvem a ida de Barbie, e de Ken (Ryan Gosling com um timing cômico excelente) para o mundo real.
E esse encontro de dois mundos, faz mil maravilhas para o longa, na medida que o colorido, idílico e fofinho mundo visto na Barbielândia, dá vez para o sarcástico, pessimista e com cores escuras Mundo Real. E é aí, já na metade da história, onde Gerwig realmente coloca o longa para abraçar seu lado mais realista e questionador na medida que Barbie descobre que, diferente do mundo das Barbies, sua figura não é uma que é 100% responsável por fazer as mulheres estarem bem, se sentirem bem, e tudo mais.
Ao cair no mundo real, Barbie percebe que as coisas são mais complexas e diferentes do que ela imaginava. E não só ela, Ken também descobre um novo e adorável, já que inclinadamente masculino, mundo. Assim com a ajuda da humana Gloria (America Ferrera, ótima, em um dos seus melhores papéis) e a filha dela, Sasha (Ariana Greenblatt, num bom ano), Barbie precisa encontrar uma forma de resolver seus problemas, e os problemas, e as consequências que sua vinda para o mundo real surgiram.
E isso, o mais rápido possível na medida, por que além dela precisar superar o baque de que esses mundos são tão diferentes, a boneca precisa ainda desviar de todo o time da Mattel, representado pelo CEO da companhia Will Ferrell (e uma legião de engravatados), que querem a de volta.
E no meio da aventura, e de questionamentos sobre identidade, pertencimento, e lugar no mundo, Barbie usa um elenco de nomes conhecidos super bacana para fazer uma história que realmente funciona, sem soar didático ou panfletário.
E são esses atores, que mesmo com pouco tempo em tela, ajudam o longa a contar essa história na medida que dão vida para essas Barbies e esses Ken. São nomes que vão desde do relativamente novato Simu Liu (do longa da Marvel, Shang-Chi), a comediante Kate McKinnon (hilária), Issa Rae, Kingsley Ben-Adir, Emma Mackey entre diversos outros, que realmente parecem abraçar a dualidade do longa tem de apresentar uma comédia um pouco bonachona, com uma, um pouco mais séria, cheia de questionamentos interessantes, reflexivos, e com momentos bem dramáticos.
E com o elenco liderado por um ótimo trio de protagonistas formado por Robbie, Gosling e Ferrera, Barbie faz uma história empolgante sobre uma das marcas mais icônicas de todos os tempos, num longa que não deixa de nos fazer refletir sobre diversas questões ao mesmo tempo que entretém, emociona e diverte.
No final, Barbie tem tudo que o espectador precisa fazer para embarcar nessa jornada passar quase 2 horas nesse novo e convidativo mundo: personagens carismáticos e um carro rosa chamativo. E claro, o texto de Greta, onde ela e Robbie arrumaram tudo perfeitamente certinho para a experiência de se assistir Barbie ser a mais Barbie possível.
Onde assistir Barbie?
Barbie chega nos cinemas nacionais em 20 de julho.