Os anos 2000 foram marcados por muitas coisas, uma delas pelas comédias como Jackass que colocavam um grupo de pessoas para fazer as famosas pegadinhas, aquelas brincadeiras ou desafios que sempre eram consideradas ousadas ou até mesmo perigosas. Quem viveu aquela época sabe… eram bastante populares principalmente se você tivesse TV por assinatura.
E depois de sofrer uma certa popularização, onde tivemos também o reality show Punk’d com o ator Ashton Kutcher e até mesmo o longa Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América em 2006 e que colocou Sacha Baron Cohen no mapa, a modalidade parece que deu uma esfriada. E agora os comediantes Eric André e Lil Rel Howery retomam com esse tipo de filmes depois de quase 20 anos, e aqui Bad Trip entrega uma coisa um pouco diferente.
Ao mesmo tempo que o filme é sim um filme de pegadinhas e de câmera escondida, seguimos uma história fictícia em que os personagens interpretados por André e Howery são inseridos no cotidiano das pessoas reais para contar uma trama bem maluca e que faz de Bad Trip uma comédia insanamente engraçada. As situações surreais, as reações das mais honestas possíveis de quem está de fora vendo tudo aqui acontecer sem saber de nada, e como os atores conseguem se manter em seus personagens são muito bem aproveitadas pelo diretor Kitao Sakurai que trabalhou com André no The Eric Andre Show.
Bad Trip é ofensiva, galhofa, quase cruza diversas linhas do politicamente incorreto, e você ri de nervoso com o quão maluco e surtado que são as situações apresentadas e que os atores se colocam, e colocam as pessoas comuns, e que acaba por fazer parte do filme junto com eles. Afinal, os atores entregam cenas que eles estão em público mesmo seja numa lanchonete que faz sucos naturais e sanduíches, numa galeria de arte no meio de uma exposição, ou num bar no meio da estrada. A interação entre os personagens de André, Howery, da hilária Tiffany Haddish com o público é bem orgânica, e como falamos, realmente eles não saem dos personagens em nenhum momento e isso só deixa Bad Trip ficar ainda mais surtado e interessante de se ver mesmo que o filme quase não sustente essa novidade por muito tempo.
A trama apresentada aqui é simples, nada rebuscada, e se apoia e muito no humor físico de André que realmente aqui está com a coleira solta. Ainda não acredito que pensaram em lançar esse filme nos cinemas. Mas por conta da pandemia, a distribuidora vendeu os direitos para a Netflix, e aqui estamos nós. No filme, os amigos Chris (André) e Bud (Howery) vivem suas vidas normais até que uma paixonite do colégio de Chris retorna em sua vida, a elegante e agora dona de uma galeria de arte em Nova York, Maria (Michaela Conlin).
Sem nada a perder, e com a ajuda de um estranho que ele conhece num banco de uma praça, Chris resolve ir até a cidade para tentar a sorte no amor com Maria. Assim, ele e seu amigo Bud embarcam numa viagem de carro, roubado da irmã de Bud, a presidiária Trina (Haddish) que eventualmente sai da prisão e vai atrás da dupla.
Como falamos, a trama roteirizada de Bad Trip é simples, não se sustentaria num longa de ficção, mas a adição das pegadinhas é que deixam o filme com uma cara de longa. E a cada etapa da viagem elas ficam cada vez mais alucinadas e realmente os produtores ficam mais ousados. É toda a sequência no restaurante em que a personagem de Haddish aparece e está na procura da dupla freneticamente e sai perguntando para os clientes do local se eles os viram, só para depois na próxima cena, André e Rowery aparecem do nada no local, ou ainda a sequência que envolve a dupla no zoológico com uma pessoa fantasiada de gorila (sim, AQUELA cena!), ou até mesmo a grande homenagem para o filme As Branquelas em que eles invadem uma festa e que faz realmente o ponto alto do filme. É tudo muito absurdo, sem noção, e que realmente dá para dar umas risadas, de nervoso, claro, mesmo que sinto que chega uma hora que algumas das cenas se estendem demais e chega a ficar um pouco cansativo de assistir por conta da loucura sem tamanho que é apresentada.
No final, Bad Trip entrega um filme com uma energia caótica de se acompanhar e que realmente é para um público super específico e faz uma comédia que não é para todo mundo.