domingo, 24 novembro, 2024
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Back To Black | Crítica: Cantora ótima, boa atuação, filme mediano

Cantora ótima, boa atuação, filme mediano. Nossa crítica de Back To Black, o filme sobre Amy Winehouse.

“Não sou nenhuma Spice Girl” afirma a atriz Marisa Abela numa caracterização perfeita de Amy Winehouse logo no começo de Back To Black (2024). E realmente, a cantora não era nada parecida com a banda girl power inglesa que dominou as paradas musicais nos anos 90 e nem queria ser.

Afinal, Amy Winehouse era uma força da natureza, única, e com voz própria. E que marcou toda uma geração. E assim, digo que, provavelmente, ela teria detestado essa biopic e teria muita coisa a dizer sobre. Não é que Abela entregue uma performance ruim ou caricata da cantora, pelo contrário, a atriz relativamente nova no mercado de Hollywood (vinda do seriado da HBO Industry) é o que faz o longa ter carisma e se destacar entre as mais recentes obras cinematográficas sobre cantores.

Marisa Abela em cena de Back To Black. Foto: Credit : Courtesy of Dean Rogers/Focus Features
© 2024 Focus Features, LLC. All Rights Reserved.

Dos trejeitos, da voz, do olhar, da fisicalidade que a composição de personagem exigiu, Abela acerta e muito aqui, onde realmente o foco de Back To Black é celebrar a cantora e sua rápida passagem pelo mundo, e pelo cenário musical. As razões pelas quais Winehouse teria detestado essa biopic musical são outro e tem muito a haver com os próprios problemas que a cantora enfrentava enquanto galgava seu espaço no mundo da música. Afinal, definitivamente Amy Winehouse deixou sua marca ao levar 5 Grammys (inclusive Álbum e Música do ano) em 2008 para depois, em 2011, falecer. 

E ao mesmo tempo que Back To Black celebra a carreira musical, conta sua história como pessoa, mesmo que só fique na superfície da figura complexa que Winehouse parecia ser. Definitivamente dava para ver que ela era mais do que mostrava, afinal, muito das coisas estavam nas letras de seus maiores sucessos. Talvez tenha sido um pouco cedo para contar essa história o distanciamento merecido que era necessário, afinal, é notável que o projeto acabe por não entregar uma certa imparcialidade ao se debruçar nos eventos difíceis que cercavam a vida da cantora.

Back To Black entrega então a história de uma ótima cantora, com uma boa atuação de sua protagonista, em um filme mediano.  E mesmo que a diretora Sam Taylor-Johnson (vinda de 50 Tons de Cinza) consiga usar as músicas mais famosas de Amy Winehouse de uma forma completamente interessante, ao mesclar o decorrer da história, e abusa de boas tomadas com closes na cara de Abela como a cantora, boa parte dos eventos retratados pelo roteiro de Matt Greenhalgh (do longa Estrelas de Cinema Nunca Morrem)  retiram a culpa dos acontecimentos dos outros envolvidos (principalmente as figuras masculinas) e colocam 100% no colo de Amy Winehouse. 

É como se tudo que aconteceu, o uso de substâncias ilegais, as agressões, as bebedeiras, os conflitos, caíssem exclusivamente nos ombros da cantora. As relações tumultuadas e abusivas com o pai Mitch (Eddie Marsan) e com o casinho, que virou namorado que virou marido Blake (Jack O’Connell) são colocadas de uma forma basicamente simples, como se eles estivessem presos no furacão Amy Winehouse e não tivessem também uma parcela de culpa sobre o desenrolar dos eventos.

Já a relação com a avó Cynthia (Lesley Manville, ótima) é um dos acertos que Back To Black tem ao conseguir humanizar a cantora antes da sua fase mais polêmica. É a Amy Winehouse como pessoa, com a pessoa que ela considerava seu ícone máximo. E isso refletiu na persona que Winehouse se apresentava ao público, com o cabelão, os olhos com maquiagem, e o visual pineup. E o trabalho de Abela e Manville é incrível de se assistir, onde as duas entregam momentos extremamente bonitos em cena, seja na frente de uma penteadeira ou um parque no meio do inverno. É aqui que o longa abre as portas dos momentos íntimos da cantora antes de tudo. É quando vemos Amy Winehouse cantar para a família, em bares, lançar seu primeiro álbum.

 O mesmo vale para quando, em um dia no pub, a jovem conhece o espirituoso Blake (O’Connell que também está bem) e a relação entre os dois começa mesmo com ele em um relacionamento com outra garota. Por mais que o filme apresente os motivos pelo qual a cantora se apaixonou por ele, e Abella e O’Connell transparecem essa dinâmica em tela, a história aqui contada o não tem a mesma proeza em mostrar o por que ela eles não eram bons uns para os outros. 

Particularmente o auge do filme fica em como Taylor-Johnson consegue contar tudo que acontece com a cantora, usando as músicas de Amy Winehouse, quando apresenta mais da história, e principalmente quando o relacionamento dos dois acabam. E depois de mostrar como Winehouse consegue fechar um acordo com um mega produtor famoso e vê também a morte da avó a afetar de uma forma extremamente profunda.

Marisa Abela e Jack O’Connell em cena de Back To Black. Foto: Credit : Courtesy of Dean Rogers/Focus Features
© 2024 Focus Features, LLC. All Rights Reserved.

 “Você voltou para ela, e eu voltei para o luto” A atuação de Abela é poderosa aqui nessa parte, a edição que o filme tem é realmente emocionante, onde mescla as diversas cenas com a música que levou a cantora para o estrelato mundial com os eventos desse momento realmente complicado da vida da cantora. Realmente a melhor coisa do longa, é quando Black To Black toca, é triste, é melancólico, e nos deixa reflexivo sobre o talento desperdiçado da cantora para as cenas que vem a seguir. 

E realmente Black To Black não passa pano para as situações mais polêmicas que Amy Winehouse viveu, as bebedeiras, os blackouts, as andanças desnorteadas pelas ruas de Londres, a perda do dente da frente, a briga com os paparazzi (ainda muito em alta mesmo poucos anos depois dos acontecimentos com a Princesa Diana) e a ida para a reabilitação. Claro, tudo pelo olhar mais distante, sempre com Winehouse de Abela reagindo aos eventos ao lado dos parceiros de cena masculinos e essas figuras que parecem tirarem o corpo fora de suas responsabilidades. Mas ao meio disso tudo, o longa consegue realmente mostrar o que foi a figura de Amy Winehouse. Das cenas no Grammy que são replicadas milimetricamente para a despedida emocionante nos momentos finais, onde a câmera foca no rosto de Abela enquanto ela canta um dos outros sucessos da cantora. 

O filme pode soar meio estranho em alguns momentos, mas no final das contas acaba por ser um trabalho de ficção, que serve para mostrar um recorde da vida da cantora e a passagem meteórica no cenário musical dessa artista que ao cantar queria que o público ouvisse sua voz e esquecesse suas preocupações por 5 minutos.

Nota:

Black To Black chega em 16 de maio nos cinemas nacionais.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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