quinta-feira, 21 novembro, 2024
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Assassinos da Lua das Flores | Crítica: Um bonito filme sobre uma história horrível

Tudo em Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon, 2023) grita cinema!

É a combinação perfeita de uma história de crime real que se embola na própria História americana, é ter a direção de Martin Scorsese (um dos maiores diretores que já passaram por Hollywood), é termos Leonardo DiCaprio em mais um papel que parece ter sido feito sob medida para ele, é termos DiCaprio e Robert De Niro, juntos em cena, e de volta em um novo filme juntos, são os bastidores dessa nova era de Hollywood, onde um estúdio tradicional se junta com uma plataforma de streaming para o lançamento e muito mais.

E tudo isso junto, no mesmo produto cinematográfico, definitivamente faz com que Assassinos da Lua Das Flores entregue um dos filmes mais caprichados do ano e uma das experiências mais incríveis que os fãs da sétima arte vão passar nos cinemas em 2023. 

Poderia ser mais curtinho? Sim! As quase três horas e meia de duração são sentidas, principalmente lá pela segunda hora, onde a narrativa parece que dá uma embolada, mas não se enganam Scorsese faz valer cada minuto desse longa. Assassinos da Lua Das Flores nos apresenta uma história de faroeste, um épico sobre ganância, sede de poder e disputas por dinheiro, propriedades e petróleo, e claro, o filme sobre um massacre que acabou com boa parte da população indigena do Estado de Oklahoma no começo do século XX.

Leonardo DiCaprio e Lily Gladstone em cena de Assassinos da Lua das Flores.
Foto: Paramount Pictures/Apple Original Films. All Rights Reserved.

E Assassinos da Lua das Flores é a história desse povo, focada em uma família, a família de Mollie Kyle (Lily Gladstone, uma revelação e definitivamente uma das favoritas para emplacar uma indicação para Melhor Atriz no Oscar), uma jovem do povo Osage, com uma família gigante e todos com uma grande fortuna por conta das terras cheias de petróleo que fizeram a população local ser uma das mais ricas de todos os EUA nos anos 1920.

Essa é a história desse povo, desse massacre e da ganância do homem branco que cobiçava esse líquido que jorrava dos solos dos nativos e que achava ter direitos sobre essas terras. E isso, fica claro, sobre quem são os protagonistas, do longa, e dessa história logo no começo quando Scorsese mostra a forma como os Osage viviam e desfrutavam do dinheiro vindo de suas terras, moradia de seus ancestrais.

O trabalho de edição aqui é primoroso e dita o tom do longa nas próximas horas.

“Você tem uma bela cor de pele. Como você chamaria essa cor?” pergunta um personagem para Mollie logo no começo do filme que responde “A minha cor.” E particularmente essa passagem é que define o filme de todas as maneiras. Assim, vemos mais do contexto social e político em que vivem o povo Osage enquanto vemos a personagem de Gladstone ser levada por Ernest Burkhart (DiCaprio em mais uma atuação incrível de se assistir) pelas ruas da cidade numa espécie de táxi da época.

De volta para a casa, e a mando do tio, Bill Hale (DeNiro) que meio que funciona como um grande senhor da região, Burkhart tem o papel de cortejar a jovem, onde a ideia é unir todas as posses das famílias nas mãos de Mollie. Plano que dá certo, onde vemos ao longo do filme diversos membros do povo Osage morrerem, desaparecerem e deixearem suas heranças para os familiares.

O longa oferece personagens complexos, mesmo que a motivação seja muito simples. Eles querem poder. E assim, o trabalho de produção de Assassinos da Lua das Flores é impecável e extremamente preciso na recriação desses cenários do EUA faroeste para contar essa história. Não é à toa que foram gastos US$ 200 milhões com o filme, dá para sentir o dinheiro que foi gasto na produção jorrar em tela.

Tudo, das locações externas, das internas, dos figurinos, do cabelo e maquiagem, ajudam o espectador a cair de cabeça nessa história na medida que Scorsese, David Grann e Eric Roth pegam a história vista no livro de David Grann e transportam para as telas de uma forma extremamente cuidadosa e lenta em seu desenvolvimento.

Robert De Niro e Jesse Plemons em cena de Assassinos da Lua das Flores.
Foto: Paramount Pictures/Apple Original Films. All Rights Reserved.

 

O trio trabalha na contextualização desse EUA da época, para depois introduzir os personagens, suas relações, o que eles querem, os planos, e tudo mais para depois se debruçar na história dos crimes e assassinatos, e depois horas depois, na investigação, no julgamento e tudo mais. É um trabalho monumental de construir cada etapa, cada momento, e marcado por excelentes passagens e atuações de DiCaprio, Gladstone, De Niro e todos os outros personagens coadjuvantes que passam por essa trama. 

Seja das irmãs de Mollie, interpretadas aqui por Janae Collins e Jillian Dion, e também Jesse Plemons que entra lá pela horas finais como um agente da recém criada agência governamental FBI, e também Brendan Fraser (vindo após o Oscar de Melhor Ator por A Baleia) como um advogado bem do suspeito.

Todo mundo está bem e ajudam Scorsese a contar essa história da forma mais brutal, sangrenta e impactante possível. É o tema central dos longas do diretor, só que aqui amplificado, mais chocante,  onde as cenas mais pesadas realmente estão mais pesadas do que o habitual e realmente se conectam com o tipo de história que o diretor quer contar e que brilhantemente é contada aqui. 

Assassinos da Lua das Flores ao mesmo tempo que tenta prestar uma homenagem, vista de fora, claro, para o povo Osage também tenta mostrar os horrores da ganância e a loucura do homem em conseguirem o que querem. É um filme extremamente bonito mesmo que conte uma história extremamente feia, mas que não dá para ser esquecida e escondida.

No final, fica claro, que Scorsese coloca uma luz em um dos momentos mais sombrios da História americana, como um alerta e um aviso para as futuras gerações. O que temos com Assassinos da Lua das Flores então, é nada mais que o poder do cinema, em uma das suas mais puras missões, onde o diretor usa o longa como uma forma de manter vivo o legado e uma história de um povo que foi apagado, sem dó, da cultura americana. Como diz um dos personagens no longa “Você é capaz de identificar o lobo nessa imagem?”

Nota:

Onde assistir Assassinos da Lua das Flores?

Assassinos da Lua das Flores chega nos cinemas em 19 de outubro.

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Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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