sexta-feira, 18 abril, 2025
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Mostra SP | Anora | Crítica: Conto de fadas do avesso de Sean Baker num dos melhores da temporada

Claro que o próximo projeto do diretor indie e sensação do cinema independente Sean Baker seria um para se prestar atenção, mas o fato de Anora (2024) ter levado a Palma de Ouro em Cannes, no começo do ano, ajudou, e muito, a colocar o filme no mapa. E meses depois da estreia no festival francês, de ter levado o prêmio máximo, e com distribuição garantida, já pipoca em diversas listas e em apostas para a temporada de premiações.

Mark Eidelshtein e Mikey Madison em cena de Anora. Foto: Drew Daniels/Focus Features/Universal Pictures. All Rights Reserved.

E é realmente não é por nada não, mas como Anora é bom viu? E mais que isso, faz um dos filmes dos mais legais da temporada, assim como também um dos melhores do ano, até então. Anora é tudo isso sim e você vai ficar obcecado por ela e pela atuação arrebatadora de Mikey Madison que aqui está incrível de ver e se descobrir ao longo dessa trama.

Logo que o filme começa, basicamente em durante toda sua trajetória, e principalmente quando termina, dá para entender os motivos que Cannes e os jurados da edição deste ano caíram de amores pelo filme. Anora entrega um conto de fadas do avesso, caótico, cheio de cores, brilhos e confusão. É realmente um acerto impressionante de todos os envolvidos.

E realmente tudo começa com a figura de Ani, o nome de guerra que a jovem Anora (Madison) usa enquanto trabalha numa boate do Brooklyn como stripper e dançarina. Contextos e explicações de porque Ani trabalha lá fogem do esperado “por conta de trauma”, onde realmente Madison, e o roteiro de Baker, pintam essa jovem como alguém extremamente carismática, inteligente e que completamente dá o seu melhor em sua profissão. O cliente quer tomar um drink com ela? Que pague! O cliente quer uma dança num quarto privado? Que pague! O tempo dela é valioso e ela sabe o seu valor. É um pouco idílico demais da parte de Baker? Pode até ser, mas aqui, isso tudo ajuda a contar essa história e mostrar que as coisas não são aquilo que parecem ser. 

E isso fica claro quando um jovem cheio da grana, o engraçadinho e com carinha de bom moço Ivan (Mark Eidelshtein, seguindo a linha de Timothée Chalamet de magrinho confiante) vai para o clube uma noite, Ani já está de olho em faturar um mais para o desespero das outras colegas do lugar. 

Um shot aqui, uma dança ali e Ivan parece ficar extremamente obcecado pela jovem e rapidamente a convida para passar uns dias na sua mansão. O que realmente vem como uma surpresa para a jovem que começa a se indagar sobre de onde vem tanto dinheiro. E na medida que Baker vai por construir esse início de relacionamento entre os dois, ah lá Cinderela, ah lá Uma Linda Mulher, o diretor não poupa o espectador de cenas mais apimentadas que realmente estão ali para dar um contexto para a história e para esses personagens.

Larguem de puritanismo que estamos num filme sobre o mundo de jovem profissional do sexo e que tudo parece estar ligado nos 220v. Particularmente, eu adoro os excessos que Baker coloca, seja na trilha sonora, nas reviravoltas, ou na forma como ele usa todo para escalonar a trama, principalmente quando Ivan, depois de fechar a semana com Ani, resolve levar a jovem para Vegas com os amigos dele e depois no meio da farra, bebidas, e uso de substâncias ilegais, acaba por casar com ela em uma capela qualquer numa madrugada qualquer. 

E é aí que o filme basicamente começa a mudar sua história, por que o que se nesse momento o que tava rolando era um conto clássico de garoto encontra garota, quando os capangas dos pais dele para anular o casamento, Baker retira a figura excêntrica e acelerada de Ivan (que foge quando descobre que seus pais vem para os EUA) e coloca Ani para lidar com os seguranças liderados por Toros (um ótimo Karren Karagulian e que trabalhou com Baker em Tangerine, Red Rocket e Projeto Flórida) e Igor (Yura Borisov que deu as caras em Compartment Number 6, alguns anos atrás).

Ao mesmo tempo que a situação parece se complicar para Ani, Baker efetivamente nunca a coloca em perigo efetivamente, afinal, Toros e Igor podem parecer ameaçadores, mas tentam lidar com a situação da melhor forma possível e entregam uma cena que até se extende um pouco mais do que deveria, mas que dá o tom para esses personagens e o que eles representam na jornada de Ani até então.

Mas também não deixa de ser outro momento que Baker parece abusar um pouco da situação. É na criação dessa dinâmica que o filme ganha uma nova roupagem, onde vemos a jovem dar um baile nos capangas, e Baker vai por trabalhar a segunda parte do filme, onde aos poucos, nos tira do conto de fadas e nos coloca de volta para a realidade nua e crua. 

Yura Borisov, Mark Eidelshtein, Karren Karagulian, Mikey Madison em cena de Anora. Foto: Focus Features/Universal Pictures.

E na medida que o trio precisa encontrar Ivan antes que os pais chefões do crime russos chegam, o longa sofre com uma barriguinha narrativa. Mas nada que impacte a história e a forma como Baker que contar. Aqui é a presença de Madison em basicamente todas as cenas acaba por ser tão cativante, tão maravilhosamente convidativa, que definitivamente é um filme que vale os minutos extras que Baker infla já que Anora que segue com quase 2h30min de duração.

E entre troca de socos, lenços vermelhos, sangue, e chutes, Anora constrói essa narrativa de uma forma que deixa nós os espectadores apreensivos com o que vai acontecer e como as coisas vão acontecer. Baker leva um pouco de tempo para firmar a figura de Ani (e revelar aos poucos a figura de Anora) como uma garota destemida e bad-ass, mas ao longo do filme a armadura que ela usa apenas vai para expor rachaduras e mostrar essa jovem humana. 

Das cenas mais cômicas e que não deixam de mostrar um sentimento de tensão que escalona de desconforto, e aqui jamais pelas cenas de sexo, e sim pela situação doida que os personagens são colocadas, Baker usa todo o charme de Madison para contar essa história. O que começa com Anora se vendo metida em uma grande confusão com o filho de oligarcas russos montados na grana e também meio malucos e furtados, acaba por se transformar em outra coisa.

E na medida que armas são postas na mesa, ameaças são feitas, e quantidades abusadas de dinheiro são exigidas, fica claro que para Ani, ela só quer sair desse vórtex doido que se meteu e ir para casa e viver a vida dela como Anora. No final, gostamos também mais de Anora do que de Ani.

Nota:

Filme visto em sessão de imprensa do longa em Outubro.

Anora chega nos cinemas nacionais em janeiro de 2025.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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