Depois de ter seu lançamento nos cinemas afetado por conta de pandemia, Amor e Monstros (Love and Monsters, 2020) chega ao Brasil, enfim, pela Netflix. E confesso que não cai de amores pelo filme como muita gente por aí, e ainda digo mais, achei o filme monstruosamente desinteressante. Como um filme apocalíptico, Amor e Monstros faz mais do mesmo, não foge da curva enquanto se trata do tema, e como romance, também acaba por entregar um bem sem sal. Se fosse para ver Dylan O’ Brien com monstros era melhor ter encarrado uma maratona de Teen Wolf.
Se você for pensar, Amor e Monstros segue quase a mesma narrativa que outro filme com monstros no nome, o Monster Hunter (2020) por exemplo, na busca do nosso protagonista Joel (um dos queridinhos da internet, o ator Dylan O’ Brien) pelo seu antigo amor antes que a Terra sofresse com a queda de um meteoro que transformasse os insetos do mundo em super-animais violentos e devoradores de humanos e que forçasse o restante da população (95% do mundo desapareceu!) a viverem isolados, embaixo da Terra, e em bunkers improvisados.
Assim, quando Joel resolve visitar a colônia que sua antiga namorada Aimee (Jessica Henwick) vive, depois de 7 anos separados e só se comunicando esporadicamente via rádio, ele vai precisar enfrentar todos esses monstrões, nesse caminho difícil e cheio de armadilhas. E realmente Amor e Monstros só se sustenta no carisma de O’ Brien que convenhamos também não é um dos melhores atores do mundo, mas aqui cumpre seu papel e se garante em boas partes do filme. O Joel de O’ Brien é um personagem que apresenta um arco narrativo interessante ao longo da trama e logo no seu começo vemos que a história de Amor e Monstros não é basicamente sobre amor, e nem sobre monstros, e sim, sobre a jornada de Joel rumo ao desconhecido, onde ele vai precisar amadurecer e enfrentar seus piores medos.
E até aí, nessa parte, eu até tava comprando o filme e o que Amor e Monstros oferecia, o menino tímido, desengonçado e sem nenhuma habilidade tática de sobrevivência (seria ele eu?) que vai atrás da menina que ele ama (depois de 7 anos vivendo num bunker onde ele era a única pessoa solteira) e precisa enfrentar os mais diversos tipos de monstros no meio do caminho. É como se tivéssemos em um jogo de videogame, onde a cada momento, um monstro ameaçador aparecia, e Joel só na lábia e com muita sorte, e a ajuda de um cachorro inteligente, conseguisse se defender e se safar da morte da certa.
E acho que essa que é a parte mais legal e interessante de Amor e Monstros, quando temos Joel na superfície sem rumo indo atrás da localização da amada. As entradas dos personagens do resmungão Clyde (Michael Rooker, fazendo aqui o que faz sempre) e a desbocada Minnow (da simpática atriz mirim Ariana Greenblatt que vem conquistando Hollywood, um filme de cada vez), uma dupla de pessoas que vivem na superfície, e ajudam Joel em parte de sua jornada contribuem para o filme ganha um certo fôlego. Clyde e Minnow além de servirem de guias para Joel, servem também de guia para nós espectadores, afinal ao mesmo tempo que o protagonista começa a conhecer mais sobre essa vida na superfície e suas ameaças, a gente também é apresentado para esse mundo apocalíptico.
E como falei, na medida que Amor e Monstros deixa seu lado Monster Hunter de lado e embarca no seu lado Animais Fantásticos E Onde Habitam (2016) o filme até ganha um certo momentum e se torna algo interessante, mesmo que já tenha passado quase 30 minutos de duração desde que o filme começou. E é até divertido ver o trio combater as ameaças de todo o lado, e os mais diversos perigos, e vermos como eles se safam disso tudo, sempre alternando entre dormir ou comer, os dois não, afinal, os insetos gigantes podem rastrear seu cheiro diz Clyde como se aquilo fosse uma quarta-feira comum. E para ele é mesmo.
Mas quando o caminho do trio se diverge, Amor e Monstros embarca numa onda tão tão monótona que nem mesmo uma barata gigante poderia nos fazer acordar e sair correndo por aí. É como se estivéssemos quase no Castelo de Esmeraldas de O Mágico de Oz (1939) e chegássemos no bosque que deixa Dorothy e companhia com sono, sabem? Claro, a parte de Joel com a robô Mav1s (voz de Melanie Zanetti) é bonitinha e divertidinha, mas precisava tá no filme? Não precisava.
Afinal, quando o novo protagonista chega na tal colônia, e aqui sem spoilers, você sabe que ele vai chegar lá sim, afinal, não teríamos história, Amor e Monstros corre tanto com a trama, introduz novos personagens adoidado que você acaba por olhar para o relógio e se perguntar: quanto tempo de filme ainda temos aqui? Toda a parte que envolve a jovem Aimee e sua justificativa é completamente desinteressante e não me importava nada se eles fossem ficar juntos ou não. E isso se dá muito por conta da falta de química entre Henwick e O’ Brien que é zero quase nula, e pessoalmente, tudo apresentado nesses momentos finais realmente me soou muito caricato e sem carisma nenhum, igual o monstro do mar que eles precisam enfrentar.
E ao mesmo tempo que Amor e Monstros usa a técnica de roteiro chamada de foreshadowing, onde ao longo do filme os roteiristas plantam pistas para coisas que podem acontecer no futuro, e que são importantes lá na frente, mas a gente só sabe quando realmente chegar na parte x, a dupla responsável pelo roteiro, Brian Duffield e Matthew Robinson só conseguem fazer isso de uma forma nada sutil, onde a graça e o uso correto desse artifício é perdido toda vez que eles utilizam o recurso repetidamente principalmente no momento final onde o pior monstro que eles enfrentam são seres humanos.
No final, Amor e Monstros até deve ir bem e performar na Netflix, tem a cara e o jeitão de um filme original da plataforma. Ao assistir o filme não senti essa conexão toda com o longa, muito menos com boa parte dos personagens, mas também não me importaria em ver mais da dupla de personagens interpretados por Greenblatt e Rooker que realmente são a melhor coisa do longa disparado. O que eu sei é que Amor e Monstros me faz um filme que sai com Sentimentos & Conflitantes.
Amor e Monstros disponível na Netflix.