A franquia Alien é mais uma que veio no pacotão que a Disney recebeu quando comprou a 20th Century Fox, hoje chamada de 20th Century Studios e que é, atualmente, uma divisão dentro do conglomerado chamado de Walt Disney Company. E assim como outras das chamadas propriedades intelectuais, as IPs, ou como podemos chamar aqui no Brasil, de franquias que também vieram junto no mix, como Predador (já teve novo filme no streaming alguns anos atrás) e Planeta dos Macacos (já teve filme lançado alguns meses atrás), essa nova divisão do estúdio continua a trabalhar em revisitar essas franquias, e aqui com Alien, entrega Alien: Romulus (2024) que, sem dúvidas, faz um dos grandes acertos do ano e que caminha para ser um dos melhores filmes de gênero em 2024.
E esse bom – e assim por dizer, surpreendente, afinal, Alien: Romulus seria um para o streaming igual foi Predador: A Caçada, mas que é lançado nos cinemas – retorno de Alien parece que foi uma combinação de diversos fatores que isolados, talvez, não tivessem a força necessária para fazer esse projeto se sair tão bem, mas que juntos, tem sua força. É o caso de um diretor que vem, a cada novo projeto de gênero, por conseguir entregar bons filmes, o uruguaio Fede Alvarez, para uma franquia que é tão icônica e marcante mesmo com diversas sequências que foram espremidas para sair alguma coisa e manter o IP vivo ao longo dos anos, e principalmente pela escolha de atores jovens que estão galgando, projeto após projeto, um espaço em Hollywood.
Mas no espaço ninguém vai ouvir eles gritarem que Alien: Romulus é um filmão. Você precisa ir assistir. O que mais impressiona em Alien: Romulus são os visuais e o sentimento de estarmos vendo um novo filme de terror que estrela já com um ar de clássico. Afinal, seja na trilha sonora, seja nas cenas no próprio espaço, e na nave que boa parte do filme se passa, ou até mesmo no terror corporal e visceral que Alvarez apresenta aqui, Alien: Romulus parece que foi feito com um extremo cuidado nos detalhes e que ajudam a nos fazer cair de cabeça nessa atmosfera sombria, e querendo ou não, convidativa que o longa se apresenta.
Alien: Romulus esteticamente faz um filme belíssimo de se assistir, apoiados tanto nos efeitos visuais quanto nos práticos, e que são o que ajudam a contar essa história (que até é coesa, mesmo que tenha algumas ramificações narrativas por demais) já que o elenco não tem um nome de peso para chamar atenção e se desvincula totalmente da figura de Ripley de Sigourney Weaver e foca num grupo de jovens que estão numa nave no meio do espaço que cruzam caminho com as figuras mais aterrorizantes que existem no espaço e que agora dividem o espaço com eles.
Por se passar boa parte nessa nave, que se divide em duas partes, uma chamada Romulus e a outra Remulus, numa alusão aos gêmeos que foram criados por uma loba e que vieram depois a fundar a cidade de Roma, Alien: Romulus já nos faz cair de cabeça nesse novo capítulo da mitologia e pega boa parte do que tem dado certo nas produções de ficção científica e joga no Universo Alien: um mundo explorado por uma organização gigantesca, jovens querendo mudar seus destinos e jovens querendo mudar seus destinos enquanto se rebelam com a tal de organização gigantesca que comanda o planeta que eles vivem.
Assim, o roteiro de Alien: Romulus, logo no começo, já estabelece quem são esses personagens que vamos acompanhar ao longo das 2 horas que o filme tem e que Alvarez utiliza muito bem. E acho que nenhum desses personagens chegam a serem “gostavéis” ou carismáticos (mesmo que o elenco os interpretando esteja muito bem), mas talvez, acabam por ganhar a simpatia do longo do filme por conta de todos os perrengues que eles passam. Seja pela motivação de por que eles querem embarcar na nave que está vazia e que por algum motivo orbita perto do planeta que eles vivem, ou pelo sentimento de esperança que eles têm de conseguirem chegar em um outro planeta ao roubarem a nave.
Essa combinação, então entre os fatores o que nos fazem torcer por eles de certa forma. Principalmente quando os facehuggers, logo depois, o próprio xenomorfos, aparecem e colocam esses jovens como presas fácies em uma grande caçada. Alien: Romulus consegue acenar para a mitologia da franquia de maneira geral, e que presta uma homenagem de certa forma para todos os seus antecessores, ao mesmo tempo que cria alguma coisa única e própria. Afinal, temos todo um debate filosófico e moral também visto em outros filmes da franquia, onde os roteiristas (Alvarez e Rodo Sayagues) de Alien: Romulus conseguem entregar uma história focada em inteligência artificial juntamente com a boa e velha perseguição de uma figura ameaçadora e jovens num lugar fechado (aqui no caso uma nave no espaço).
“Tem alguma coisa na água” , diz um dos personagens. E dessa cena para frente o sentimento alucinante e o estado de modo de sobrevivência que esses personagens vivem é impressionante de se ver. Alien: Romulus cria um sentimento de tensão gigante, afinal, esses jovens estão ali presos, em busca de combustível para alimentarem as cápsulas criogênicas que eles pretendem ficar por quase 10 anos, e descobrem também que estão com um tempo limitado para saírem com essa nave roubada para o novo planeta que eles querem ir.
E claro, descobrem que não estão sozinhos nela. Num ritmo extremamente frenético, precisamos ver como a jovem Rain Carradine (Cailee Spaeny que realmente está incrivelmente boa aqui e numa ótima sequência de filmes com Priscilla e Guerra Civil), Andy (o expressivo David Jonsson também muito bom e vindo de uma das comédias românticas mais legais do ano passado Rye Lane), Navarro (a basicamente novata Aileen Wu) e ainda os irmãos Kay (Isabela Merced tentando emplacar mais uma franquia e deixar Madame Teia como uma nota de rodapé no currículo) e Tyler (Archie Renaux vindo da comédia romântica do streaming Upgraded) e seu primo deles, Bjorn (Spike Fearn) vão tentar conseguir superar todos os obstáculos possíveis para colocar essa neve em rota e claro com o tempero especial que é ter um tripulação de alienígenas a bordo também.
Em termos de atuação, acho que todos estão bem, mas são com as mulheres que Alien: Romulus tem suas melhores cenas: seja uma que envolve um raio x portátil, uma extremamente pesada e sangrenta e outra que realmente é o maior susto de todo filme lá nos minutos finais, onde o ritmo, e a trama, ficam ainda mais caóticos na medida que o eles lutam contra o relógio e também com os monstrões que estão na nave atrás deles. Spaeny lidera o elenco, e segura as pontas igual Weaver fez com o primeiro longa e é a cara da franquia até hoje, onde, sem dúvidas, a atriz em ascensão deverá ser lembrada no futuro pela franquia, igual a veterana tem sido.
O mesmo vale para Jonsson que garante as principais reviravoltas que o longa apresenta. A trama sabe trabalhar os conflitos entre esses personagens, darem motivações e contextos para os motivos deles estarem lá e de agirem como agem em diversos momentos. Mesmo com boas explosões, Alien: Romulus é um longa de ficção científica, com terror e com suspense criado na medida certa em nos fazer sentir tensão e um sentimento agoniante de não saber o que pode acontecer com esses personagens enquanto cruzam com um dos maiores predadores do Universo que solta ácido pela boca enquanto os persegue pelos corredores dessa nave.
No final, Alien: Romulus faz filme enxuto, extremamente eficaz em ser simples, mas não no sentido pejorativo, e, sim em ser aquele tipo de projeto entrega aquilo que promete: uma aventura pelo espaço, onde ninguém consegue ouvir um bando de jovens gritarem quando são perseguidos por um xenomorfo.
Alien: Romulus chega em 15 de agosto nos cinemas.