O quanto uma história pode ser contada e recontada? Se tratando de Little Women, livro da autora Louisa May Alcott, a adaptação pode ser feita várias e várias vezes. E como diz o título da obra em português, Adoráveis Mulheres, temos aqui uma nova versão simplesmente adorável.
Com elenco incrivelmente talentoso composto de astros em ascensão em Hollywood e que vivem seus melhores momentos, a diretora Greta Gerwig consegue fazer uma atualização divertida e encantadora de uma história que como falamos já foi contada e recontada diversas vezes.
Na adaptação de 2019 para Adoráveis Mulheres, Gerwig coloca um ar um pouco mais moderno e que fala com assuntos que anos depois continuam atuais, com questões e discussões válidas e pertinentes para a sociedade que vivemos hoje em dia.
Pelos olhos da protagonista Jo March (Saoirse Ronan, ótima e novamente em parceria com a diretora), Gerwig fala sobre a posição da mulher no mercado de trabalho, e as expectativas de uma jovem na sociedade daquela época. A Jo de Gerwig mantém a essência da personagem, uma figura destemida, que não se molda para os padrões da época, que busca independência a todo custo, e claro conseguir se expressar através de seus textos.
A Jo de Ronan representa milhares de mulheres por aí, onde por mais que a personagem viva em outro século sofre as mesmas coisas de algumas colegas sofrem ainda em 2019, numa era de Time’s Up e Me too. E Gerwig sabe disso e imprime um olhar quase único e certeiro nas divagações, nos desejos, e nos conflitos que tanto Jo quanto o resto das pequenas (grandes!) mulheres da família March vivem e experienciam.
Assim, Gerwig nos entrega um trabalho excepcional com sua versão de Adoráveis Mulheres. Temos uma verdadeira recriação de uma história clássica, com uma visão apurada, minuciosa, e cheia de detalhes sobre como viviam, pensavam, e principalmente sentiam essas mulheres.
Em Adoráveis Mulheres, Gerwig preza pelos detalhes técnicos, seja pelos figurinos de época, pelas locações fantásticas, ou por uma câmera mais fechada no rosto de certa atriz para deixar o espectador sentir o que determinada personagem quer passar, seja alegria, seja raiva ou tristeza.
E para isso, Gerwig fez questão de escolher a dedo seu elenco. Se Saoirse Ronan se destaca como Jo, quem rouba a cena em todos os sentidos é Florence Pugh, como a jovem e espivetada Amy, onde a atriz termina seu incrível 2019 com um papel excelente. Em Adoráveis Mulheres, as duas entregam atuações cativantes em momentos deliciosos de se acompanhar e se emocionar.
E o elenco de maneira geral parece bem entrosado, desde das outras irmãs que parecem ficarem de pano de fundo, mas que quando tem seus momentos, as atrizes Emma Watson (como Meg March) e Eliza Scanlen (como Beth March) sabem entregar boas atuações e não ficam aquém de suas colegas. O mesmo vale para as veteranas Meryl Streep (como a astuta Tia March) e Laura Dern (como a esforçada Marmme) que voltam a trabalhar juntas após o segundo ano da série Big Little Lies, e aqui, estão divinamente fantásticas em pequenas doses ao longo do filme como figuras completamente opostas.
E mesmo num filme totalmente focado em protagonistas femininas, os representantes masculinos também se destacam, como o queridinho dos cinéfilos, o talentoso ator Timothée Chalamet, outra figurinha carimbada que retorna a trabalhar com Gerwig interpretando o bon vivant Laurie, o ótimo Louis Garrel como Friedrich Bhaer que parece querer fisgar o coração de uma das irmãs March, e ainda James Norton como o trabalhador John Brooke.
Assim, a versão 2019 de Adoráveis Mulheres faz um filme esteticamente impecável, com atuações marcantes e com um roteiro envolvente que deixa o espectador com a vontade de acompanhar as irmãs March durante anos e mais anos. No final, a mão talentosa de Gerwig para o olhar feminino nos entrega novamente uma história apaixonante e que se debruça em passagens incrivelmente bem feitas. Adoráveis Mulheres faz um ótimo filme para apresentar as March mulheres para novas gerações.
Adoráveis Mulheres chega nos cinemas nacionais em 9 de janeiro.