terça-feira, 22 outubro, 2024
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Festival do Rio | A Vilã das Nove | Crítica: A graça é na piada

A graça fica na piada e na metalinguagem, onde Karine Teles consegue liderar o elenco dessa história extremamente humana. Nossa crítica de A Vilã das Nove.

Desde do anúncio de A Vilã das Nove (2024) eu já estava meio que comprado pelo que poderia ser, e o que esperar, desse filme nacional. E junto com a premissa, o que também mais me deixava empolgado, era que o projeto seria protagonizado pela sempre competente Karine Teles e desde então minha expectativa estava lá em cima. E confesso que o filme não me decepcionou depois que eu assisti.

Já que não é à toa que desde do começo dava para saber que teríamos sim um bom projeto aqui. Afinal, o longa do diretor Teodoro Poppovic, que também assina o roteiro ao lado de André Pereira, Maíra Bühler, Gabriela Capello acerta ao contar essa história, onde é no meio da piada e da metalinguagem de contar esse segredo que é exposto em uma novela para milhões verem, que A Vilã Das Nove consegue contar uma boa história e principalmente uma extremamente humana. 

Karine Teles em cena de A Vilã das Nove. Foto: Star Original Productions.

E mesmo que o filme, como filme mesmo e produção cinematográfica, oscile em não se definir totalmente em ser ou só uma comédia ou só um drama, e não ter aquele aspecto de cinema, dá para sentir que A Vilã das Nove cumpre seu papel em entreter com as maluquices e propostas aqui apresentadas e acima de tudo homenagear um dos maiores símbolos da cultura nacional: a telenovela.

Ter nessa história a figura de Regina (Teles, excelente), uma mulher aparentemente comum e que leva uma vida comum, mas que descobre que um segredo que ela vinha guardando há anos é a trama principal da nova novela das nove é o que dá para o filme um sabor especial e extremamente brasileiro de se acompanhar.

E A Vilã Das Nove brinca com tudo isso, em uma das cenas, por exemplo, logo do começo, vemos Regina receber um aluno (ela dá aulas de voz) que é um ator que precisa perder o sotaque e faz um monólogo sensacional sobre isso, sobre a indústria, e tudo mais, que é ali que notamos qual seria o tom que roteiro iria levar essa história. E o que poderia ser apenas um filme com uma trama rasa,  jocosa e apenas divertidinha, A Vilã Das Nove acaba por ser muito mais, onde essa história mais cômica é intercalada com um drama geracional que no final das contas acaba por ser muito bem contado e principalmente atuado.

 E que claro que Teles engole a todos com sua presença extremamente cativante de se assistir, mas o elenco que Poppovic separa aqui também está muito bem. No meio de contar a história de Regina, A Vilã das Nove apresenta a narrativa para o público de forma fragmentada, onde primeiro vemos os flashbacks do que aconteceu com Eugênia (antes dela se transformar em Regina) para depois a narrativa ser construída, aos poucos, na medida que acompanhamos também a chegada de Débora (Alice Wegmann) na narrativa.

E depois que a jovem vende sua ideia de novela para Modesto (Antonio Pitanga), o ban-ban de uma das maiores emissoras país, A Vilã das Nove embarca o espectador no desenvolvimento e na estreia dessa tal novela, A Mãe Má, onde vemos a figura de Eugênia ganhar vida, e claro, o filme, ares mais novelescos. É um paralelo interessante, mesmo que deixe o filme com um jeitão menos de cinema.

Camila Márdila e Karine Teles em cena de A Vilã das Nove. Foto: Star Original Productions.

E para isso temos a figura da atriz Paloma (Camila Márdila, ótima) que leva as doideiras e falcatruas de Eugênia na TV e brinca com todos os estereótipos, os arquétipos e situações que já passaram na história da teledramaturgia nacional. É uma mistura de Maria de Nazaré Tedesco de Senhora do Destino com Carminha de Avenida Brasil e uma piatada de Odete Roitman (já que o remake de Vale Tudo tá em alta) e que Márdila (no seu terceiro projeto de destaque no ano) tira de letra e realmente está muito bem.

A novela tem golpe de herança, tem mãe maltratando filha e marido, é fuga de cidade, é morte cerebral que é revertida. A narrativa de A Vilã das Nove então brinca com tudo isso, não só na novela, como fora dela, já que Paloma em uma das cenas é agredida num bar quando um capítulo mostra Eugênia em mais uma barbaridade. E na medida que Regina, tenta ir a fundo e descobrir o que aconteceu e quem é a pessoa responsável por contar seu segredo para milhões de brasileiros, não só a trama do filme que ganha outros ares.

Toda a toda a estética visual, seja de produção, a trilha sonora, e figurinos, tudo muda,onde A Vilã das Nove vai e volta em mostrar a vida real, a novela, e não deixa de fazer comentários extremamente ácidos sobre o mercado de entretenimento e seus bastidores. E na medida em que Regina começa a se envolver com Paloma, a mulher que a interpreta na novela, A Vila das Nove, vai por seguir sua trama quase como se fosse uma mesmo. E é nos paralelos, na piada, dentro da piada que temos a graça do filme.

Enquanto Debora, Modesto e todo o elenco de produção e A Mãe Má piram com os arcos narrativos, Regina vai atrás da verdade antes que sua filha (Laura Pessoa) e seu ex-marido (Negro Leo) descubram a verdade. Daria muito bem para A Vilã das Nove ter sido uma série no Disney+, sem dúvidas, mas a forma como Poppovic faz para contar essa história que pula entre a vida real e a novela da história é muito interessante de se assistir, principalmente numa sessão lotada como a minha no Festival do Rio. É a experiência de acompanhar uma história no coletivo, de rir junto com piadas, e acenos para uma realidade tão do brasileiro que é a telenovela, e que serviu, muito mais no passado, como um escapismo para os problemas do dia dia e foi um produto que uniu a população em diversos momentos.

E na medida que o filme chega nos momentos finais, digno de final de novela, mas aqui sem casamento, A Vilã das Nove consegue deixar sua piada de lado e realmente focar no que realmente importa aqui: a relação entre mãe e filha. Filhas no caso. Mas isso são cenas do próximo capítulo, caro leitor.

Nota:

Filme visto no Festival do Rio, em outubro.

A Vilã Das Nove chega nos cinemas nacionais em 31 de outubro.

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Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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