quinta-feira, 14 novembro, 2024
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A Noite das Bruxas | Crítica: Novo mistério poderia chamar Only Hercule Poirot in The Building

Ao se falar em franquias para o cinema não podemos esquecer que além dos filmes de super-heróis e dos longas de terror, temos também uma, dentro de diversas outras, que tem movimentado Hollywood de uma certa forma: a franquia de mistério que o ator e diretor britânico Kenneth Branagh tem feito com as adaptações dos livros de Agatha Christie.

E tem dado certo para Branagh. Afinal, pode se dizer que ele foi um dos precursores desse retorno do gênero quem matou? para as telonas, e depois para as telinhas no streaming, lá em 2017 quando reuniu um grande elenco ao adaptar Assassinato no Expresso do Oriente e depois a sequência, Morte No Nilo, alguns anos depois, em 2022, onde os bastidores acabaram por serem mais interessantes do que o longa em si.

Mas agora com A Noite das Bruxas (A Haunting in Venice, 2023) Branagh parece finalmente ter acertado o tom com essas adaptações, mesmo que a história não seja tão empolgante quanto as que vimos nos outros longas. 

 Tina Fey, Michelle Yeoh e Kenneth Branagh em cena de A Noite das Bruxas.
Foto: Photo by Rob Youngson. © 2023 20th Century Studios. All Rights Reserved.

Afinal, se o primeiro tinha um tom mais sério, quase com a intenção de ser um candidato forte para a temporada de premiações daquele ano, o segundo era mais solto e menos pomposo. E agora, com essa terceira adaptação, fica claro que o diretor abraça a galhofa e entrega uma história, boa sim, mas que não é uma muito para se levar a sério.

Claro, Poirot continua o destaque, com seu jeito excêntrico, canastrão e o bigode marcante também está ali, mas sinto que A Noite das Bruxas consegue trabalhar muito bem a questão da dualidade, o jogo de sombras (tanto quando falamos da parte estética do filme em si, quanto da moralidade dos personagens), e também brinca com a questão da superstição versus o olhar científico e metódico do detetive. 

A Noite das Bruxas garante que temos um novo elenco de nomes conhecidos para desfilar na medida que o detetive investiga esse novo caso que o força a deixar sua aposentadoria e suas férias em Veneza. O longa traz diversos nomes que trabalharam com o diretor em outros projetos como Jude Hill e Jamie Dornan, ambos do indicado ao Oscar Belfast, e aqui estão ao lado de Tina Fey, num papel ideal para ela depois das participações em Only Murders in The Building e de Michelle Yeoh vindo após o seu merecido Oscar na temporada anterior.

O mesmo vale para as atrizes Camille Cottin (vista em Casa Gucci) e Kelly Reilly (da série Yellowstone), e pelo ator Kyle Allen que tem garantido seus espaços em Hollywood aos poucos e completam a lista dos rostos mais conhecidos de A Noite das Bruxas.

Assim, esse elenco, e assim por dizer esses suspeitos, ficam todos reunidos em um casarão (um palazzo) numa noite chuvosa na cidade italiana na época do Dia de Todos Os Santos, onde uma cantora de ópera (Reilly), atormentada pela morte da filha algum tempo atrás, reúne alguns convidados para uma festa, onde a atração principal é a chegada de uma vidente (Yeoh, faz muito com o pouco que aparece) para tentar se comunicar com os mortos, fazer a artista conversar com a filha e tudo mais.

A ideia de colocar todos os personagens juntos, numa casa isolada, à noite, onde eles não podem sair, é a fórmula clássica do gênero, onde aqui A Noite das Bruxas capricha na ambientação de terror, no sentimento de paranoia, e claro no tom mais puxado para o sobrenatural. 

Com uma lenda envolvendo arranhões e marcas no corpo, um orfanato desativado, e uma superstição tremenda, Poirot fica em cima do muro entre o que ele acredita, ou seja, no seu trabalho de dedução e que tudo tem uma resposta prática, e com aquilo o que ele não acredita, o contato com sobrenatural, as vozes vindo dos cantos, e vultos que passam rapidamente ao longo dos olhos.

Começando pelo canto, na frente, Jude Hill, Camille Cottin, Michelle Yeoh, Jamie Dornan e Kyle Allen em cena de A Noite das Bruxas.
Foto: Photo courtesy of 20th Century Studios. © 2023 20th Century Studios. All Rights Reserved.

Convencido pela colega Ariadne Oliver (Fey, ótima), uma autora de sucesso que sofreu com os últimos livros que não foram muito bem em vendas, para tentar desvendar e provar que essa vidente não passa de uma charlatona, Poirot retorna para esse novo caso e que promete alguns pulinhos na cadeira aqui e ali.

A trama demora para apresentar os personagens, suas relações, e as pistas para essa história, mas toda vez que Poirot se aproxima de chegar perto de desvendar o crime, no caso aqui os crimes, A Noite das Bruxas se torna um pouco mais complexa, e interessante de se acompanhar.

O roteiro de Michael Gree (que trabalhou com Branagh nos outros dois filmes) adaptado do livro da autora Agatha Christie, lançado em 1969, chamado Hallowe’en Party acerta em não fazer o espectador de palhaço e nos apresenta as pistas, as teorias, e as explicações na hora certa, coisa que fazem de A Noite das Bruxas primeiro ser um bom filme de mistério, e depois um bom filme, dentro da franquia.

Fey, Yeoh, e o jovem Hill, juntamente com Branagh que realmente se encontrou como personagem, ditam o tom para o longa e para a trama de maneira geral. Os três estão muito bem, o mesmo já não dá para dizer de um apagado Dornan. Já na cadeira de direção, Branagh ainda aproveita para fazer a locação ajudar a não só contar essa história como ambientar o espectador a nos fazer sentir que estamos ali com esses personagens. 

No final, fica claro o motivo que temos mais um novo filme para essa franquia na medida em que A Noite das Bruxas entrega um mistério feito para ser desvendado aos poucos, igual a maré que cresce pelas ruas da cidade italiana. E com a possibilidade de ser mais um capítulo dentro das aventuras de Poirot nos cinemas, o longa se estabelece como o mais diferente, tanto visualmente quanto narrativamente falando, dentre os três. E isso, se serve de alguma coisa, já é um grande triunfo.

Nota:

 

Onde assistir A Noite das Bruxas?

A Noite das Bruxas chega em 14 de setembro nos cinemas nacionais.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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