InícioDestaquesA Morte Entre Outros Mistérios  | Crítica: Um novo e divertido whodunit

A Morte Entre Outros Mistérios  | Crítica: Um novo e divertido whodunit

“Se você quer resolver esse crime, ou qualquer crime, você precisa aprender a ver através da ilusão” diz Rufus Cotesworth (Mandy Patinkin) ao longo da narração dos primeiros episódios de A Morte Entre Outros Mistérios, a nova série do Star+ que nos apresenta para um murder mystery que vai se desenrolar ao longo de episódios semanais que serão liberados na plataforma, onde o personagem desse detetive nos apresenta para a história e para os principais suspeitos que estão a bordo de um luxuoso barco onde alguém aparece morto logo nos primeiros dias da viagem.

Mandy Patinkin e Violett Beane em cena de A Morte e Outros Mistérios.
Foto: Courtesy of Hulu – © Hulu

A Morte Entre Outros Mistérios vem nesse boom de séries, e filmes, de mistério whodunit (aqueles que precisamos descobrir quem matou?) que fazem sucesso há anos, mas que viram uma proliferação maior no pré, e ao longo dos meses de pandemia, e principalmente no streaming. Afinal, em termos de produção, colocar um bando de atores isolados, em um lugar remoto (seja uma ilha, um resort de luxo na Europa, ou nos confins do mundo) era uma das poucas opções para termos novos conteúdos nos tempos pandêmicos.

E claro que A Morte Entre Outros Mistérios não foge disso. Na nova série do Star+, é como se os produtores colocassem (uma paródia) da família de Succession, dentro do resort de The White Lotus, só que num navio luxuoso que pareceu sair das aventuras de Benoit Blanc nos filmes Knives Out, com uma história meio adoidada e cheia de pistas para serem descobertas, a cara do trio de amigos de Only Murders In The Building.

E por mais que você já tenha visto uma produção assim e que A Morte Entre Outros Mistérios acabe por entregar uma mistureba gigante de tudo que andou pipocando por aí sobre o tema, a série faz isso de uma forma extremamente convidativa de se assistir e querer saber o que está acontecendo. Talvez seja pela ambientação mais pomposa nesse navio de luxo que ofereça um cenário, e uma vibe, mais antiga tipo nos livros de Agatha Christie, ou pela liderança do veterano Patinkin, que como é dito na atração, é “um dos melhores detetives do mundo”, mas que a sacada aqui seja notar que que ele não está no seu melhor momento, ou ainda pela história intrincada que se conecta com o passado da jovem Imogene (Violett Beane), onde no final, na série, fica claro que precisamos desvendar dois mistérios que acabaram em morte, de uma vez só, já que estão de certa forma conectados um com o outro.

O primeiro, no começo dos anos 2000, quando a jovem Imogene (a atriz mirim Sophia Reid-Gantzert) presenciou o carro da mãe explodir na sua frente, depois conheceu o detetive Rufus Cotesworth quando que ele assumiu a investigação a mando da família Collier que a adotou. E depois, o segundo, agora quase 20 anos depois, quando o caminho de Imogene e de Rufus cruzam novamente, os dois estão a bordo de um luxuoso iate e um novo crime acontece.

E não só um crime acontece, mas diversas outras situações estão por acontecer a bordo do SVaruna um empreendimento bilionário criado por Sunil (Rahul Kohli, sempre muito bem), um banqueiro que deixou a profissão, e é comandado pela gerente do lugar, a mão de ferro Teddy Goh (Angela Zhou).

A bordo também, e no centro de tudo, temos a família Collier, liderados pela melhor amiga de Imogene, a implacável futura CEO Anna (Lauren Patten, ótima) (só falta o pai dela a anunciar no posto) e a família Chun, liderados por Eleanor (Karoline) onde ambas as executivas, e as empresas que representam, flertam com uma possível parceria EUA-China que mudaria a indústria do fast fashion com um acordo de bilhões.

As jovens estão na liderança, mas isso não impede que os mais velhos, tanto o patriarca Lawrence Collier (David Marshall Grant) e a matriarca Celia Chan (Lisa Lu) também não estejam de olho no acordo. Entra aí a conexão com Succession. E com todos esses personagens a bordo nesse luxuoso e paradisíaco navio (bando de gente rica e excêntrica, tá aí a conexão com The White Lotus), as coisas ficam cada vez mais difíceis de descobrir o que aconteceu.

Lauren Patten, Pardis Saremi e Violett Beane em cena de A Morte e Outros Mistérios.
Foto: Courtesy of Hulu – © Hulu

A jovem Imogene também se torna uma das principais suspeitas do caso e precisa começar a investigar, juntamente com Rufus, o que rolou, principalmente, durante os 7 minutos e alguns segundos em que a câmera do corredor do quarto da pessoa falecida ficou apagada. 

“Preste atenção. Detalhes importam.” As peças do quebra-cabeça de A Morte Entre Outros Mistérios não são dadas de forma fácil, afinal, a conexão entre os dois crimes parecem apenas uma mera suspeita da dupla principal, mas o seriado criado pela dupla Heidi Cole McAdams e Mike Weiss, acerta em dar as pistas certas, nas horas certas.

Por mais que isso deixe a narrativa ficar extremamente fragmentada ao longo da história, a série acerta em nos deixar presos nessa história, e como ela é contada. A forma como os personagens voltam em suas memórias e interagem com elas, deixam a atração com um toque visual bem interessante. E mesmo com bons ganchos entre os episódios, o vai e vem da trama que vai e volta no tempo e em uma quantidade alarmante de vezes, é preciso querer muito saber o que aconteceu aqui. Mas confesso que as reviravoltas sempre me pegavam se surpresa.

E isso se dá pelo fato que A Morte Entre Outros Mistérios tem diversos personagens caricatos que vemos a rodo nessas produções, do irmão fanfarrão amante de festas e substâncias ilegais, Tripp (Jack Cutmore-Scott, hilário), do ricaço sem-noção do sul dos EUA, e convidado de Tripp para investir em um negócio meio suspeito, o bonachão Ketih (Michael Gladis), da política cheia de segredos, a governadora Alexandra (Tamberla Perry), o chefe de segurança galanteador, o francês Jules (Hugo Diego Garcia), a esposa de Anna, a ex-jornalista e agora paranóica de conspiração Leila (Pardis Saremi) e um padre com conexões bem suspeitas com boa parte dos personagens, Padre Toby (Danny Johnson), entre outros que pipocam mais, outros menos, ao longo da série.

E como todo projeto do gênero, em A Morte Entre Outros Mistérios todos eles tem seus segredos e fariam de tudo para deixar esses segredos escondidos. Assim, ao apresentar diversos personagens, seja os hóspedes VIPs quanto os funcionários do navio, A Morte Entre Outros Mistérios aumenta a quantidade de tramas paralelas, sub-histórias, pistas e suspeitos que precisamos acompanhar. Boa parte delas são interessantes e cruciais para a história principal, mas outras são apenas desvios, alguns necessários, outros somente para encher linguiça e que deixam apenas a trama, não só do passado, quanto a do presente um pouco confusa.

Claro, na medida que Rufus, Imogene, e logo depois a equipe da Interpol, liderados pela policial linha dura Agente Erisken (Linda Emond), começam a desvendar as pistas, conectar os pontos, e riscar não só os is, mas também a lista de suspeitos, A Morte Entre Outros Mistérios entrega bons momentos e faz uma atração de quem matou? extremamente divertida, empolgante, e viciante.

Afinal, depois de passar um tempo com esses personagens em A Morte Entre Outros Mistérios você vai querer tentar descobrir junto com eles o que aconteceu e quem foi o responsável, de ter usado o candelabro, na sala de estar nesse navio. Palpites? 

A Morte Entre Outros Mistérios chega com estreia dupla em 16 de janeiro no Star+ e depois, toda terça-feira, exibe um novo episódio.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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