Este novo filme da franquia A Morte do Demônio, intitulado por aqui A Morte do Demônio: A Ascensão (Evil Dead Rise, 2023) é um daqueles casos de produções que acertam bem em fazer a lição de casa de como entregar um filme de terror de baixo orçamento e que vai duplicar (ou sei lá, triplicar) o que foi gasto para tirar o projeto do papel.
E num é esse o motivo pelo qual filmes do gênero voltaram com tanta força em Hollywood nos últimos tempos?
A Morte do Demônio: A Ascensão entrega também aquele tipo de filme que a experiência de assistir junto, do coletivo, com várias outras pessoas na mesma sala de cinema, faz total a diferença aqui ao se assistir essa produção. O longa é milimetricamente, e perfeitamente desenhado para entregar, e impactar, o espectador com essa ambientação pesada e gore que o diretor Lee Cronin (de The Hole in the Ground) oferece.
E ao mesmo tempo que Cronin trabalha em cima de uma mitologia extremamente intensa, com livros que contam a história de demônios, padres que lutaram contra essas ameaças no passado, e discos de vinil que ajudam a trama a decolar, o roteiro do diretor desenvolve essa história de possessão demoníaca aos poucos para ambientar o espectador nessa história. E assim, antes da confusão acontecer, o texto foca na família principal, nos problemas pessoais deles, e basicamente em nos apresentar para quem é quem nessa trama, e como suas personalidades vão ser importantes para quando a ameaça sobrenatural que eles enfrentam, realmente entrar no apartamento que eles vivem e mudar as dinâmicas entre esses personagens.
E claro, vermos quem vai sobreviver nessa noite em que o mal ganha forças. E realmente A Morte do Demônio: A Ascensão entrega um filme bem atmosférico de se assistir e de fazer o espectador compartilhar com a pessoa ao seu lado na sala, os pulinhos, as cenas mais gores e violentas que o longa oferece. Eu particularmente acho que nunca mais vou olhar para um copo de vidro e um ralador de queijo da mesma forma.
E não é só isso. A Morte do Demônio: A Ascensão entrega um bom retorno para a franquia, mas também presta homenagem para diversos filmes de terror ao longo dos anos, inclusive para a própria franquia Evil Dead. O espectador mais treinado nas produções do gênero, verá que o diretor coloca em algumas cenas, passagens basicamente iguais a de produções consagradas como O Iluminado, por exemplo. Nada que afete o desenrolar da história, ou da trama, afinal, o que importa aqui é vermos como essa família vai lidar com essa ameaça que estava enterrada há muitos anos e que foi descoberta pelo jovem Danny (Morgan Davies) quando um terremoto atinge o prédio onde eles vivem.
E basicamente família é o que rege o filme, afinal, logo na ótima cena inicial de A Morte do Demônio: A Ascensão vemos duas primas em uma casa isolada lidando com o demônio em questão para logo em seguida partimos para conhecermos a toda tatuada e com os cabelos recém pintados de vermelho Ellie (Alyssa Sutherland), e seus filhos Bridget (Gabrielle Echols), Kassie (Nell Fisher) e também o próprio Danny.
A chegada da “roqueira” Beth (Lily Sullivan), uma jovem que trabalha como técnica em uma banda, e que vive a vida musical como ninguém, deixa A Morte do Demônio: A Ascensão com uma sensação de assistirmos um Frozen, só que do terror, na medida que as relações entre essas irmãs, já estremecidas por questões do passado, a deixam mesmo juntas embaixo do mesmo teto, ainda mais distantes na medida que Beth lida com um evento que muda sua vida, tanto profissional quanto pessoal, e Ellie ainda precisa superar ter sido largada pelo marido alguns meses atrás.
E na medida que o demônio finalmente cerca esses personagens e começa a manipular essa família, e claro, possuir alguns deles (uma salva de palmas para a atriz Alyssa Sutherland que realmente está maravilhosa como essa mãe possuída), o longa entra numa fase mais terror, mais angustiante, e mais inquietante. É quando A Morte do Demônio: A Ascensão faz valer sua ambientação escura e personagens sofredores para dar uns bons sustinhos aqui e ali e entregar cenas de cobrir o rosto de medo do que esse demônio poderá fazer com esses personagens.
E sem um grande nome no elenco para chamar atenção, é o texto, e as manobras que o diretor escolha para as cenas que devem fazer o trabalho pesado aqui, e de boca-a-boca para o filme. Os efeitos práticos das cenas de possessão demoníaca garantem bons e agoniantes momentos, e como falamos, garantem que o longa seja um bastante imersivo para a trama que quer contar.
Os sons são parte fundamental dessa experiência e que combinam o que seja lá de macabro está por rolar na tela, seja corpos se contorcendo em banheiras, olhos prestes a serem atingidos por objetos cortantes, ou até mesmo, serras elétricas sendo usadas para contra atacar essa ameaça sobrenatural e que espalha sangue e partes do corpo por ai, adoidadamente, nessa noite escura que os personagens vivem no prédio caindo aos pedaços que moram.
É curiosa a ideia de que esse filme foi feito para ser visto em casa, mas alguém, em algum escritório no coração de Hollywood, decidiu dar esse upgrade para o projeto e o fazer ascender de patamar, e decidir lançar A Morte do Demônio: A Ascensão nos cinemas.
No final, fica claro que essa ideia foi muito bem-vinda, afinal, o longa parece que foi desenhado para isso mesmo, de fazer o público compartilhar essa experiência assustadora em coletivo, bem mais que no conforto do lar.
E onde assistir A Morte do Demônio: A Ascensão?
A Morte do Demônio: A Ascensão chega em 20 de abril nos cinemas.