A Ilha da Fantasia (Fantasy Island, 2020) é um daqueles casos que a galera pega no pé de uma forma mais forte que outras. Claro, temos alguns motivos para isso acontecer… mas confesso que não achei A Ilha da Fantasia tão ruim assim, viu? É como diz um dos personagens ao longo do filme, “fantasias nunca acontecem da forma que você quer elas aconteçam”.
Talvez o longa sofra do mesmo problema que O Grito (2020), também lançado pela Sony Pictures no longínquo começo do ano, e acaba por entregar uma história fragmentada e episódica que não engrena como uma produção cinematográfica. A Ilha da Fantasia também sofre por ser uma nova versão de um clássico antigo e que mexe com a nostalgia do povo, afinal, só por ser antigo não quer dizer que seja bom ou que valha a pena fazer um remake.
E a Sony Pictures parece que se tocou com isso, afinal, o estúdio não para de apertar suas franquias antigas em novas versões como As Panteras, MIB – Homens de Preto, e Bad Boys (o único que realmente deu dinheiro), e aqui, a nova versão de A Ilha da Fantasia é baseada na série de TV clássica dos anos 70 e 80, também ganha uma nova roupagem e um novo Sr. Roarke, o anfitrião de uma ilha paradisíaca e com poderes mágicos. O novo Roarke continua a ser um cara latino, mas aqui não mais um senhor branco de meia idade e é interpretado pelo talentoso Michael Peña. E o novo A Ilha da Fantasia faz uma representação dos novos tempos, da popularização das histórias seriadas, e do boom de produções do gênero de terror como forma de contar uma história e inserir os personagens em uma contextualização bem mais do que apenas assustar por assustar. A Ilha da Fantasia não assusta propriamente dito, e por conta de diversos momentos sem pé nem cabeça, o longa engrena apenas nos momentos finais e se apoia em inúmeras mudanças no seu roteiro para entregar com bastante dificuldade um bom e pirado quebra-cabeça.
Ao unir 5 hóspedes no hotel da ilha, A Ilha da Fantasia trabalha as fantasias individuais de casa um deles, só para depois unir todas as histórias na verdadeira trama do filme. E é aqui que fica nosso sentimento que A Ilha da Fantasia poderia ter sido um reboot da série como uma série mesmo, afinal, o roteiro do trio Jillian Jacobs, Christopher Roach e Jeff Wadlow (que também dirige o longa) parece condensar as tramas dos personagens rapidamente para dar um fluxo para a história que acaba por deixar o longa um pouco confuso num primeiro momento. Afinal, já temos os atores de seriados que interpretam os hóspedes no filme, então nada mais justo A Ilha da Fantasia ser uma série mesmo.
A grande fantasia mesmo que fica ao assistir o filme é imaginar como seria se fosse uma série de 6 episódios desenvolvida pela Sony Pictures TV e não pela filial de cinema. E também pensar que nenhum executivo que assistiu isso não tenha pensado em aprovar o projeto como uma produção do gênero e que claramente funcionaria muito melhor em alguma plataforma de streaming.
Na trama, conhecemos Gwen (Maggie Q), uma moça que se arrepende de não ter dado uma chance para um amor do passado, a jovem Melanie (Lucy Hale) que quer vingança de uma colega que a fez sofrer no colégio, Patrick (Austin Stowell) um rapaz que sofre por não ter seguido seu sonho de entrar no exército, e os irmãos sem noção J.D (Ryan Hansen) e Brax (Jimmy O. Yang). E assim, cada um deles ganha da ilha a chance de terem suas fantasias realizadas pelo local, e que segundo o misterioso Sr. Roarke (Peña) precisam se desenrolar naturalmente. Mas claro, que na nova versão de A Ilha da Fantasia algumas regras estão ali para serem quebradas, não é mesmo?
Na medida que o filme começa a mostrar para o espectador, quais são elas, e como elas se desenvolvem, o filme parece perder um pouco de seu ritmo. Os cortes secos e as mudanças nas fantasias de cada um deles deixa, a produção com um senso de estagnação muito grande, afinal, A Ilha da Fantasia tem histórias mais interessantes do que as outras.
E quando todas elas se unem e você fica “Ah, então é isso?” o sentimento é que demorou muito tempo para esses personagens, alguns bem sem sal diga-se de passagem, e aparentemente desconhecidos uns dos outros, se conectarem entre si.
A atriz Maggie Q, e sua colega Portia Doubleday – que interpreta o foco e o tema de uma das fantasias (Mas não nesse sentido que você está pensando!) – são as melhores do elenco, sem dúvida nenhuma, onde o roteiro pelo menos dá alguma coisa interessante para as duas trabalharem em suas fantasias, e nos problemas não resolvidos que as levaram para a ilha. Já os atores Hansen e Yang fazem uma dupla puramente o alívio cômico do filme e que se apoiam em boas tiradas e nas fantasias mais malucas vistas no filme, como festas de fraternidade, modelos de biquini e drogas.
Já a queridinha Lucy Hale, com um papel completamente diferente da boa moça que ela sempre interpreta, e Michael Rooker como um cara que persegue o grupo e tem uma história interligada com a Ilha, não parecem tão confortáveis assim, mas é aquele ditado, temos que pagar os boletos né?
A Ilha da Fantasia não passa de um filme de terror b que tenta ser um bom suspense. Cheio de reviravoltas previsíveis e mirabolantes, e as mudanças no tom de seu roteiro, fazem com que tenhamos uma grande salada mista. A tentativa de surpreender o espectador a cada 5 minutos nos deixa fantasiando se os produtores tivessem optado por um gênero só e indo a fundo nele. O segundo filme da produtora Blumhouse com a atriz Lucy Hale, não tem o mesmo charme de Verdade Ou Desafio (2018), onde A Ilha da Fantasia se leva a sério demais e se apoia em um mitologia já criada em outra produção que não deixa o longa brincar com as pirações de uma forma que poderia ser mais interessante.
No final, A Ilha da Fantasia se desenrola com um sonho, aqui no caso, um pesadelo, e como diz o Sr Roarke, “às vezes você pode não lembrar de todos os detalhes, mas sabe exatamente como ele o te fez sentir”. Mas mesmo com todos os altos e baixos compramos a ideia. E você?
A Ilha da Fantasia chega em 24 de setembro nos cinemas.
O filme foi visto em casa, cortesia da Sony Pictures que nos enviou de forma antecipada para assistir e escrever essa crítica. Recomendamos o leitor, se for encarrar a visita ao cinema, se proteger e seguir todas as recomendações de segurança contra o COVID-19 impostas pelas organizações de saúde.
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