Uma das regras do personagem de Bill Murray em A Crônica Francesa (The French Dispatch, 2021) é “Sem chorar no meu escritório”, está acima da porta do escritório, é como se fosse a versão rabugenta de “Believe” da série de comédia Ted Lasso (Apple TV+) e aqui vou usar a frase e adaptar para “Sem chorar nos comentários do meu texto.”
Confesso que não cai de amores com A Crônica Francesa, um dos primeiros filmes que eu vi na edição 2021 da 45ª Mostra Internacional de São Paulo, e que para mim poderia facilmente se chamar A Chatônica Francesa aqui no Brasil. É tão ruim assim? Absolutamente não. Mas para mim o longa se apoia muito mais no conceito e no fator Wes Anderson do que efetivamente apresentar um bom filme.
O famoso e prestigiado diretor sem dúvidas entrega mais um filme onde as coisas estão milimetricamente nos seus respectivos lugares, desde dos enquadramentos dos objetos ou da posição dos atores e visualmente A Crônica Francesa é lindo com suas cores e tonalidades mais claras. Mas o que me puxou completamente para fora do filme foi que as pequenas histórias apresentadas de forma isolada umas das outras (mais abaixo) oscilam demais. A Crônica Francesa chega com um sentimento de filme velho, sabe? E não por que ele se passa em uma cidadezinha francesa no século XX onde vemos um grupo de jornalistas tentando publicar a última edição de uma revista americana, não. E sim por que A Crônica Francesa já foi tão debatido, desde de ser o novo filme de Wes Anderson, até sobre o que é o novo filme de Wes Anderson, e até mesmo quem está no novo filme de Wes Anderson que quando chegou e finalmente estreou, parece já ser um assunto de outra época, um outro momento, e que outras, e empolgantes e reluzentes coisas aconteciam.
Assim o que temos aqui então é a história desses funcionários que precisam montar todas as sessões da tal revista. E as histórias que vemos ao longo do filme são as dramatizações do que seriam os textos da revista impressa num trabalho lúdico até que interessante e que claro Anderson é a pessoa que é capaz de executar. Mas falta alguma coisa.
Temos artigos variados que são apresentados, por exemplo, temos um jovem revolucionário, uma coluna de viagem, e uma história sobre um preso que faz arte. Algumas são mais diretas, outras mais fantasiosas, algumas mais interessantes e outras que você só torce para acabar logo. Colocando os pontos nos is, temos uma muito boa, a que envolve o personagem do ator Benicio Del Toro, um presidiário que começa a pintar quadros e fazer arte na medida que tem um relacionamento com um guarda (Léa Seydoux), e se torna uma sensação no mundo artístico, mesmo tendo uma personalidade e uma mente de um psicopata. Aqui, a crítica de arte J.K.L. Berensen (Tilda Swinton, ótima) narra a história, e realmente se mostra a mais forte dentre todas.
Temos uma que é mediana, com Owen Wilson que narra suas aventuras pela cidade em cima de uma bicicleta, mas na medida que as outras chegam, os personagens mudam, elas vão ficando piores e piores e para completar, maiores e mais extensas e por final, mais entediantes de se acompanhar. É o caso das histórias que envolvem um jovem que escreve um manifesto (Timothée Chalamet) e uma estudiosa (Frances McDormand, super bem) e de um escritor (Jeffrey Wright) que em um programa de Tv conta como um artigo dele trouxe consequências para o mundo real.
Mas a quantidade de informações, que são apresentadas, tanto visualmente, quanto em relação aos personagens, deixa A Crônica Francesa com um ar arrastado de se acompanhar. Claro, é divertido ficar caçando ao longo do filme atores conhecidos que aparecem aqui e ali e em quais histórias eles vão aparecer, e quando, e quem vai contracenar com quem. E juntamente com a câmera posicionada que nos dão ângulos perfeitos e enquadramentos que deixam qualquer um com uma obsessão gigante de como tudo isso foi feito e se Anderson vai deixar para alguma coisa.
Talvez ,a grande graça de A Crônica Francesa seja essa apenas. Esperar o que vem em seguida, mesmo que as histórias e os grandes motivos dos personagens dos artigos estarem ali e serem contadas são um grande ponto de interrogação. Nem mesmo quando vamos para o tal obituário do editor que é feito por todos os personagens que trabalham na revista, o longa consegue emplacar, afinal, já passamos momentos cruciais do filme com outros personagens, e efetivamente, nesse ponto, já não dava para tentar se importar com mais ninguém que fosse introduzido a essa altura do campeonato.
A Crônica Francesa chega em 18 de novembro no Brasil.
Visto na 45ª Edição da Mostra Internacional de São Paulo.
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