A Caçada | Crítica

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O polêmico A Caçada (The Hunt, 2020) finalmente desembarca no Brasil no formato digital, e a pergunta que fica é será que o filme faz jus para todo o seu hype? Claramente a produção da Blumhouse sofreu bastante com as chamadas fake news e apoiadores fanáticos de ambos os lados políticos que rodam os EUA, mas será que como filme de gênero ele entrega uma boa produção?

Ao mesmo tempo que a trama de A Caçada pode ser simplificada com a simples frase “um grupo de elite caça cidadãos por divertimento” , o longa escrito por Nick Cuse e Damon Lindelof faz muito mais que isso. É preciso ler nas entrelinhas para entender o que, e quem, A Caçada tira sarro, e claro, assistir o propriamente dito o filme para realmente conseguir compreender o que se passa na história. Engraçado é que em pleno 2020 a gente tenha que avisar as pessoas que elas precisam assistir ao filme para tentar formar sua opinião sobre ele.

A Caçada | Crítica
Foto: Universal Pictures

E o marketing da produção por mais que tenha sido um dos fatores mais prejudiciais com que o longa tenha sofrido, parece também que toda essa divulgação realmente deu certo para compôr sua história, afinal A Caçada cutuca e alfineta boa parte da população que o filme quer criticar. E aqui, A Caçada ainda faz um olhar ainda mais amplo sobre toda a situação politica que os EUA, e boa parte do mundo vive, e faz isso de uma forma exagerada e que atira para todos os lados, mesmo que não acerte naquilo que deveria ser a sua essência como produção de gênero, entregar um bom suspense.

Claro, A Caçada assusta pelo fato de estar intimamente ligado com a nossa realidade e como as coisas podem escalonar quando lados ideológicos se radicalizam de todos os lados, e no filme, vemos que boa parte dos personagens estão fora da casinha em defender cegamente suas crenças e convicções. A Caçada logo começa com um grupo de endinheirados rumo à uma viagem quando um passageiro surge dizendo que foi drogado e amarrado no compartimento de carga, e assim, logo nos seus primeiros minutos, o filme já cria essa aura de loucura e exagero ao mostrar o comportamento do grupo dentro do jato de luxo com uma personagem já dando um golpe rapaz ao utilizar o salto do seu sapato para resolver a situação.

A Caçada logo então já mostra o grupo de pessoas presos e amarrados em uma floresta em que precisam encontrar um modo de sair de lá, onde temos figurinhas conhecidas da TV no filme como os atores Ike Barinholtz (da série The Mindy Project) , Emma Roberts (da série American Horror Story), e Justin Hartley (da série This Is Us). A Caçada brinca com as noções do quem é bom, e quem é ruim, afinal o espectador deveria se sentir chocado ao ver que as pessoas estão sendo caçadas por um grupo de elite não é mesmo? Mas aí o roteiro do filme joga no ar um novo elemento nessa equação: e se essas mesmas pessoas forem o pior que temos na nossa sociedade?

O filme vira o roteiro a todo momento, nos dá pistas e informações para o desenrolar da história, e faz com que o espectador precise decidir de qual lado moral está, e talvez, nisso que faça com que a produção ganhe alguns pontos e seja minimamente marcante. A Caçada expõe nossos pré-conceitos, e o que é considerado correto e politicamente incorreto ao todo tempo, onde vemos a importância de olhar os fatos de uma maneira ampla e com todas as informações não só fragmentos espalhados como acontece hoje num mundo de tuítes e stories que reportam partes das notícias apenas.

E isso fica claro quando os personagens caçados se encontram com os seus caçadores. E para isso, A Caçada não se reprime e mostra um verdadeiro banho de sangue, mas o suspense e o sentimento angustiante que marcam as produções da Blumhouse não estão ali, por mais pirado que o roteiro se apresente. 

A Caçada | Crítica
Foto: Universal Pictures

Isso não impede que os atores façam um bom trabalho, como é o caso da atriz Betty Gilpin que realmente rouba todas as cenas, afinal, fica claro que a personagem parece não ser uma boa pessoa, mas ao mesmo tempo ficamos intrigados para ver o quão longe, e como, ela irá se sair dessa enrascada que se meteu.

A Caçada literalmente coloca o espectador numa caçada por informações e detalhes sobre a vida desses personagens, até chegar no embate final entre os dois lados polarizados representados pelas personagens de Gilpin e Hilary Swank que mostra apenas a fragilidade de se acreditar cegamente nos seus ideais. Os discursos vazios e cheio de palavras de efeito e de ódio, apenas comprovam isso, principalmente quando o filme se apoia em novas reviravoltas nos seus momentos finais. 

No final, A Caçada faz um filme que brinca com as percepções do espectador sobre suas visões políticas e apresenta uma série de personagens caricatos que tem suas motivações desenvolvidas ao longo do filme. O longa até que entrega uma história interessante mesmo que poderia ter sido melhor contada, afinal, o roteiro se distancia do que efetivamente se propõe a fazer.

Ser mais transparente com si próprio, e não esconder o que é propriamente dito para proteger suas reviravoltas seria muito mais benéfico para a mensagem que A Caçada quer passar sobre a divisão que vimos atualmente. 

Nota:

A Caçada disponível no formato digital.