quinta-feira, 21 novembro, 2024
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Vários trajetos em um só roteiro: a jornada do herói guia histórias desde a Antiguidade

Existe, a partir do mundo literário, e consequentemente no mundo do cinema, seriados e afins, um conceito altamente conhecido chamado de “jornada do herói”. O seu próprio nome já descreve do que a mesma se trata: um estilo narrativo que dá ao autor e/ou roteirista uma forma comprovada de contar a história de um herói, da sua origem ao seu ápice, abrangendo os altos e baixos que estão em seu caminho.

A jornada foi formatada pelo professor de literatura Joseph Campbell em 1949, mas o formato já está em voga desde os tempos antes de Cristo, por meio das histórias religiosas de figuras como Buda e Moisés. De fato, Campbell foi somente a pessoa responsável por delinear em formato acadêmico e, posteriormente, no livro O Herói de Mil Faces, o que ele descrevia como “monomito”: as 17 etapas que marcam a jornada dos pequenos e grandes heróis das artes antigas e modernas.

Como é o caso de boa parte dos trabalhos e teorias acadêmicas que tentam colocar num formato exato qualquer coisa definida como arte, o molde literário descrito por Campbell é permeado por críticas. Entretanto, sua influência na construção de algumas das grandes histórias das artes mais atuais é inegável.

Por dentro da nova tradução de O Senhor dos Aneis | VEJA
Foto: Warner Bros Pictures

Na forma de mídia mais moderna, ou seja, o videogame, a jornada do herói se faz presente em vários dos principais jogos da indústria. A série God of War, em sua contagem original, não só narra a história do guerreiro Kratos em sua busca por redenção como também lança mão de vários mitos da Grécia e Roma Antigas cujos contos em si fazem parte do “monomito” descrito por Campbell.

As histórias de mitologia acabam tendo alcance em distintas tramas e produtos oferecidos pela indústria do entretenimento. No setor dos cassinos online, por exemplo, seu apelo é bastante intenso, como se pode verificar na plataforma da Betfair cassino online, em que são encontrados múltiplos jogos que têm como inspiração mitos de deuses gregos, egípcios e nórdicos por meio da série Age of the Gods. Outras mitologias que possuem figuras que seguem a jornada do herói, como a eslávica, “respingam” também em mídias modernas. Esse é o caso de The Witcher, que saiu de uma série de livros para se tornar uma franquia de jogos e também um seriado de enorme sucesso na Netflix.

Quiçá nada disso seria realidade hoje se não fosse pelo fato de o “monomito” de Campbell conseguir encaixar de maneira tão fácil a guia que acaba por descrever o roteiro tanto de heróis épicos gregos quanto de personagens como o herói Neo, de Matrix. Isso acaba também sendo um testamento de como o formato consegue funcionar em diferentes ambientações, indo da antiguidade dos templos no Peloponeso até o mundo paralelo e cyberpunk criado pelas irmãs Wachowski.

Matrix - Keanu Reeves
Foto: Warner Bros Pictures

Com esse background, é quase impossível não discutir o papel dos clichês em obras mais famosas. Afinal, a jornada do herói que se mostra presente no nosso contexto artístico há milhares de anos é, em termos mais simplificados, uma fórmula que se prova bem-sucedida desde as suas reproduções primordiais, o que acaba fazendo dela um clichê.

O termo “clichê”, tamanha a sua reprodução dentro do meio artístico e também entre o público em geral como algo necessariamente negativo por ser formulaico, acabou tomando um significado quase que pejorativo. Entretanto, o que se perde no uso do termo como algo chulo e/ou “manjado” é justamente o quanto ele serve para descrever fórmulas de sucesso em narrativas artísticas. Sua antítese seria algo “fora da caixa” que falha em alcançar sucesso, por ser algo desagradável para o grande público.

A própria jornada descrita por Campbell permite em seu trajeto quebras que, quando bem feitas, tornam-se icônicas. A célebre obra de George Orwell, 1984, é um exemplo clássico não só de ficção e narrativa como também de estrutura, uma vez que ela subverte as expectativas das nossas histórias comuns envolvendo heróis e grandes vilões.

Ainda assim, os futuros autores e roteiristas que se encontram num universo de estagnação, tentando se livrar das “trancas” da jornada do herói, podem prosseguir em seus caminhos por essa trama sem problemas. Afinal, não é preciso reinventar a roda para se contar uma boa história.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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