Histórias de pai e filha, pai e filho ou dramas familiares assim por dizer acabam por ser boas histórias se você tiver um bom roteiro e claro dois bons atores para trocarem em cena e um não ficar sobrepondo o outro. Isso é premissa básica para qualquer filme mas em Uma Família de Dois (Demain Tout Commence, 2016) a produção consegue fazer desse filme francês um ótimo divertimento com ares de filho americano (temos até escalado os atores ideias para um remake americano aqui nessa crítica) para a família. Devemos aceitar claro algumas facilitações em prol do roteiro mas de maneira geral o filme é uma grande boa história contada pelas mãos de dois ótimos e carismáticos atores.
O filme conta com uma trama simples onde conhecemos Samuel (Omar Sy) que vive num lugar paradisíaco na Riviera Francesa trabalhando em um hotel de luxo onde faz passeios com os turistas e claro anima as noites do local. Digamos que Samuel é um The Rock francês com uma veia humorística um pouco maior e com um francês mais carregado ele nunca teve muita responsabilidade na vida mesmo no fundo sendo uma boa pessoa. Em um dos verões ele recebe a visita de Christine (Clémence Poésy) com uma bebê a tira colo que ela diz ser sua filha e acaba por abandonar com ele.
Com uma mistura de choque e supresa Samuel parte em busca da mãe da criança até parar em Londres, Inglaterra onde ele percebe que terá que cuidar da criança ele mesmo. Só tem um problema, ele não fala inglês e não tem mais nenhum dinheiro com ele. Depois de oito anos, e com uma ajuda e tanto de um produtor que acaba por tentar o seduzir no metrô, ele e Gloria (Gloria Colston) já tem uma relação estabelecida e são companheiros acima de tudo. Mas como um bom drama, Christine retorna e muda totalmente a dinâmica do filme.
Omar Sy está ótimo mesmo que algumas vezes caricato devido a forma como o personagem se apresenta em algumas situações (como por exemplo na cena do aeroporto logo no começo) e até em virtude da profissão que o personagem acaba exercendo (dublê para uma série de ação de sucesso) mas o ator consegue transitar de uma maneira muito interessante entre as tramas mais cômicas e claro a parte mais dramática. Em tela, toda vez que ele contracena com outro personagem acaba por jogar a atenção para si que é bem magnética. Gloria Colston como a jovem Gloria também mostra uma sutileza em sua atuação como poucos jovens mirins conseguem mostrar e como a famosa criança que é o adulto na relação ela foge dos clichês e consegue trazer drama para a personagem que quis conhecer a mãe durante 8 anos e também mostrar como a vida dela foi divertida ao lado do pai sempre presente.
Os personagens mais secundários como o produtor Bernie (o engraçado, Antoine Bertrand uma versão francesa de um Josh Gad) também estão lá dar uma mais uma encorpada na trama e não só para fazer volume e sim conseguir andar junto com a trama. As situações que o personagem se encontra acabam sendo um pouco estereotipadas (o homem gay dando em cima de um cara hétero) mas no final só fazem a trama ficar mais leve e preparar para os momentos dramáticos que vem logo em seguida. Clémence Poésy também está bem como a mãe e consegue nos mostrar uma personagem bem desenvolvida com motivações dignas de ser um humano real e a atriz faz aqui um dos seus melhores papeis dentro das produções que já acompanhei com ela.
Com algumas surpresas no meio do caminho e um final um pouco previsível mesmo com dicas ao longo da trama, o filme conta com um ótimo visual tanto na ambientação dos lugares e que acabam por fazer um contra ponto bem legal com o ensolarado Sul da França uma Inglaterra cinza e chuvosa. Uma Família de Dois tem uma interessante história sobre amor familiar e escolhas. Com um ótimo elenco e umas boas reviravoltas na trama, o drama é um daqueles filmes que aquecem o coração e entram na lista de boas produções que sabem intercalar momentos de risadas com momentos dramáticos e de reflexão que valem a pena serem vistos.
Uma Família de Dois estreia em 29 de Junho nos cinemas!
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