Quase 30 anos depois, o reino de Zamunda e o Príncipe Akeem estão de volta. Apoiado na nostalgia, a sequência para o longa da década de 80, Um Príncipe Em Nova York (1988), traz de volta a exagerada trama que marcou o primeiro filme, e claro, aquela gama de personagens que marcaram a carreira do ator Eddie Murphy e que convenhamos poucos comediantes conseguem fazer.
Lançado diretamente no Prime Video, depois da Paramount Pictures ter vendido os direitos de distribuição do longa por conta da pandemia, Um Príncipe Em Nova York 2 tenta unir tudo de mais amalucado que o primeiro filme teve só que agora com um olhar para os novos tempos, e tenta fazer um humor “mais apropriado” para os anos 2021, e claro, tentar se atualizar e colocar Zamunda no mapa novamente.
Descrito como uma sequência, Um Príncipe Em Nova York 2 acaba por ser muito mais uma mistura de reboot, com continuação da história do Príncipe Akeem (Murphy) depois de sua viagem para Nova York, onde ele conheceu a jovem Lisa (Shari Headley) e eles tiveram seus felizes para sempre. Agora, um bom tempo depois, vemos os personagens marcantes do primeiro filme de volta, onde aqui em Um Príncipe Em Nova York 2 temos novamente várias surpresas e uma nova viagem para o bairro do Queens, Nova York.
O primeiro filme tinha uma história redondinha e boa parte dele se passava em Nova York e na lanchonete McDowell (sem nenhuma semelhança com o McDonalds, risos), mas Um Príncipe Em Nova York 2 poderia muito bem se chamar Um Príncipe em Wakanda, digo Um Príncipe em Zamunda. Claro, temos cenas em Nova York sim, mas agora o foco da sequência acaba por ficar com duas partes bem diferentes. Primeiro fica em explorar esse reino Africano, onde o roteiro escrito por Kenya Barris, Barry W. Blaustein, David Sheffield e Justin Kanew, coloca o agora Rei Akeem, seu fiel escudeiro Semmi (Arsenio Hall, ótimo na sequência) e a Rainha Lisa em sua casa e mostra tudo que aconteceu depois dos eventos do primeiro filme.
Com a sequência temos a oportunidade de explorar um pouco mais o reino, e em Um Príncipe Em Nova York 2 é divertido ver mais do extravagante reino, onde o trabalho de produção aqui do filme é excepcional de bom, desde das locações utilizadas para o palácio real com os grandes quadros, as grandes salas, e tudo mais. Outro destaque também fica com os belíssimos figurinos e as diversas peças e ornamentos em que vemos os personagens usarem ao longo do filme, e que são muitos, principalmente quando temos as grandes festas que são dadas pela família real. Mas acho que nem tudo isso ajuda o filme a esconder um pouco os problemas que a sequência apresenta.
Em Um Príncipe Em Nova York 2 tudo é mais, sempre. Mais piadas em relação ao primeiro filme, mais personagens, mais e mais. O longa entrega aquele típico roteiro com piadas totalmente para o público americano, sabe? Onde parece que os personagens brincam e dão risadas de algumas coisas, mas para quem é de fora não fica muito claro. O timing cômico para algumas passagens é igual aquele que vemos em programas como Saturday Night Live (onde Murphy teve passagem no começo de sua carreira). É preciso uma certa bagagem para conseguir rir de certas coisas e de certas falas.
A história, como falamos, é novamente amalucada, tudo é exagerado, e o humor é muito muito específico e oscila entre ser propriamente engraçado e embaraçoso. São muitas palavras com a letra E para descrever Um Príncipe Em Nova York 2.
E não é só isso que o filme tem em excesso não. O elenco é extremamente inchado, temos os personagens que retornam do primeiro filme, novos personagens, e realmente, às vezes ao assistir o filme, sinta que tudo se passava de uma série de esquetes que tentavam se juntar com a trama principal. . E assim, parece que os atores precisam gritar um mais que o outro para tentar se sobressair.
Claro, Murphy é o grande chamariz para o filme, está muito bem, mesmo que totalmente apoiado na nostalgia, e faz o que sempre fez em seus filmes, mas é bom ver o ator de volta num papel tão importante para sua carreira. O mesmo vale para Hall que mesmo numa participação menor tem seus momentos. Mas realmente, a joia da coroa de Zamunda aqui fica com a hilária e sensacional Leslie Jones que realmente rouba todas as cenas quando aparece.
Jones interpreta Mary um antigo casinho que Akeem teve em sua visita aos EUA anos atrás. O affair gerou um filho que o Príncipe nunca soube da existência, e que agora, já adulto conhece o pai. O ator Jermaine Fowler por mais que não seja um excelente comediante consegue trazer o mesmo sentimento de frescor para Lavelle que vimos Murphy apresentar no primeiro filme.
Todas as cenas dos dois, no palácio, e vendo todo o luxo e as mordomias, são muito boas . O que realmente funciona para mim na sequência são algumas partes, e definitivamente as que os dois estão estão nelas.
É divertido também ver Akeem e Semmi de volta para onde tudo começou, os caras da barbearia (todos os personagens são interpretados novamente por Murphy e Hall que utilizam próteses). Mas senti que faltou mais deles na cidade, vendo como o bairro mudou e tudo mais. Claro, temos piadas sobre o processo de gentrificação e como as coisas mudaram daquela época para agora, mas é como falamos, Um Príncipe Em Nova York 2 serve mais como uma soft-reboot do que efetivamente uma sequência. O foco aqui é levar o filho de Akeem para Zamunda para ser o novo herdeiro do trono do reino, mesmo que Akeem tenha tido três filhas mulheres e a mais velha Meeka (KiKi Layne), esteja mais que apta para a função, por conta das leis do país não possa assumir o trono por ser mulher. Meeka e Jasmine do live-action de Aladdin (2019) podem dar as mãos.
E com o General Izzi (Wesley Snipes, caricato mas para minha surpresa engraçado) pronto para invadir o país, o novo Rei precisa trabalhar para fazer um casamento arranjado entre seu filho e a filha dele. Um casamento de conveniência. Igual na trama do primeiro filme. É basicamente assim que Um Príncipe Em Nova York 2 se desenrola, entre uma piadinha e outra, um aceno para algum acontecimento do primeiro filme e outro.
Sinto que o filme constrói essa história de uma forma no automático, sem muita empolgação, tirando um participação especial ou outra (prestem atenção no Morgan Freeman), e que no final, soa muito muito mais como um repeteco dos mesmos temas e discussões que seu antecessor já falou, lá no final dos anos 80, do que efetivamente contar uma nova e boa história. Em resumo, Um Príncipe Em Nova York 2 faz uma descompromissada revisão para o primeiro filme que se apoia no poder da nostalgia.
Um Príncipe em Nova York 2 chega em 5 de março no Prime Video.