Todos Já Sabem (Everybody Knows, 2019) estreou no Festival de Cannes em 2018, foi o filme de abertura do evento, com um diretor super em alta, Asghar Farhadi que ainda colhia os frutos do premiado O Apartamento (2017), e ainda tinha um elenco de estrelas para chamar de seu. Mas, toda a pompa e hype pareceu não agradar os críticos e o público na França, e alguns meses depois, passou batido no Festival de Toronto, quando o filme fez sua estreia por lá.
A trajetória de Todos Já Sabem continuou, e então o filme perdeu a chance de ser o longa que representaria a Espanha no Oscar desse ano. Mas, isso tudo significa que a nova produção de Farhadi é ruim? De maneira nenhuma.
Todos Já Sabem, faz um bom e instigante suspense, com uma trama que nos prende a atenção logo no começo, por conta de sua história marcada por segredos familiares, traições e conflitos em uma pequena cidade espanhola.
Claro, o roteiro de Farhadi poderia ser mais enxuto e isso economizaria muito a produção em vários aspectos, tanto da paciência de quem assiste, quanto no ritmo da trama, e poderia assim, fazer um filme com menos personagens, menos interações e focar mais nos seus protagonistas para contar sua história.
Em vez disso, Todos Já Sabem cria uma grande e emaranhada teia de mistérios que envolve toda uma família por conta do desaparecimento de Irene (Carla Campra) no meio de uma grande festa de casamento.
Todos Já Sabem, abusa de uma latinidade gigante, tem um tom novelesco e meio dramático que pode ser convidativo, assim como, seus dois maiores nomes no elenco, os atores Javier Bardem e Penélope Cruz. Cruz, sempre ótima, realmente se entrega para o papel, como Laura, a mãe que sofre, como uma boa personagem de novela, pelo desaparecimento da filha. A atriz realmente se destaca e faz a melhor atuação de todo o longa.
Já Bardem, mesmo que bem, parece não acompanhar a colega, mas, segura as pontas como Paco, onde muito de seu personagem parece rodar em torno de uma decisão que afeta grande parte da história e se desenrola ao longo do filme, e toma uma boa parte de Todos Já Sabem. O talentoso Ricardo Darín, entra na jogada um pouco mais tarde, mas seu personagem, o marido de Laura, Alejandro, é caprichado no mistério, e cai como uma luva para o ator, que consegue entregar no seu semblante sério mais uma camada de dualidade para a produção.
Todos Já Sabem, consegue trabalhar, desenvolver e fazer com que todos os personagens, tenham algo para mostrar para a história, e assim, faz com que eles escondam do espectador suas reais intenções. Assim, o roteiro desembrulha os segredos da família, aos poucos, e sempre muda a perspectiva do espectador sobre eles e claro, sobre o mistério central.
Na medida que a história do longa se desenrola e descobrimos mais sobre o desaparecimento da garota, o roteiro abre um grande leque de questões que são desenterrados do passado da família, e que estão lá prestes a serem expostos.
Todos Já Sabem acaba por ser uma grande panela de pressão que está segundos para explodir. A produção nos faz duvidar de todos os personagens, e faz com que suspeitamos que qualquer um deles, desde do avô doente, da tia curiosa, e até mesmo que os próprios pais, possam estar envolvidos no desaparecimento da garota. Assim, Todos Já Sabem, cria uma grande paranoia coletiva, e faz um grande e longo retrato psicológico dos membros da família que saem de uma grande festa de casamento para momentos de tensão e tristeza.
Assim, Farhadi consegue mostrar as complexas relações que os unem, juntamente com os segredos que parecem não serem tão secretos assim, afinal, se todo mundo sabe, deixa de ser um segredo não é mesmo?
Todos Já Sabem, mesmo que longo, e um pouco cansativo, faz uma história provocativa e que deverá deixar o espectador curioso para descobrir seu desfecho. As boas atuações de Cruz e Bardem, claramente, o fazem valer a pena, com um pouco de esforço e descanso.
Todos Já Sabem chega nos cinemas nacionais em 22 de Fevereiro.