Bem-vindos ao The White Lotus, o seu resort paradisíaco no meio do paraíso, onde os sorridentes Armond (Murray Bartlett), Belinda (Natasha Rothwell), Niki (Jolene Purdy) e Dilon (Lukas Gage) te esperaram de braços abertos para uma temporada de tranquilidade, paz, e relaxamento. Ou não. Definitivamente não.
Com 6 episódios para sua primeira temporada, The White Lotus é a serialização mais amalucada do que temos visto pipocar na nossa TV e no streaming nos últimos meses em decorrência da pandemia: Unir um grupo de personagens em uma localização afastada para contar uma história sem muita história para começo de conversa.
Assim, a série trabalha para nos apresentar para esses personagens, esses relacionamentos e essas histórias individuais que se desenrolam ao longo da estadia deles no local e como suas personalidades, algumas completamente opostas, já outras bem parecidas, servem para dar um gás na trama, e então movimentar os episódios quando eles criam as mais diversas situações.
E aqui, The White Lotus aposta no tom mais caricato e em momentos dos mais pirados possíveis para fazer isso acontecer. É como se o roteirista e criador Mike White pegasse tudo de mais surreais que poderia acontecer ao longo da estadia deles no local e transportasse para a nossa tela e para esses personagens viverem.
Em The White Lotus sabemos que esses personagens representam certos estereótipos de nossa sociedade e que no final das contas, a série acaba indo para esse lado mais cômico e satírico enquanto tenta nos mostrar o quão problemático pode ser alguns comportamentos. E que e certa forma, e de um jeito nada sutil, White consegue cutucar a ferida e tratar de assuntos muito espinhosos, desde de racismo estrutural, colonialismo, e até mesmo, misoginia e privilégios, onde tudo isso é entregue com um sentimento de que qualquer coisa pode acontecer a qualquer minuto. E com qualquer personagem.
E as coisas quando acontecem, transmitem aquele ar de desconforto em tela muito grande, ainda mais quando a série une as passagens caóticas com música clássica que onde parece que você quer rir descontroladamente mas não pode, como se estivéssemos em uma peça de teatro, e você precisa abafar o som.
E por conta do seu lançamento semanal, The White Lotus nos deixou ligado todos os domingos para vermos o que iria acontecer com esses personagens na medida que eles iam se colocando nas situações das mais surreais possíveis ao longo dessas 6 semanas. E isso sem falar na grande pergunta levantada no episódio 1 – Arrivals: De quem é o corpo que vai voltar para casa quando todos eles retornam para suas casas? E o que aconteceu que levou a isso?
E assim, o diretor Mike White conseguiu manter nossa atenção e nos agraciar com teorias, apostas e movimentar as redes sociais com esses personagens que gostamos e outros que desgostamos. Mesmo que no final nenhum deles seja efetivamente uma boa pessoa. Mesmo com um elenco gigante, onde todo mundo tem um momento de se destacar ao longo da temporada, em The White Lotus realmente os destaques ficam com os atores Murray Bartlett como o gerente do Hotel que tenta segurar todos pratos enquanto lida com as exigências das mais malucas que esses hóspedes demandavam. Seja toda a confusão envolvendo os quartos do casal recém casado, Shane (Jake Lacy) e Rachel (Alexandra Dadadrio) ou ainda com a bolsa cheia de remédios da dupla de amigas julgadoras, Olivia (Sydney Sweeney) e Paula (Brittany O’Grady), perdem na praia um dia e acaba por ficar em sua pose.
Bartlett está realmente muito bem e seu personagem meio que serve de contraponto para unir quase todas as tramas. E a outra pessoa que realmente chamou a atenção foi a atriz Jennifer Coolidge (sempre boa com suas caras e bocas inigualáveis mas aqui num outro patamar muito mais divertido), como a socialite Tanya McQuoid que chega ao local pronta para encerrar um ciclo de sua vida e jogar as cinzas da mãe no mar e que acaba por ter um grande apoio da chefe do SPA, a esforçada Belinda (Rothwell, ótima também) que acaba por ser sua terapeuta ao longo desses dias.
Todos esses hóspedes são extremamente sem noção e parecem viver em uma realidade paralela, e o que define bem o que é The White Lotus, como uma série de gente rica fazendo besteira. Com episódios de 1 hora, o seriado tem tempo para desenvolver todos esses arcos ao mesmo tempo que criava novas interações entre eles e mostrava o quão disfuncional é boa parte desses relacionamentos. É o caso do casal Mussbacher, onde a esposa Nicole (Connie Britton) uma executiva viciada em trabalho e seu marido Mark (Steve Zahn) viviam como se nada tivesse errado mas tinham problemas em seu casamento que precisam resolver. Quando realmente passamos da fase em que Mark acha que está doente é que série engrena para eles. Afinal, White foca no relacionamento da dupla com os filhos, o caladão e viciado em tecnologia Quin (Fred Hechinger) que sempre tem os diálogos mais estranhos da série, Olivia (Sweeney) que bate de frente com os ideais da mãe sempre que pode.
The White Lotus então ao longo da temporada vai sempre por nos apresentar novas informações sobre os passados desses personagens e sempre apelou para o inesperado para contar essa história, seja em relação ao relacionamento de Paula com um dos funcionários do hotel, o jovem Kai (Kekoa Kekumano) que leva para alguns eventos bem interessantes nos últimos episódios; a relação entre Tanya e Belinda, onde realmente fica na cara o que vai acontecer com a primeira oferece para investir em um SPA para a funcionária; e ainda e ainda o polêmico 1×04 – Recentering que não só termina com um dos maiores ganchos da temporada (tapem os olhos ou não!) e nós dá a participação de Molly Shannon como a mãe de Shane, que invade a lua de mel do filho e entrega uma metralhadora de piadas e um humor físico totalmente característico da atriz que realmente faz toda a diferença.
Sinto que a temporada começa muito bem, dá uma certa barrigada ao longo dos episódios 1×02 – New Day e 1×03 – Mysterious Monkeys, mas logo depois, talvez já acostumados com os personagens, e esse jeito estranho de contar a história, The White Lotus engrena numa crescente muito interessante e viciante de querer ver o que vai acontecer e como tudo isso vai se desenrolar daqui para frente.
Os episódios 1×04 – Recentering e 1×05 – The Lotus-Eaters fazem uma excelente combo e onde a piração é elevada 100% na medida que o final da temporada 1×06 – Departures chega em The White Lotus e precisa amarrar todas as pontas deixadas até então, afinal, os hóspedes vão deixar o resort, e pelo menos um deles não sai vivo de lá. Já outros saem de lá com suas vidas mudadas, alguns nem tanto, mas sinto que a série consegue fechar boa parte dos arcos narrativos que se propôs de uma forma bem bacana.
Definitivamente se não você não foi pego pelo hype de The White Lotus, na época que os episódios foram exibidos, a série é uma que vale a maratona, sem dúvidas.
[…] The White Lotus | Crítica 1ª Temporada: Um check-in irresistível para uma sátira da nossa socied… […]
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