E chegamos ao final da 1ª temporada de The Handmaid’s Tale e as rainhas do episódio foram Elisabeth Moss e Yvonne Strahovski, que brilharam supremas e destruindo nossos corações com atuações sublimes. É um dos melhores finales que já tive o prazer de assistir. Vamos rever o que aconteceu em Night! Praise be! (Louvado seja!)
ALERTA DE SPOILER: Este artigo contém informações sobre os principais acontecimentos do episódio. Continue a ler por sua conta e risco.
Percebemos como o episódio foi bem construído. O flashback que nos transporta para os primeiros momentos de June no Centro Vermelho, logo após sua captura, serve de contraponto para o final, iniciando e encerrando um capítulo de sua jornada. A construção da cena é incrível, desde os close-ups até a falta de trilha sonora para sentirmos a dor de June ao ser marcada como handmaid, sempre reiterando que elas não passam de gado reprodutor para a Gilead.
Eles nunca deveriam ter nos dados uniformes se não queriam que virássemos um exército.
Já sabíamos que Serena Joy era implacável em sua ira, mas a violência com que recebe Offred é realmente assustadora. São momentos de pura tensão, apenas esperando o resultado do teste de gravidez. É incrível como seu humor pode se transformar tão repentinamente. É como se a traição que sente fosse justificada, pois gerou uma criança. Eu adoro esses pequenos atos de rebeldia de Offred, mas dizer que não desejou a gravidez, ainda mais após essa briga, assinou sua sentença.
É difícil saber que Serena Joy pretendia ser mais complacente com Fred, já que inicia a conversa em um tom mais calmo. Ao mesmo tempo, vemos que a prepotência do Comandante com seu poder adquirido não tem comparação com a fúria de sua esposa traída. O ataque à sua masculinidade é a arma perfeita para diminuí-lo e colocá-lo em seu lugar. É surpreendente que ele não tenha ido atrás de Offred para confrontá-la sobre a paternidade do bebê, mas vemos que se trata do real poder que Serena Joy exerce no marido.
Nick ainda é uma incógnita, mas pelo menos seus sentimentos com Offred parecem ser verdadeiros. Duvido que tivesse uma reação tão terna ao saber da gravidez caso tivesse dormido com ela apenas por obrigação. É uma cena linda, em que vemos duas pessoas apaixonadas vivendo uma situação que seria motivo de celebração, mas presos em uma realidade assustadora.
Qualquer simpatia que ainda sentia por Serena Joy terminou com sua cartada final para exercer controle sobre Offred. Usar o bem estar de Hannah como moeda de troca para que a gravidez seja bem sucedida é de nível extremamente baixo. O mais aterrorador é perceber que, na verdade, ela não se importa realmente com o crescimento da população, mas sim com sua meta pessoal de ser mãe a qualquer custo. Ela fará de tudo para que sua posição seja validada e que todo seu sacrifício de abdicar de todos seus direitos pela Gilead tenha resultado.
O melhor do julgamento do Comandante Putnam é vermos que ninguém está livre da fúria da Gilead. Além de ser humilhado pela esposa, Fred finalmente percebe que suas transgressões, caso sejam descobertas, serão punidas severamente, independentemente de quem ele seja. E mais uma vez vemos como a voz da mulher ainda carrega algum valor, já que é o clamor da esposa que resulta na sentença de amputação de Putnam. A construção da cena é primorosa, com o sangue do impuro manchando a esterilidade da sala de operações.
O clamor de Offred pela proteção de Hannah serve apenas para que Fred perceba que sua vida está nas mãos da esposa. Ao deixar claro que sabe sobre as mentiras da handmaid, ele confirma que entende sua situação e, até certo ponto, está em seu lado. Não há nada que ambos possam fazer nesse momento a não ser ceder aos desejos de Serena Joy comiserar de sua condição.
Finalmente desvendaram o conteúdo do pacote entregue pela resistência. Não há arma maior do que a informação. As histórias dessas mulheres são valiosíssimas e seus sofrimentos precisam ser registrados. Em uma guerra, muitas vidas são destruídas e seus rastros apagados, essa é uma forma de fazer com que seus sacrifícios sejam reconhecidos e, talvez, vingados.
A melhor da fuga de Moira é a comparação com o momento atual do governo americano. Nenhuma concessão é feita por ser uma refugiada. Não basta ser tão bem recebida no país, ainda recebe de tudo para que possa refazer sua vida, inclusive acesso ao sistema da saúde local, sem que nada lhe seja negado. Ao lembrarmos que o Canadá também passa pelos mesmos problemas ambientais, vemos que são as pessoas quem são responsáveis pela realidade de seus países. Como o episódio focado no Luke resulta nessa cena linda do reencontro e a realização de que Moira não está sozinha no mundo, todos os envolvidos estão perdoados.
Preferiria que Janine não tivesse despertado após sua tentativa de suicídio. É de extrema crueldade fazer com que as handmaids sejam responsáveis pela execução de sua igual, mas a intenção é servir como lição. É um toque interessante que a desobediência comece com a nova Ofglen, já que é a mais satisfeita com sua nova realidade. Me pergunto se Offred ainda seria capaz de ir contra as ordens de Tia Lydia caso não estivesse grávida. Certamente a punição de Tia Lydia será de proporcional tamanho à rebeldia de suas subordinadas.
Adoro finais abertos como esse, claramente deixando espaço para uma continuação, mas que também servem como uma conclusão satisfatória. A série termina da mesma maneira que o livro, com Offred sendo levada pelos Olhos enquanto Fred e Serena Joy a observam passivamente, mas com algumas modificações. É mesmo possível confiar em Nick e acreditar que tudo dará certo? Sua recente demonstração de afeto e a facilidade com que confirmou ser um Olho podem não passar de um estratagema. Será interessante vermos como utilizarão Rita, que teve pouca função e agora está em posse de uma arma tão forte contra a Gilead. Certamente Fred ficará com medo de ser investigado, já que não sabe o motivo de levarem Offred e Serena Joy não desistirá de “sua” criança tão facilmente. As possibilidades são imensas.
Mais uma vez a trilha sonora é um trabalho a parte, porém, eu não curti a música utilizada para o encerramento da temporada. O título é interessante, demonstrando que Offred é uma Americana e que, como tal, se rebela contra a Gilead, mesmo sem ter certeza de seu destino, porém, a melodia é muito positiva. Poderiam ter escolhido algo mais neutro ou sombrio para que seu futuro fosse mais incerto. Em compensação, Feeling Good foi utilizada com maestria na cena de desobediência.
- Simple Gifts – BYU (Brigham Young University) Women’s Chorus
- Creep – Scala & Kolacny Brothers
- Feeling Good – Nina Simone
- American Girl – Tom Petty & The Heartbreakers
O EVANGELHO PERDIDO DE GILEAD: (diferenças entre a série e o livro)
- A punição de Janine não existe no livro. Mulheres que cometem crimes contra a Gilead são punidas com o Salvaging, que é diferente da série. Aqui, handmaids são reunidas e, juntas, puxam a corda para enforcar a condenada. As participantes são proibidas de comer antes da execução, para evitar que vomitem durante o processo.
- Como a infidelidade do Comandante Putnam não existe no livro, sua punição também só existe na série.
No livro, Moira não tenta escapar de Jezebel, portanto sua fuga e encontro com Luke foram criados para a série. - Os Waterford possuem duas Martas, Rita e Cora, com personalidades bem diferentes. Rita desdenha Offred, pois entende que sua função como handmaid é nojenta e que a morte seria um destino mais aceitável, já Cora é mais receptiva, pois a vê como única chance de poder criar uma criança. A Rita da série parece ser uma junção das duas personagens originais.
- O livro termina da mesma maneira que a série, porém, há um epilogo que se passa em 2195, apresentando a “transcrição parcial do Vigésimo Simpósio de Estudos Gileadean” dos Professores Pieixoto e Knotly Wade, onde discutem as descobertas feitas sobre o período inicial da Gilead, que foram possíveis devido fitas cassete gravadas por Offred.
- Uma das maiores diferenças é que não é possível confirmar a identidade de nenhum personagem, nem mesmo a do Comandante Fred, pois não há nenhum Comandante que se encaixe 100% na descrição das fitas. Acreditam que tais inconsistências foram propositais, de modo a preservar a identidade de Offred e sua família.
The Handmaid’s Tale é exibida no Brasil pelo Paramount Channel aos domingos às 21:00, com reprise durante a semana (chequem a programação aqui). Praise be!