domingo, 22 dezembro, 2024
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The Handmaid’s Tale | 1×08 – Jezebels

A psicopatia é caracterizada, em parte, por um comportamento antissocial, diminuição da capacidade de empatia/remorso e baixo controle comportamental ou, por outro lado, pela presença de uma atitude de dominância desmedida. The Handmaid’s Tale volta ao ritmo desenfreado que estávamos acostumados e, além de aprendemos  mais sobre a Gilead, descobrirmos sobre o passado e (talvez) presente de Nick. Também temos a volta de outra personagem em uma situação inesperada. Aconteceu bastante coisa, então vamos logo para a análise de Jezebels! Praise be! (Louvado seja!)

ALERTA DE SPOILER: Este artigo contém informações sobre os principais acontecimentos do episódio. Continue a ler por sua conta e risco.

Offred continua seus encontros clandestinos com Nick, mesmo após descobrir que Luke está vivo. Não enxergo isso como uma traição (e espero que não esteja sozinho nessa interpretação), pois fazer sexo com Nick é uma forma de escapismo que ela encontrou para continuar sã dentro daquela sociedade tão absurda. Sem contar que ela passou mais de três anos convencida de que o marido estava morto, o processo de luto já foi concluído há muito tempo. Em momento algum duvido que ainda ame Luke, mas, caso haja um reencontro, não creio que conseguiria voltar a se relacionar com ele.

É muito importante aprendermos sobre o passado de Nick, que é um dos personagens mais enigmáticos da série. Vejam como a forma de recrutamento utilizada por Andrew Pryce funciona: localiza jovens trabalhadores que não se importam em desempenhar pequenas funções, desde que estejam empregados; seleciona aqueles que agem com lealdade dentro de seu grupo (no caso de Nick, seu pai doente); promete exatamente aquilo que eles desesperadamente buscam como última opção. O nome disso é doutrinação, muito utilizado em seitas radicalistas. É a sua iniciação nos Filhos de Jacó.

O “ritual” de preparação de Offred é uma cena extremamente delicada e horripilante. O Comandante está cada vez mais assustador e é graças ao trabalho de Joseph Fiennes que estava dosando sua atuação antes de interpretá-lo em todo seu potencial. Se antes tínhamos dúvidas sobre as convicções de Fred, agora temos plena convicção que sua posição de poder lhe despertou comportamentos psicóticos. Os seis minutos de tensão que passamos são devidos ao medo do desconhecido, afinal, é impossível saber quais são as intensões de Fred. Seu maior prazer está na ciência do controle que exerce sobre Offred e em observar sua impotência em contrariá-lo.

Após sabermos como Gilead é corrupta, é de se assustar que um local como Jezebel exista? Comida, bebida e prazeres carnais, tudo que uma sociedade falocêntrica reservaria para sua satisfação particular. Jezebel é apenas um dos bordeis espalhados pela cidade e não é de conhecimento geral entre os Comandantes. Por quebrar tantos preceitos base da Gilead, seus organizadores e frequentadores seriam eliminados sumariamente. Sua manutenção só acontece devido às vistas grossas que a República faz, pensando nas comitivas de negócios que precisam ser entretidas.

O reencontro com Moira é um momento emocionante e muito triste. Da última vez que a vimos, ela havia conseguido escapar do Centro Vermelho. Era possível desconfiar que sua fuga fosse frustrada, afinal, identificar o destino de alguém em trem é muito fácil. Moira não sabe como foi localizada e pensa que alguém de seu grupo de travessia a entregou, mas eu acho que os Guardiões estavam em seu percalço desde que embarcou no trem e apenas esperaram o momento correto para emboscar o maior número de fugitivos.

Alguém mais chorou com Offred quando o Comandante inicia o estupro de forma tão “romântica”? Ela sabe que sua única opção é flertar, ou poderia retornar sem vida para casa, porém, tenho certeza que Fred pouco se importa se ela responde às suas investidas ou não. Seu papel ali é o de corpo quente para que ele sinta prazer e nada mais. Mas, por que Offred e não outra das escravas sexuais que ele parecia conhecer tão bem? Estaria ele se divertindo ao brincar de seduzir a Handmaid? Tudo não passa de um jogo para alimentar seu ego e se sentir mais agigantado? Como já desconfiávamos, parece que a Offred anterior realmente se suicidou por algo que ele fez. A pergunta de Serena Joy é muito enigmática e cheia de significado escondido:

O que você pensou que iria acontecer?

É muito triste vermos a desconstrução de Moira. Antes de Gilead, era uma militante que jamais desistiria de lutar. Agora, após viver três anos como uma Jezebel, está conformada com sua posição e futuro fatalista. Prostituir-se é sua única alternativa ao trabalho forçado nas Colônias, onde sua morte estaria garantida. Pelo menos ali ela pode comer e beber do melhor antes de ser executada. Espero que não seja a última vez que vejamos Moira no presente, mas acho muito difícil qualquer cenário em que Offred consiga tirá-la do bordel.

A confirmação de que Nick é de fato um Olho e que sua missão é delatar o Comandante Waterford caso ele falhe ao seguir os preceitos da Gilead me causa espanto. Primeiro por ele ter mantido um relacionamento com Offred por tanto tempo e por ter contado tal informação tão levianamente. Ele não parece ser um seguidor da Gilead, apenas denuncia o outro Comandante como forma de conseguir prestígio e subir nos rankings dos Guardiões. Será que ele já planeja denunciar Fred e é esse o motivo de terminar com Offred? Teria ele apenas emulado possuir algum tipo de sentimento para usufruir do corpo da Handmaid? Quais são suas verdadeiras intenções nessa nova sociedade?

Por que Serena Joy dá um presente para Offred? Eu entendi que a caixa de música era um pretexto para que ela tivesse acesso a um espelho, mas, qual é a sua intensão em agradar a Handmaid? Ela não sabe sobre os encontros clandestinos com Nick, portanto a cumplicidade entre elas estaria resumida a aquela única tarde. Ela também não parece se sentir ameaçada, portanto, não está comprando a lealdade da criada. Esse gesto me deixou muito confuso, mas talvez sua função seja apenas funcionar como mote para eventos posteriores.

Os monólogos internos de Offred são sempre maravilhosos. O que testemunhamos aqui é uma transformação de atitude. Anteriormente, ela era mais passiva, resignada com seu papel e apenas fazendo o mínimo para sobreviver. Seu encontro com uma Moira desconstruída, a descoberta de sobrevivência de Luke e o termino de seu envolvimento com Nick parecem ter despertado uma vontade de lutar que não possuía antes. Entalhar a mensagem para alguém (uma próxima Offred?) é um ato de extrema rebeldia e estou ansioso para descobrir o que ela fará para não ser “esquecida”.

Eu entendo a escolha da trilha sonora, mas não estou totalmente de acordo. White Rabbit é, sem dúvida, perfeita para descrever a situação em que Offred entre em um mundo tão diferente do seu, como se ela fosse Alice chegando ao País das Maravilhas. Mesmo assim, eu preferiria Human Behavior da Björk. Ambas tem uma musicalidade similar e a voz das cantoras é bem parecida. A canção da caixa de música é do Lago dos Cisnes, talvez como forma de marcar a transformação de Offred de Cisne Branco para Cisne Negro.

O EVANGELHO DE GILEAD:

  • Jezebel é uma princesa fenícia que se casa com o Rei Acab de Israel. Ela era conhecida por praticar rituais de divinação pagãos e adorar ao deus Baal. Não há indícios de que tivesse uma conduta sexual devassa, mas, por ser uma mulher em posição de liderança, perseguir os seguidores de Javé e fazer de tudo para atingir seus objetivos, é conhecida popularmente por ser sedutora e sem escrúpulos morais.
  • Muitas das escravas sexuais de Jezebel eram profissionais de alta educação: advogadas, professoras universitárias, presidentes de empresas, etc. Ao invés de enviá-las para as Colônias, como fez com todas as outras que resistiram ao golpe, Gilead acredita ser uma punição mais “irônica” reduzi-las a prostitutas, obrigando-as a praticarem atos sexuais absurdos com homens e entre elas para o entretenimento dos Comandantes.

O EVANGELHO PERDIDO DE GILEAD: (diferenças entre a série e o livro)

  • No livro, Nick nunca admite ser um Olho. Offred desconfia dele, mas não temos essa confirmação.

The Handmaid’s Tale é exibida no Brasil pelo Paramount Channel aos domingos às 21:00, com reprise segunda às 23:30, quarta às 21:00, quinta às 09:20, sexta às 00:45, sábado às 22:40 e domingo às 09:15. Praise be!

Texto originalmente publicado no Apaixonados por Séries.


Paulo Halliwell
Paulo Halliwell
Professor de idiomas com mais referências de Gilmore Girls na cabeça do que responsabilidade financeira. Fissurado em comics (Marvel e Image), Pokémon, Spice Girls e qualquer mangá das Clamp. Em busca da pessoa certa para fazer uma xícara de café pela manhã.

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