Em mais um episódio impactante, The Handmaid’s Tale prova que sabe para onde está indo e como fará para prender nossa atenção. Sem medo de chocar, o segundo episódio conseguiu manter o folego do piloto, se aprofundando no histórico de seus personagens e nos mostrando um pouco mais de como é esse novo mundo. Vamos ver o que aconteceu em Birth Day. Praise be! (Louvado seja!)
Lembrando: Os clientes SKY pós-pago poderão degustar a programação do Paramount Channel de 9 a 18 de março; já os clientes Oi e Vivo terão a mesma opção de 7 a 19 de março.
ALERTA DE SPOILER: Este artigo contém informações sobre os principais acontecimentos do episódio. Continue a ler por sua conta e risco.
Conhecemos um pouco mais sobre o passado de Ofglen – Emily. Ela teria tudo para ser execrada pelo novo regime. Além de homossexual, era professora universitária de biologia celular. Como Offred – June, disse, todos os intelectuais foram enviados para realizarem trabalhos forçado nas Colônias limpando lixo tóxico. Ofglen só é poupada por ainda conseguir conceber.
Essa primeira conversa franca entre as duas é bem perturbadora por percebermos outros modos como Gilead se mantem no poder. Além de se livrar dos intelectuais – que poderiam tentar imbuir ideais revolucionários nas classes mais baixas, estão destruindo todos os monumentos religiosos que se opuseram ao governo. Vemos o desmanche da Catedral de Saint Paul e Ofglen sabe que a Catedral de Saint Patrick em Nova York também foi demolida. Todos os vestígios da igreja católica estão sendo apagados, de modo que apenas Gilead seja a religião existente.
Fiquei surpreso quando Ofglen se revelou uma rebelde. No piloto ela estava tão contida, cheguei a duvidar se não estaria fazendo um jogo duplo, mas agora, conhecendo uma história, faz todo sentido que faça parte de uma rede de resistência. Só gostaria que Ofglen tivesse se revelado um pouco antes, ou que tivesse tomado mais cuidado com as conversas: onde já se viu discutir esse tipo de assunto no portão tão próximo de quem quer que esteja lá? Alexis Bledel me surpreendeu. Certeza que ela aceitou o papel para provar que tem talento para ser mais do que a Rory e conseguiu.
Offred está fazendo um jogo muito perigoso com Nick e esses pequenos gestos de sedução. Se ela acha que conquistará a confiança dele dessa maneira, tenho certeza que sairá perdendo. Eu estou convencido de que ele seja um Olho. A forma como passou a instrução do Comandante, assim como alertou sobre Ofglen, me deixou bem desconfiado.
Importante notarmos o motivo do desespero pelo convite do Comandante. Mesmo que Offred seja estuprada mensalmente, é para fins de reprodução. As leis de Gilead proíbem expressamente que as Handmaids fiquem sozinhas com seus Mestres, pois sexo recreativo é entendido como fornicação e, portanto, pecado. Ao mesmo tempo, ela não pode simplesmente se negar a atender ao pedido, pois não possui o privilégio do livre-arbítrio. Ela é uma posse de Fred e, portanto, deve obedecer às suas ordens ou sofrer as consequências.
Esse dilema é interrompido pelo nascimento do bebê de Janine e o arranjo desse momento é tão surreal que é difícil descrever. Handmaids e Esposas se unem para ajudar umas às outras, assim como mulheres fariam antigamente, sem os avanços da medicina. Quando vemos a Esposa encenando o parto, precisamos perceber que, nesse regime, as Handmaids apenas portam os úteros dessas mulheres, que possuem posto social. Assim que a criança nasce, a Esposa recebe todos os créditos pelo esforço, sendo esse o motivo da encenação. Elas vivenciam através das Handmaids uma experiência que seus corpos jamais serão capazes de proporcionar e colhem os louros. Seria cômico se não fosse trágico.
O momento flashback nos leva ao momento em que June entra em trabalho de parto e testemunha a baixíssima taxa de sobrevivência pós-nascimento. Mas a parte mais importante é a ligação com a situação da perda da criança após o nascimento. Hannah quase foi sequestrada na maternidade por outra mulher cujo bebê nasceu morto. Janine teve uma criança saudável, mas a perderá para sua Mestra e não há nada que ela possa fazer, a não ser aguardar ser encaminhada para outra residência e ser emprenhada novamente. Se antes ficava a impressão de que ela estava lentamente perdendo a razão, ao cantar Three Little Birds, vemos que se trata de um mecanismo de escape daquela realidade. Janine sabe muito bem o que está acontecendo, mas ela precisa se convencer que tudo ficará bem, ou não sobreviverá.
Gostaria de notar que esse é o segundo episódio em que um personagem negro é introduzido e morre antes do fim. Espero que essa não seja uma tendência e eu precise fazer uma lista com os nomes…
Chegada a hora do encontro clandestino com Fred que só queria… jogar Scrabble (um jogo parecido com Palavras Cruzadas). Duvido que a intensão dele seja apenas se divertir. Ele usou esse momento para analisar seu novo alvo. Principalmente por utilizar um jogo de palavras, onde nossas convicções acabam sendo reveladas sem percebermos. A primeira palavra que Offred – alegremente/estupidamente – formou foi “Nação”. Eu teria trocado minhas peças. Também não gostei que ele a tenha convidado tão abertamente a quebrar as regras. Fred é um homem sagaz, ou ele não teria chegado ao posto que tem. Ele certamente está desconfiado de algo e as perguntas sobre seu paradeiro nas semanas futuros só devem ter confirmado qualquer dúvida que ele tinha.
E eu ainda estou com nojo do comentário “veja se você consegue me encaixar no seu horário”. Destaque feito pelo próprio personagem. Que nojo.
E a gente percebe que a série é incrível quando entrega aquilo que promete. Nós pensamos que teremos o primeiro momento de vitória, com Offred saindo vitoriosa para realizar suas tarefas na manhã seguinte. Ela não precisou fazer sexo com Fred, pensa que deixou Nick com ciúmes e ainda descobriu uma informação valiosa. Mas não demora nem dois minutos para levarmos uma voadora no peito e vermos que Emily foi substituída e outra Handmaid é agora Ofglen. Ninguém pode baixar a guarda aqui. Todo segundo estamos em perigo e ninguém está a salvo.
Podemos falar de como essa trilha sonora está maravilhosa? A inclusão de músicas seculares em momentos chaves está no ponto certo. Quando começou a tocar Don’t You (Forget About Me), eu vibrei. Mas mais do que isso, é na trilha instrumental e na utilização estratégica de silêncios que estão dosando o mistério e suspense, nos mantendo tensos até o último minuto do episódio. Que continuem assim! Segue a tracklist do episódio:
- Heyr himna smiður – Hildur Gudnadottir (antiga canção sacra islandesa)
- Three Little Birds – Janine canta para Angela (original de Bob Marley & The Wailers)
- Don’t You (Forget About Me) – Simple Minds
O EVANGELHO DE GILEAD:
- Ainda existe um resquício do que foi o Governo dos Estados Unidos, com base no Alaska. De acordo com Offred, a bandeira americana só tem duas estrelas agora. Imagina-se que se tratam do Alaska e Havaí ainda não tenham sido dominados, por causa do difícil acesso, apenas por água ou ar. Como os Gilead são contra tecnologia, provavelmente não utilizem barcos nem aviões.
- A região onde os Comandantes vivem é localizada onde ficava Boston. Ofglen diz ter se mudado para lá para estudar e as cenas de flashback mostram a linha de metrô de Boston.
O EVANGELHO PERDIDO DE GILEAD: (diferenças entre a série e o livro)
- A Ofglen do livro não tem passado e suas motivações não são explicadas. Todos os detalhes de sua via pré Gilead foram criados para a série.
The Handmaid’s Tale é exibida no Brasil pelo Paramount Channel aos domingos às 21:00, com reprise às segundas às 23:30 e aos sábados às 21:35. Praise be!
Texto originalmente publicado no Apaixonados por Séries.