Quando mais The Crown ia por avançar no tempo, mais ficava claro que a atração iria chegar na hora de tocar num dos momentos mais espinhosos da vida da Família Real britânica: a morte de Diana.
E na medida que a temporada 5 adentrava os anos 90, a grande questão que ficava era como os produtores iriam abordar o evento.
E o que era para ser, talvez, o grande final da temporada anterior, foi jogado para o sexto ano, onde com a divisão em duas partes, e agora, tendo assistido os 4 episódios iniciais que compõe a parte 1 fica claro que essa quebra tenha sido a melhor decisão para The Crown.
Afinal, o bloco inicial de episódios, funciona quase como um spin-off focado na Princesa de Gales e os meses anteriores à sua morte em 1997. O time de roteiristas não precisou correr para encaixar o acidente no final da temporada passada e teve também não precisou correr com ele nesse começo. Levou o tempo necessário para contextualizar, de forma certa, e com o auxílio dos episódios longos que a série sempre teve, o fim da jornada da carismática Princesa.
Sem correr o perigo de cair em um sensacionalismo e com um respeito gigante, a leva inicial de 4 episódios da temporada final de The Crown honra Diana, seu legado e sua história. E claro, Elizabeth Debicki tem a possibilidade de brilhar isoladamente aqui.
Se no quinto ano, a atriz (que foi indicada ao Emmy pelo papel) ainda estava um pouco eclipsada pelo trabalho de Emma Corrin como Diana na temporada anterior e todo o burburinho que o longa Spencer e a representação da Princesa por Kristen Stewart teve, aqui no sexto ano, e nesse bloco inicial, Debicki está um estouro, extremamente cativante e realmente mostra, e entrega, em uma das melhores, e senão, a melhor representação de Diana em qualquer formato de mídia.
A jornada da temporada passada da atriz com a personagem entregou momentos chaves de Diana, como a entrevista bombástica da Princesa para a BBC, e toda a trama o divórcio em si, onde tanto Debicki quanto Dominic West (de volta também como o Príncipe Charles) realmente estiveram muito bem. Mais aqui em The Crown temporada 6 – parte 1 é o momento de Debicki realmente entregar uma Diana, mais adulta, sem deixar a complexidade de lado, onde temos aqui ela fora da realeza, e alçada como símbolo mundial.
Fica claro que Debicki consegue demonstrar em sua atuação, que a fama veio, e cobrou um preço para a Princesa, sem dúvida. E isso fica muito claro no episódio 6×02 – Duas Fotos, quando temos as visitas de Diana para o iate de Mohamed Al-Fayed (Salim Daw), as fotos dela que a imprensa britânica pagava uma nota preta (na faixa de 200 mil dólares na época), e também o início do trelê-trelê que ela teve com o filho do magnata árabe, o empresário Dodi Al-Fayed (Khalid Abdalla, muito bem), que como sabemos, faleceu com a Princesa no acidente automobilístico em Paris.
Se o 6×02 causa um certo incômodo pelas atitudes dos paparazzi e a pressão descontrolada para uma foto da Princesa, também serve para pavimentar a trama, e nos preparar para o desfecho trágico do “casal”. O 6×03 – Dis-Moi Oui já avisa onde a trama vai parar. E volta até chegarmos nas cenas da abertura que o carro bate no meio do túnel. O episódio é angustiante e tenso, afinal, sabemos o que vai acontecer a cada momento que Diana e Dodi entraram em um dos carros e são cercados por fotógrafos em motos.
A dupla fica por perambular Paris, é do Hotel Ritz para o apartamento de Dodi, do apartamento de Dodi para o Hotel Ritz, do Hotel Ritz para o túnel onde tudo acabou para eles. E nesses intervalos, a série destrincha os acontecimentos dos momentos finais dessas pessoas, como a série sempre fez, e acerta mais uma vez na dramaticidade, e em recriar momentos privados que jamais saberemos o que realmente aconteceu e foi dito.
E mais uma vez, então nos basta a ficção e o trabalho de Peter Morgan para concluir as lacunas da história. De Dodi sendo pressionado pelo pai, para Diana seguindo os conselhos da terapeuta e deixando o drama de lado e se concentrando em ser adulta, na conversa com os filhos pelo telefone, para a discussão dos dois, após Dodi ter feito a proposta de casamento.
The Crown leva seu tempo para nos dar, e dar para os dois, esse tempo e não ficar correndo com a trama. E depois do choque que é todo o 6×03, o 6×04 – Consequências volta a focar na família Real, nos acontecimentos desde do anúncio da notícia do acidente, onde achei extremamente respeitoso a forma como as falas dos personagens foram silenciadas, por que nem na ficção dá para se imaginar como foi dar a notícia que Diana tinha falecido.
Das reações individuais de todos, desde da Rainha Elizabeth (Imelda Staunton, gigante), do Príncipe Phillip (Jonathan Pryce), de Charles (West), e dos Principes Harry (Fflyn Edwards) e William (Rufus Kampa), o episódio leva seu tempo também para mostrar as consequências e o depois da morte de Diana.
O episódio volta a bater na tecla de um tema que já foi tratado na atração e basicamente um dos mais frequentes debates que The Crown oferece: sobre a frieza da monarca em situações críticas como essa, e do comportamento da família real em relação à morte da Princesa.
Claro, as cenas com os personagens (Charles e Elizabeth) vendo o fantasma de Diana deve polarizar a audiência, onde eu particularmente, achei uma decisão errada da parte da série, e talvez, umas das poucas coisas que não achei que foi o correto de se fazer que a série teve ao longo dos anos, mas mesmo assim, as curtas cenas, dá a chance para todos os atores, mais uma chance de terem interações uns com os outros que, de certa forma, entregam diálogos e debates interessantes.
Assim, a leva inicial termina, fecha o capítulo de Diana, um dos mais importantes da história que The Crown tinha para contar. A atração agora deve avançar no tempo para finalizar a narrativa dessa família, principalmente agora com o peso da morte da Rainha Elizabeth nas costas.
A leva final de episódios promete e muito, e fica claro que The Crown deve manter o tom e entregar episódios arrebatadores, como sempre foi.
Os 4 episódios que compõe a parte 1 da temporada 6 de The Crown estão disponíveis na Netflix. A leva final chega em 14 de dezembro.