sexta-feira, 22 novembro, 2024
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Tenet | Crítica: Megalomania de Nolan em um ousado e espetacular filme de ação

Eu tenho apenas uma palavra para vocês: Tenet. E munido com minha máscara, meu álcool em gel, e apenas essa palavra fui assistir Tenet (2020), o novo filme do diretor Christopher Nolan, que enfim chega no Brasil.

Depois de inúmeras polêmicas ao longo do ano, como aquela de quando o filme lançaria nos cinemas, a surreal história das cadeiras no set, ou se a produção seria o primeiro filme da pandemia ou não…enfim, mesmo depois de tudo que aconteceu, Tenet finalmente desembarca no Brasil. E realmente é um longa sobre o tempo, que fala sobre o tempo, e que no final, é um filme sobre o tempo em si.

Em Tenet a palavra-chave é mesmo o tempo, o tempo que nós vivemos, em plena pandemia global, o tempo que gastamos ao falarmos sobre do filme, e também sobre o tempo que levamos ao assistirmos o longa para tentarmos compreender e juntar todas as peças que Nolan nos entrega e apenas fala: monta ele aí você, parceiro.

Tenet – Crítica
Foto: © 2020 – Warner Bros. Pictures

Tenet faz aqui um espetacular, grandioso e explosivo quebra-cabeça, no maior estilo Christopher Nolan que consegue ser. E chega pronto para dar um nó na cabeça do espectador, mais uma vez, assim como foi com A Origem (2010), e Interstellar (2014). Tenet não é um filme fácil de se entender logo de cara, onde tudo faz parte da composição para criar essa ambientação mais conspiratória, e cheia de conexões e reviravoltas.

Desde do nome do filme formado por um palíndromo – que por definição pode ser uma palavra, frase ou qualquer outra sequência de unidades que tenha a propriedade de ser lida tanto da direita para a esquerda como da esquerda para a direita – até como primeira data de estreia nos EUA, 7.17 (no formato de data americano), e o seu protagonista, o talentoso John David Washington, que não tem nome e é tratado o tempo todo como apenas O Protagonista e que acaba por refletir também sobre os novos tempos que vivemos em Hollywood com o aumento da diversidade. Tudo isso, deixa o longa ficar cercado de mistério o tempo todo.

E em Tenet é isso, um filme marcado por esse caminho cíclico onde as coisas começam e terminam no mesmo ponto, mas ao mesmo tempo, também terminam completamente diferentes da forma que começaram. No filme, tudo tem um motivo para acontecer e estar lá. E grande parte da graça do longa é prestar atenção nos pequenos detalhes, apenas absorver a informação e não ficar preso nelas muito tempo, afinal como tempo, o longa passa, e novas informações surgem.

Por conta das 2 horas e 30 minutos mais ou menos, Tenet faz um filme que leva um tempo para ambientar o espectador, seja na trama, com os personagens, ou com a grande e mirabolante história que Nolan quer contar e apresentar. Tenet parece ser um filme que se perde na megalomania de seu diretor que ao mesmo tempo pára e explica muitas coisas, e em outros momentos ele nos deixa a mercê da sua própria história. Sem dúvidas, Tenet é um filme para se assistir inúmeras vezes nos cinemas. Mas no meio de pandemia? Fica difícil.

Esse texto parece andar em círculo ao falar sobre o filme, e sua trama, mas não se enganam Tenet é um espectáculo empolgante sem sombra de dúvidas. Os seus primeiros 15 minutos são tão intensos e barulhentos, ao mostrarem uma perseguição dentro de uma Casa de espectáculo, que quando os créditos iniciais passaram, e parei por alguns segundos e pensei: Como é bom estar de volta aos cinemas!.

Mas no meio disso tudo, em que eu lambia minhas feridas por estar de volta para uma sala de cinema depois de 7 meses, e curtindo meu sentimento de nostalgia, um filme de ação desenfreado acontecia. Entra O Protagonista, onde Washington realmente rouba todas as atenções para si, como um oficial da CIA que recebe uma missão de uma organização secreta que precisa combater uma ameaça que promete acabar com todo o mundo. E nisso, é a gente, como espectador, ao lado do Protagonista, onde precisamos enfrentar a amalucada trama de Tenet que se abre como um leque, onde ambos tentamos entender os conceitos de física que a personagem da cientista (a atriz Clémence Poésy da franquia Harry Potter) tenta explicar e fala para gente não perder muito tempo tentando entender nada que ela fala e que é “apenas para sentir”.

E assim, Tenet passa esse sentimento de que é que como se Nolan estivesse do nosso lado (2 metros por conta do distanciamento social) e falasse: vai que no caminho eu explico. Em Tenet, o conceito é não ser viagem no tempo, e sim, uma coisa nova chamada inversão. Uma manipulação da realidade em tempo real chamado de reversão do fluxo do tempo, que nos é apresentada ao vermos a arma de uma bala saltar para a arma em vez de ser colocada. É como se estivemos vendo os acontecimentos de uma forma reversa, ao contrário, mas que acontecem no mesmo tempo que o nosso tempo tradicional. Confuso, não é?

E talvez aí que Tenet sofra um pouco, afinal, além de Nolan precisar apresentar os personagens, as ameaças, quem é o vilão, quem são os mocinhos (se é quem eles existem!), e o que eles buscam, precisa também deixar o espectador ciente do que é e como funciona a tal da inversão. E para isso, é como se Tenet fosse criando suas próprias regras e sua própria história ao longo do filme. É como Nolan escrevesse o roteiro de Tenet na nossa frente enquanto vemos o filme. Primeiro precisamos aprender o que é inversão para depois vermos, ela na prática, em tela, coisa que demora, e só chega efetivamente a ganhar força nos momentos finais do filme.

E no meio disso tudo temos explosões adoidado, desde de aviões gigantescos, até prédios, perseguições alucinantes, e claro, uma busca pelas peças que formam o tal do algoritmo que foi criado lá no futuro para as pessoas daquela época usarem a tal de inversão. Ao receber as informações do futuro, o magnata do crime Andrei (Kenneth Branagh) quer acabar com o mundo, e cabe a organização Tenet o impedir. 

E para isso, Tenet mistura então inversão e viagem no tempo propriamente dito, e como falamos, monta esse quebra-cabeça tão grandioso, tão complexo, que por minutos achamos que Nolan, e a gente mesmo, possa se perder. A cada momento que eu penso em alguma coisa do filme, ele me leva para outra e outra e mais outra, num grande espiral. Assim, junto com O Protagonista, seu colega Niel (Robert Pattinson) e a organização misteriosa Tenet precisamos chegar no chefão russo e para isso eles usam uma vantagem, a esposa dele, a negociadora de artes Kat (Elisabeth Derbicki). Mas a trama de Tenet não é tão simples assim, quem dera fosse, afinal a relação dos dois é tão tumultuada, tão tóxica e explosiva quando os objetos que Nolan explode no filme. 

Tenet – Crítica
Foto: © 2020 – Warner Bros. Pictures

Esse quarteto de atores principais realmente estão muito bem e realmente foram escolhidos a dedo por Nolan, não vejo outras pessoas os interpretando. Todos têm um papel tão fundamental, e estão tão intrinsecamente ligados e conectados com a missão e com tudo que Nolan quer contar que realmente só em termos atores tão talentosos juntos no mesmo projeto é uma coisa muito bonita de se ver. 

E desde das diversas locações, seja no deserto, no mar, em terra e em diversos locais do mundo, até mesmo a trilha sonora do premiado Ludwig Goransson serve para dar o tom do ritmo alucinante que é o filme, mesmo que também dá para perceber que Tenet se perde nisso tudo por não saber efetivamente dar uma polida em sua história. É tudo tão uau que poderia ser um pouco menos. Mas não dá negar que Tenet é uma aposta ousada tanto de Nolan, quanto da Warner Bros que foi severamente prejudicado por questões de bastidores e por coisas fora do alcance de todos os envolvidos. Tenho certeza que Nolan gostaria que ele mesmo tivesse uma reversão no tempo para conseguir ir para o futuro, ou passado, onde seu filme pudesse ser lançado de uma outra forma.

Toda a grandiosidade de Tenet apenas mostra que ainda temos um cinema bem autoral da parte de Nolan e que mesmo que com Tenet ele não esteja no seu ápice, o diretor sabe novamente entregar e contar uma boa história com altas doses de piração que farão os fãs surtarem e passarem horas tentando unir as peças nas redes sociais e nos fóruns de discussão.

E no final, em resumo, fica claro que com Tenet, Nolan consegue novamente fazer isso que fez com seus outros projetos, e entrega um filme visualmente espectacular e de brilhar os olhos. Uma pena que estamos no meio de uma pandemia que não conseguimos aproveitar como deveríamos. Um problema de tempo no final das contas.

Avaliação: 3.5 de 5.

Tenet chega nos cinemas nacionais em 29 de outubro.

O ArrobaNerd viu o filme em uma sessão para jornalistas feita pela Warner Bros. que seguiu todas as regras e recomendações das equipes de segurança.

 Recomendamos o leitor, se for encarrar a visita ao cinema, se proteger e seguir todas as recomendações de segurança contra o COVID-19 impostas pelas organizações de saúde.

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Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
Sempre posso ser visto lá no Twitter, onde falo sobre o que acontece na TV aberta, nas séries, no cinema, e claro outras besteiras.  Segue lá: twitter.com/mpmorales

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