Particularmente acho a atriz Alison Brie muito talentosa para comédia e tem um timing cômico muito afiado. Mas em Somebody I Used to Know (2023) não vi nada disso, e o longa me decepcionou de várias formas e por vários motivos.
É impressionante, parece que toda vez que Brie trabalha com o marido Dave Franco, o projeto é um que varia entre 8 ou 80. O humor dos dois é um que me agrada normalmente, mas é aquilo, é muito de acerto e erro. E aqui, infelizmente, temos um erro.
Conhecida pelo seu papel na série Community, Brie já passou por diversos outros projetos e literalmente entrega uma fórmula para seus personagens: garotas bonitinhas, irritantes e que sempre fazem alguma peripécia aqui e ali. E como falamos é acertar ou errar. E depois de acertos na série Glow, no cativante Entre Realidades, Brie erra e muito com Somebody I Used to Know.
É quase como se fosse um desperdício do talento da atriz. E nem dá tirar o cavalo dela da chuva, e passar um pano, por que afinal, Brie está mais envolvida com o projeto do que apenas ter aparecido no set de filmagem, gravado suas cenas, e beijo, tchau. Brie e Franco cuidaram do roteiro e que para mim foi o que mais me puxou para não se sentir abraçado pela história e pelo filme de maneira geral.
Somebody I Used to Know tinha tudo para ser bom. Poderia ser uma comédia pastelona, dos anos 2000 e tudo mais, mas não é, tinha tudo para ser um bom drama, com questionamentos maravilhosos sobre relacionamentos e tudo mais, mas também não é, fica ali no meio termo, ser identidade, sem saber o que quer ser, e o que quer apresentar, e tudo isso se dá pelas más escolhas narrativas que o longa se encaminha.
A direção de Franco aqui é até bem inspirada, mas nada muito marcante ou com uma assinatura que se destaca. Cumpre seu papel. Particularmente, depois do The Rental (2020) que Brie e Franco trabalharam juntos, parece que os dois não conseguem ter um distanciamento sobre as ideias de seus projetos, e o que eles efetivamente fazem, onde com os dois no mesmo projeto, não rola de um ter aquele olhar de fora para dar um toque e falar: Amor isso não tá bom.
Somebody I Used to Know flerta com várias possibilidades e sempre acaba por escolher a pior delas para todos os personagens e para a trama de maneira geral. Nem quando o roteiro nos entrega passagens das mais surtadas, como um gato vomitando em um avião, pessoas entrando em cômodos com outras em momentos românticos, ou pessoas correndo peladas num campo de golfe, Somebody I Used to Know consegue se destacar, por que como falei, são momentos de puro constrangimento que não combinam com o tipo de filme e a temática dos assuntos tratados.
O que temos é uma jornada da viciada em trabalho, a produtora de TV Ally (Alison Brie) que retorna para sua cidade natal quando seu bebê, um reality show de gosto duvidoso, é cancelado de uma hora para outra, e ela se encontra com um ex-casinho de adolescência Sean (Jay Ellis). Assim, entre uma bebida e outra, eles passam a noite por colocar o papo em dia e tudo mais. Ally e Sean flertam com a possibilidade do caminho não percorrido, ou seja, como eles estariam agora, como um casal, se não tivessem se separado há tantos anos atrás.
Mas como uma boa estrutura de comédia romântica, o único problema que esses dois tem pela frente é que Sean está noivo da jovem Cassidy (Kiersey Clemons), uma garota que lembra muito para Ally, a pessoa que ela já foi um dia.
Somebody I Used to Know então navega por essas questões até bem interessantes sobre identidade, ir atrás de nossos sonhos, e tudo mais, mas tudo é contado de uma forma que fica em cima do muro sobre como quer ser contado.É a pior opção que Franco e Brie poderiam ter encontrado para contar essa história. Brie, claro, mantém em Ally seu DNA de entregar uma personagem completamente irritante e que você não consegue tomar partido ou até mesmo querer defender. E ao assistir o filme, fica claro, que a gente sabe que atriz consegue entregar um trabalho melhor, coisa que não é o caso aqui.
O mesmo vale para o Sean de Ellis, o ator realmente nos consegue vender seu personagem como uma pessoa comum, ordinária, e ficamos nos perguntando: O que essas duas mulheres veem nele? Talvez esse seja um excelente caso de uma boa atuação para um personagem completamente ruim.
Nem a mini reunião de Community, com Brie e Danny Pudi, em tela, mais uma vez, ajuda a salvar o longa. Pudi interpreta um amigo da família, que até boas falas e até entrega boas passagens. Mas tudo fica meio jogado no meio da trama. O mesmo vale para a participação curta, e com poucas cenas, de Haley Joel Osment como um membro da família intrometido. Esses atores, e suas participaçoes, estão jogadas no furacão narrativo fora de controle que o texto de Franco e Brie nos apresenta essa história e esses personagens.
Por outro lado, Somebody I Used to Know não cai no clichê de entregar um longa sobre rivalidade feminina, elas até disputam a atenção de Sean, mas ao colocar Cassidy e Ally para serem “amigas” lá mais para frente, quando a nossa protagonista vai passar o final de semana do casamento dos pombinhos, juntos com eles, a pedido da mãe de Sean, Jojo (Olga Merediz), o filme consegue não levar a trama para um caminho que definitivamente não seria legal de se assistir. Assim, um dos poucos acertos do longa, acaba por ser mesmo esse cuidado do roteiro com algumas questões que poderiam soar problemáticas, num filme que eu já considero problemático.
No final, Somebody I Used to Know acaba mesmo por ser completo um caos, e nem digo isso no bom sentido. Cheio de oportunidades não aproveitadas, tramas em potencial que não vão para lugar nenhum, e que infelizmente entrega um filme completamente esquecível.
Onde assistir Somebody I Used to Know?
Somebody I Used to Know chega em 10 de fevereiro no Prime Video.